06 Fevereiro 2015
"Objetivo Fome Zero." Na conclusão da campanha para os Objetivos do Milênio, a FAO vai usar a Expo Milão, dedicada ao tema da nutrição, como vitrine para fazer um balanço dos resultados obtidos e relançar a agenda do pós-2015, como explica o diretor Graziano da Silva: "Graças ao trabalho feito no primeiro Objetivo do Milênio, ou seja, de reduzir pela metade o percentual de pessoas com fome em comparação com 1990-1992, a incidência da fome sobre a população global diminuiu em cerca de 40%, passando de 18,7% para 11,3%. No mesmo período, mais de 200 milhões de pessoas saíram da fome. O nosso compromisso, agora, é eliminá-la totalmente."
A reportagem é de Elisabetta Soglio, publicada no jornal Corriere della Sera, 05-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Silva será um dos palestrantes do dia de trabalho que se realizará em Milão, no sábado, em preparação para o documento que será a herança da Expo.
Eis a entrevista.
Qual será a sua contribuição para a Carta de Milão?
A FAO participará com as suas competências técnica e com o seu peso político dessa importante iniciativa do governo italiano. É muito importante que os temas cruciais das Nações Unidas e de cada país individual, como o direito à alimentação, o desperdício alimentar, os sistemas agrícolas sustentáveis e a justa atenção ao empoderamento feminino, se reflitam nas prioridades identificadas na Carta de Milão.
Por que é importante uma exposição dedicada a esse tema?
A Expo abre as suas portas para um cenário global alarmante. As mudanças climáticas estão pondo à prova os nossos sistemas alimentares, e as estatísticas dizem que, para saciar os futuros nove bilhões de habitantes da Terra, a produção agrícola deverá aumentar em 60% até 2050. Mas, acima de tudo, este é um mundo em que, hoje, 805 milhões de pessoas passam fome, e 165 milhões são crianças. Mais de dois bilhões de pessoas sofrem de carência de micronutrientes, ou "fome oculta", ou seja, não ingerem vitaminas ou minerais em medida suficiente para levar uma vida saudável e ativa. Ao mesmo tempo, cresce rapidamente o problema da obesidade, com cerca de meio bilhão de pessoas obesas e um bilhão e meio de pessoas com sobrepeso. Muitos países em desenvolvimento, especialmente os com renda média, hoje, estão tendo que combater simultaneamente tanto a fome quanto a obesidade.
O que trouxeram os Objetivos do Milênio?
Até hoje, 63 países em desenvolvimento alcançaram e, em alguns casos, até superaram o objetivo de reduzir a fome pela metade. Eu, pessoalmente, tive o prazer de "premiar", por exemplo, o Brasil, Camarões, Gana, Peru, Tailândia, Vietnã, por terem alcançado esses resultados. Os governos da África e da América Latina assumiram um objetivo ainda mais ambicioso: a completa eliminação da fome até 2025, um esforço que a FAO vai apoiar plenamente. Graças ao trabalho feito no primeiro Objetivo do Milênio, ou seja, reduzir pela metade o percentual de pessoas com fome em comparação com 1990-1992, a incidência da fome sobre a população global diminuiu em cerca de 40%, passando de 18,7% para 11,3%. No mesmo período, mais de 200 milhões de pessoas saíram da fome.
A ONU, pela primeira vez, decidiu não ter um pavilhão próprio, mas de se concentrar em uma exposição "difusa": por quê?
Exato, a presença da ONU não estará ligada a um único estande. Será uma presença transversal que, partindo do Pavilhão Zero, acompanhará os visitantes ao longo de um itinerário temático através de todas as áreas do evento. Para marcar o percurso, haverá 18 instalações multimídia identificadas por uma grande colher azul, onde os visitantes poderão descobrir o trabalho das diversas agências da ONU, a complexidade e a vastidão do seu campo de ação, graças a imagens, vídeos, mapas e infográficos.
Qual é o objetivo da sua presença na Expo?
Certamente, o de levar a voz de 805 milhões de pessoas que ainda hoje passam fome. O nosso slogan será: "Desafio Fome Zero: unidos por um mundo sustentável". É o desafio lançado em Nova Iorque pelo secretário-geral, que nos vê unidos por um mundo livre da fome, um problema que realmente pode ser resolvido no arco da nossa geração. Mas, se quisermos vencer a batalha contra a fome, devemos investir mais na agricultura sustentável e reconhecer o papel fundamental dos agricultores.
O que o indivíduo pode fazer?
Muitíssimo. Pensemos, por exemplo, no fato de que hoje um terço dos alimentos vendidos nas nossas cidades é jogado fora, e com isso toda a água, a energia e os elementos utilizados para produzi-lo. Um desperdício insignificante que tem consequências devastadoras sobre os recursos naturais. Desperdiçar alimentos, solo, energia, recursos é um luxo que não podemos mais nos permitir.
Vocês já decidiram se vão celebrar o Dia Mundial da Alimentação na Expo?
Este ano, o Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, será particularmente importante para nós. A FAO vai celebrar os seus 70 anos de vida e de experiência, e vai fazer isso com uma série de eventos importantes que culminarão em Milão. E esperamos contar com a presença do secretário-geral, Ban Ki-moon.
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''Um mundo com fome zero é possível.''. Entrevista com Graziano da Silva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU