23 Junho 2015
As pessoas de fé precisam se centrar nos elementos morais e espirituais da crise provocada pela rápida mudança climática, disse o arcebispo de Cidade do Cabo, Dom Thabo Makgoba, presidente da Rede Ambiental da Comunhão Anglicana, em resposta à encíclica do Papa Francisco sobre o assunto.
O texto foi publicado pela Anglican News, 18-06-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em um comunicado emitido logo após a publicação da encíclica, o arcebispo disse: “Eu gostaria de agradecer ao Papa Francisco por esta carta encíclica histórica, inovadora. Estou ansioso para estudá-la em detalhes.
“Em toda a África e em outros países em desenvolvimento, já estamos sofrendo os impactos das mudanças climáticas, e as pessoas mais afetadas pelas secas severas ou fortes tempestades encontram-se em nossas comunidades mais vulneráveis.
“Em nossa própria província, na região sul da África, os moçambicanos foram recentemente surpreendidos por enchentes. Na Namíbia, a seca levou a indústria do gado – da qual sete em cada 10 namibianos dependem para a subsistência – a declarar estado de emergência, com o governo está pressionando os agricultores a vender o seu gado.
“A nossas igrejas irmãs no Conselho de Províncias Anglicanas da África têm histórias semelhantes. E, em uma recente consulta aos bispos que atuam nas partes mais vulneráveis do mundo, ouvimos relatos sobre algumas mudanças nas estações, sobre um aumento dos níveis do mar, a acidificação da água do mar, zonas de pesca esgotadas e de “refugiados climáticos” – pessoas deslocadas pelas mudanças no clima.
“Embora não devamos ignorar as considerações políticas, econômicas, sociais e científicas, como as pessoas de fé temos de nos concentrar nos elementos morais e espirituais desta crise. As preocupações seculares e religiosas não se excluem mutualmente.
“Os valores de dignidade e justiça estão no cerne de como respondemos à crise. A forma como cuidamos do meio ambiente está estreitamente ligada à forma como valorizamos os nossos companheiros seres humanos.
“Não só isso, pois tem a ver também com a maneira como valorizamos o resto da criação de Deus e tratamos os recursos que Ele nos confiou. O Papa Francisco evoca isto lindamente quando cita a maneira como São Francisco de Assis comungava com toda a criação, pregando até mesmo para as flores e, ao se dirigir ao Senhor, como ele se referia ao nosso planeta como ‘nossa Irmã, a Mãe Terra, que nos sustenta e governa’.
“Saúdo especialmente a maneira pela qual o Papa Francisco sublinhou a atenção que tem recebido aquilo que chama de ‘as raízes éticas e espirituais dos problemas ambientais’, exigindo ‘que busquemos por soluções não só na tecnologia, mas também com uma transformação da humanidade; caso contrário, poderemos estar lidando apenas com os sintomas’.
“Ao chamar a atenção aos elevados níveis de consumo, à ganância e ao desperdício em nosso mundo – coisas que vemos tanto nos países desenvolvidos quanto entre os ricos nos países em desenvolvimento –, a encíclica deixa claro que precisamos adotar estilos de vida mais simples, mais saudáveis.
“Se, em resposta à crise atual, tomarmos medidas proporcionais ao problema, poderemos melhorar não só a nossa vida espiritual – independentemente se somos pobres ou ricos em termos materiais – como também trazer enormes benefícios práticos aos mais pobres nos países em desenvolvimento.
“Junto-me a Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, quando ele desafia os líderes nas negociações climáticas em Paris, no mês de dezembro, a demonstrarem a mesma liderança moral e ética”.
Leia aqui a nota “The World Is Our Host: A Call to Urgent Action for Climate Justice”, escrita pelos bispos da Comunhão Anglicana, que se reuniram na Cidade do Cabo entre os dias 23 e 27 de fevereiro deste ano para debater as mudanças climáticas.
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Presidente de rede ambiental anglicana saúda a nova encíclica do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU