06 Março 2015
Nesta quinta-feira, 5 de março, às 20h45, na Igreja Evangélica Metodista de Novara, Itália, será realizado um encontro com a teóloga feminista Elizabeth E. Green, que vai refletir sobre o tema "Mulher, por que choras? (Jo 20, 13) Cristianismo, Igrejas e violência contra as mulheres".
A reportagem é de Marta D'Auria, publicada no sítio Riforma.it, 04-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Elizabeth E. Green, atualmente pastora da Igreja Batista de Grosseto, ex-vice-presidente da Associação Europeia de Mulheres para a Investigação Teológica, publicou pela editora Claudiana de Turim: Lacrime amare. Cristianesimo e violenza contro le donne (2000); Il Dio sconfinato. Teologia per donne e uomini (2007); Dal silenzio alla parola. Storie di donne nella Bibbia (2007); Il vangelo secondo Paolo. Spunti per una lettura al femminile (2009); Il filo tradito. Vent’anni di teologia femminista (2011).
Eis a entrevista.
"Mulher, por que choras?" são – segundo o Evangelho de João – as primeiras palavras pronunciadas por Cristo ressuscitado. O que expressa essa pergunta?
Eu acredito que o evangelista João quer enfatizar que Jesus dirige essa pergunta a uma mulher porque ele mesmo era capaz de expressar emoções e chorar. Em outro capítulo do quarto Evangelho, de fato, nos é dito que Jesus chorou pela morte do querido amigo Lázaro. As Igrejas, infelizmente, ao longo dos séculos, não mostraram a mesma sensibilidade ao pranto das mulheres nem a uma de suas causas: a violência masculina.
Quando as mulheres começaram a se interrogar sobre o nexo entre violência masculina e cristianismo?
A reflexão começou durante a Década Ecumênica de Solidariedade com as Mulheres (1985-1995), na conclusão da qual ficou claro que o que unia as mulheres de todas as regiões, as confissões e as camadas sociais era a violência masculina. A Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim, há 20 anos, declarou que "a violência contra as mulheres é uma manifestação das relações historicamente desiguais entre os homens e as mulheres que levaram à dominação e à discriminação contra as mulheres pelos homens e constitui um obstáculo para o pleno progresso das mulheres". Portanto, para descobrir o nexo entre cristianismo e violência contra as mulheres, é preciso ver de que modo ele contribuiu para a construção de tais relações desiguais. Eu não estou dizendo que o cristianismo criou esse desequilíbrio, mas certamente veiculou ideias que, construindo poderosos estereótipos de gênero, permitiu a violência contra as mulheres.
De que modo o cristianismo contribuiu para tornar assimétricas as relações entre homens e mulheres dentro das quais ocorre a violência?
No meu livro Lacrime amare [Lágrimas amargas], eu identifiquei alguns aspectos do pensamento cristão que legitimaram a violência contra as mulheres, por exemplo: a subjugação ou subordinação das mulheres, a pecaminosidade feminina, o sofrimento como fonte de salvação, a imagem de Deus Pai, uma mensagem distorcida do amor e do perdão cristãos veiculada por expressões como "o amor suporta tudo", "carregar a própria cruz" e, finalmente, o silêncio.
Quanto a este último aspecto, em particular, as Igrejas, exortando as mulheres a se calarem, não só contribuiu para criar aquela cultura do silêncio que envolve toda forma de violência contra as mulheres, não só não conseguiu elaborar uma visão do corpo e da sexualidade que ajudasse meninas e mulheres a serem mais conscientes de si mesmas, mais capazes de resistir à violência masculina, mas elas mesmas também mantiveram o silêncio sobre a violência contra as mulheres, tornando-se cúmplices. Pois bem, ao longo dos séculos, o cristianismo contribuiu, e ainda contribui em alguns contextos, para construir o tipo de relações desequilibradas entre os gêneros, dentro das quais acontece a violência contra as mulheres. Mas estou convencida de que o cristianismo possui recursos importantes.
Portanto, qual pode ser a tarefa das Igrejas cristãs?
Primeiro de tudo, voltando ao que é afirmado pela Década Ecumênica de Solidariedade com as Mulheres, é preciso reconhecer que a violência masculina é um pecado, nomeá-lo, denunciá-lo e falar sobre isso. Depois, é preciso se empenhar para que as paróquias e as comunidades se tornem academias para um novo modo de viver as relações entre homens e mulheres, e sejam cada vez mais "assembleias de iguais", para retomar uma imagem da teóloga feminista católica Elisabeth Schüssler Fiorenza. É importante, por fim, formar sacerdotes e pastores a reconhecerem os sinais e os sintomas da violência masculina contra as mulheres e acompanhar as mulheres em um caminho de libertação e de transformação.
E os homens?
Nos últimos anos, os homens se tornaram cada vez mais conscientes de que o problema diz respeito a eles em primeira pessoa. Não só existem grupos de homens, como as associações Maschile Plurale e Uomini in Cammino, que refletem sobre a sua própria masculinidade ou sobre as raízes culturais da violência, mas também nasceu uma atenção àqueles que maltratam e a elaboração de um percurso que ajude o homem a se modificar, a reconhecer e a gerir as suas complexas sensações de dependência e de impotência que podem desembocar na necessidade de controle.
Também nesse sentido acredito que as Igrejas podem fazer a sua parte, acompanhando os homens em um percurso de amadurecimento e de conscientização sob a insígnia do exemplo que nos foi deixado por Jesus, que nunca discriminou as mulheres, ao contrário, as defendeu contra a prepotência masculina, pôs o serviço e não o domínio no centro das relações humanas, preferiu sofrer a violência em vez de infligi-la. Seria importante que as Igrejas, compostas por homens e mulheres, se ocupassem da violência masculina contra as mulheres e assumissem as suas responsabilidades a respeito, seguindo o exemplo de Jesus, que soube chorar, ele mesmo, e cujas primeiras palavras pronunciadas como ressuscitado foram: "Mulher, por que choras?".
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Cristianismo e violência contra as mulheres. Entrevista com Elizabeth E. Green - Instituto Humanitas Unisinos - IHU