Por: André | 23 Setembro 2015
Pelo fato de ser muito popular nos Estados Unidos e estar acima das divisões entre os católicos, o papa poderia insuflar um novo dinamismo à Igreja americana, estima o Pe. Matt Malone (foto), redator-chefe da revista jesuíta America.
Fonte: http://bit.ly/1OuiFyS |
A entrevista é de Céline Hoyeau e publicada por La Croix, 20-09-2015. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
O papa começa uma viagem histórica aos Estados Unidos, marcada por dois grandes discursos, no Congresso americano e na sede da ONU. Para você, qual é o alcance da sua viagem?
O papa vem falar à América e ao mundo. Ele chega aos Estados Unidos como o representante dos católicos do mundo em um país em que os católicos são a maior denominação cristã.
Nos últimos anos, nós nos dividimos sobre algumas questões da sociedade e eu penso que sua presença aqui será uma força de unidade. Ele é especialmente muito popular entre os católicos. Ele vem aos Estados Unidos como o defensor do Sul, o paladino dos marginalizados, dos países em desenvolvimento.
A América é a capital do capitalismo mundial e seus discursos na ONU e no Congresso serão uma ocasião para falar em nome de todos os países em desenvolvimento, na própria sede dos maiores atores da economia mundial.
De modo especial, a América está dividida em relação à imigração, ao aquecimento global, e o papa abunda suas críticas ao capitalismo americano. Você acredita que ele vem para questionar, ao menos implicitamente, o “American way of life”?
A chave para compreender a sua mensagem é a sua descrição da cultura do descarte, esta noção que ele retoma em sua encíclica Laudato si’: na nossa sociedade, consideramos como não desejáveis e facilmente descartáveis determinadas pessoas ou recursos, porque não satisfazem as nossas necessidades individuais específicas. E o papa é muito crítico em relação a isso.
Ele vê o tratamento dado aos migrantes, o tratamento dos pobres, dos marginalizados, os abortos, como tantos outros aspectos desta cultura do descarte. Ele vem chamar a nossa atenção para o fato de que imigração, a defesa da vida humana, do ambiente não são simplesmente questões políticas, mas que elas dizem respeito a pessoas bem reais, criadas à imagem de Deus. É sua mensagem fundamental desde que é papa e é o que ele vem, muito provavelmente, recordar à América.
Nesta América muito dividida sobre essas questões, os católicos não são exceção, nem mesmo os bispos que travam uma batalha nos últimos anos sobre o casamento homossexual, a liberdade religiosa...
É interessante constatar que os católicos americanos, muito divididos em relação a essas questões, às vezes muito fortemente, estão universalmente de acordo quando se trata do papa. Eles realmente o amam e vão em bloco atrás dele.
Não que eles o apóiem necessariamente em razão deste ou daquele tema – são ensinamentos em si bastante semelhantes aos de seus antecessores –, mas porque eles veem um tipo diferente de pastor em ação, alguém que tem um coração aberto, cuja alegria é claramente visível, que é livre e se parece mais ou menos com o seu pároco.
O que estimula os americanos é sua personalidade, seu estilo pastoral. Ele não se situa no confronto, mas no encontro. E isso é importante, hoje, para o engajamento dos católicos americanos na esfera pública, sem o que eles correm o risco, em todos esses temas, de se refugiar em sua cidadela sitiada.
Nos Estados Unidos, o catolicismo se mantém bem, particularmente porque as saídas são compensadas com a chegada de imigrantes hispânicos. No entanto, está a Igreja americana ameaçada pela secularização?
É significativo o fato de que o papa vá para a costa leste, para a Filadélfia, Washington, e Nova York, para essas regiões mais antigas do país, ali onde a Igreja trava batalhas maiores em razão das mudanças demográficas, da crise dos abusos sexuais...
Há outras regiões do sul, do sudoeste, onde a população é majoritariamente hispânica, onde a Igreja é bem mais dinâmica, viva e em crescimento. Em Houston, no Texas, são erguidas igrejas que rapidamente ficam pequenas... A viagem do papa é uma ocasião para mobilizar novamente os americanos dessas regiões em que a Igreja tem menos energia.
Penso que a evangelização consiste, para os católicos americanos, em ser alegre para falar de sua fé no espaço público, para partilhar sua experiência de cristãos mais livremente, mais cotidianamente.
Eles têm a tendência de ficar na retaguarda, porque o catolicismo do país foi moldado por imigrantes da Europa ocidental que tinham uma relação muito conflitiva com a cultura dominante protestante. Eles eram reticentes para falar da fé no espaço público. Não por medo de serem rejeitados, mas simplesmente porque no inconsciente coletivo católico isso não se fazia.
O Papa Francisco é o homem que pode ajudá-los a se darem conta mais livremente de sua alegria de cristãos.
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“O Papa chega aos Estados Unidos como o defensor dos pobres”. Entrevista com Matt Malone - Instituto Humanitas Unisinos - IHU