11 Julho 2015
Quando o Encontro Mundial das Famílias anunciou sua lista de palestrantes para a sua edição na Filadélfia em setembro, alguns ficaram surpresos ao ver o nome de Rick Warren entre os convidados.
O texto é de Jamie Manson, editora e mestre em Teologia pela Yale Divinity School, publicado pelo National Catholic Reporter, 08-07-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Warren é uma das principais vozes evangélicas nos Estados Unidos, e o Encontro Mundial das Famílias, organizado pelo Pontifício Conselho para a Família, é o maior encontro católico do mundo para as famílias.
Warren irá se juntar ao Cardeal Sean O’Malley para proferir uma palestra intitulada: “A Alegria do Evangelho da Vida”.
Claro, esta não é a primeira vez que Warren participa de um evento promovido pelo Vaticano. Em novembro, ele foi convidado para falar sobre o “significado bíblico do matrimônio” no evento: “Complementaridade do Homem e da Mulher: Um Colóquio Internacional”. (Uma foto de Francisco e Warren apertando as mãos na conferência ainda circula na internet.)
Assim que Warren defendeu a definição de casamento como sendo composto por “um homem e uma mulher” no colóquio, o colunista David Quinn, do jornal Irish Independent, tuitou: “Provavelmente a primeira vez na história que o salão sinodal se assemelhou a um encontro de avivamento!”
Austen Ivereigh também comentou sobre a recepção de Warren dentro do Vaticano, tuitando: “Enorme ovação para @RickWarren. Um grande pregador”.
Warren não era o único evangélico dos Estados Unidos a falar no colóquio. Ele esteve acompanhado por Russell Moore, presidente da Comissão pela Liberdade Religiosa e Ética Batista do Sul (Southern Baptist Ethics & Religious Liberty Commission).
E, sentado entre os participantes do evento no Vaticano, estava Tony Perkins, presidente do Conselho para Pesquisa sobre a Família (Family Research Council), grupo cuja retórica anti-LGBT é tão falsa que o Southern Poverty Law Center o apelidou de “grupo de ódio”.
Este não é o primeiro encontro do Papa Francisco com conservadores evangélicos. Em março de 2013, escrevi sobre a popularidade do Cardeal Bergoglio entre os evangélicos argentinos.
No dia seguinte à sua eleição, uma manchete na Christianity Today, revista cristã conservadora, declarou: “Os evangélicos argentinos dizem que Bergoglio como Papa Francisco é uma ‘resposta às nossas orações’”.
O artigo dizia: “As relações entre os evangélicos e os católicos são muito melhores na Argentina do que em outros países latino-americanos. (...) Nos últimos 10 anos, Bergoglio tem desempenhado um papel central no movimento Comunhão pela Renovação dos Católicos e Evangélicos no Espírito Santo”. Ele também relatou o profundo apoio de Bergoglio para a Sociedade Bíblica Argentina.
Um segundo artigo na Christianity Today, publicado um dia após a eleição de Francisco, apresentava uma entrevista com Luis Palau, um importante pregador evangélico que imigrou da Argentina para os Estados Unidos há 50 anos.
Palau detalhou a sua amizade de longa data com Bergoglio, dizendo: “Para a comunidade evangélica, foi um grande dia quando percebemos que ele, realmente, estava aberto, que ele tem um grande respeito pelos cristãos que creem na Bíblia e que ele, basicamente, fica do lado destes”.
Em quase dois anos e meio de pontificado, Francisco continua a acolher os evangélicos, em particular os dos Estados Unidos. Em março de 2014, ele saudou a família Green, os “bilionários de Oklahoma cuja empresa, Hobby Lobby, levou até a Suprema Corte um caso contra o artigo proposto pelo governo Obama de conceder métodos contraceptivos artificiais aos funcionários”.
E em junho de 2014, ele até mesmo se encontrou com o televangelista Joel Osteen.
Segundo o National Catholic Reporter, o encontro com Osteen “fazia parte de um encontro maior coordenado pela International Foundation, também conhecida como ‘Fellowship’. Osteen esteve acompanhado pelo senador mórmon Mike Lee, de Utah; pelo pastor californiano Tim Timmons; e por Gayle D. Beebe, presidente da Westmont College, instituição evangélica”.
Francisco continuou a receber evangélicos americanos no final daquele mês. Em 24 de junho de 2014, em uma reunião que o National Catholic Reporter disse “tender particularmente para o lado do cristianismo carismático”, o papa se encontrou com “Anthony Palmer, bispo e autoridade do movimento ecumênico internacional independente Comunhão de Igrejas Evangélicas Episcopais; com Geoff Tunnicliffe, secretário da Aliança Evangélica Mundial; e John e Carol Arnott, da Catch the Fire/Toronto, igreja que cresceu a partir de um reavivamento pentecostal há 20 anos”.
Se você acha que esses momentos aconteceram durante grandes audiências, pense novamente. Reportagens publicadas no National Catholic Reporter incluem uma foto do Papa Francisco cumprimentando o televangelista texano James Robison enquanto partilhavam de uma refeição, ao passo que o também televangelista texano Kenneth Copeland foi fotografado rezando pelo papa.
Embora seja verdade que os evangélicos e católicos compartilham de uma crença fundamental segundo a qual Jesus é o filho de Deus, os seus laços teológicos não são tão profundos e as suas tradições diferem nitidamente. Atualmente, eles estão, é claro, unidos em uma missão comum: a “defesa da família” ou “a defesa do casamento tradicional”.
Se há um conjunto de convicções que o Papa Francisco e os evangélicos americanos compartilham com fervor, ele pode ser resumido assim: o casamento é entre um homem e uma mulher, os filhos devem ter um pai e uma mãe, e papéis rígidos de gênero fazem parte do plano divino para a humanidade.
Uma rápida olhada na lista de workshops a acontecer no Encontro Mundial das Famílias deixa claro que essas ideias serão predominantes. (Sessões sobre o casamento “tradicional”, a complementaridade, a liberdade religiosa e celibato obrigatório para os gays e lésbicas são abundantes.)
Visto as muitas amizades do Vaticano com representantes evangélicos afluentes e visto a urgência da causa que partilham em comum, é de se maravilhar que Rick Warren seja o único evangélico convidado a falar no evento.
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Os laços profundos do Papa Francisco com os evangélicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU