Por: Caroline | 10 Outubro 2014
“Haveria uma ideia para sair do ‘impasse’...”, é o que diz o arcebispo Rino Fisichella (foto), teólogo e presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, que sugere a possibilidade de “soluções diferentes” para as famílias que sofrem e relembra que a Igreja quer acolher a todos “como uma mãe e não como um juiz”.
A entrevista é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 08-10-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/PQVVn5 |
Eis a entrevista.
A doutrina sobre o casamento mudará?
Não escutei nenhuma intervenção que tenha colocado em dúvida a doutrina sobre a indissolubilidade. A preocupação é pastoral: como dar um sinal de acolhida e não excluir ninguém, permanecendo nos ensinamentos de Cristo, em um mundo no qual há um grande abismo entre a proposta cultural da maioria e a proposta cristã sobre a família.
Há aqueles que foram convidados a reconhecer os aspectos positivos do casamento civil...
A doutrina deve se desenvolver e se aprofundar, sem que seja alterada. Sobre o tema da consciência e da liberdade religiosa, o Concílio Vaticano II fez com que a Igreja desse um salto à frente. Do Sínodo surge um método de debate: que nenhum de nós pretenda ter a verdade no bolso, mas, como ensinava João Paulo II, a verdade alcançada é sempre uma etapa que impulsiona a ir além.
Admitira, em certos casos, a Eucaristia aos divorciados em segunda união?
Eu tenho medo de cair em casuísmo. Contudo, hoje em dia, quem pode afirmar que em seu círculo familiar não há casos de convivência ou de divórcio? Infelizmente, vivemos imersos em uma situação na qual a beleza do matrimônio foi ferida. Acentuou-se demasiadamente a dimensão canonista do matrimônio, portanto, jurídica, caindo por vezes no legalismo. Recuperar a dimensão sacramental poderia ajudar a identificar soluções diferentes, inclusive em continuidade com a doutrina original. E aqui voltamos ao primado da consequência, sobre a qual ninguém pode intervir. É evidente, deve ser uma consciência iluminada pela Palavra de Deus, que se submete ao discernimento e aceita a obediência de um caminho.
Como conjugar, então, a doutrina e a atenção a certas situações?
Teria uma ideia para sair do “impasse”. Há exemplos no Novo Testamento que não vi serem citados. Jesus disse que os pecados contra o Filho do Homem serão perdoados. Acredito que se trata dos pecados da ignorância, deveríamos compreender quais são estes pecados cometidos sem que nos demos conta. E também está em São Paulo: havia ordenado expulsar da comunidade uma pessoa que vivia em incesto, um pecado gravíssimo. Contudo, depois, na Segunda Carta aos Coríntios, volta ao caso e diz: vocês devem acolhe-lo novamente, para que não sucumba frente ao peso da tristeza e para que Satanás não nos oprima. Como fazer para que Satanás não nos oprima, o que é que nos divide? Não sabemos como foi a vida deste homem depois, mas Paulo disse que a comunidade deve “consolar”. Esta pode ser uma orientação para conjugar os princípios e a vida concreta das comunidades.
Há um problema para acolher aos divorciados em segunda união?
Há formas insensatas de discriminação. Por que os divorciados em segunda união que frequentam a comunidade não deveriam ter a oportunidade de ensinar em uma escola católica?
Qual sua opinião sobre a iniciativa do Ministro do Interior italiano, Angelino Alfano, em relação aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo?
Se cada um se comporta como lhe parece mais oportuno, é inútil fazer leis; acredito que o ministro atuou no âmbito de suas competências. O Parlamento, com sabedoria, deverá discutir. Que todos sejam capazes de escutar as razões dos demais e que não sejam criadas situação de discriminação para ninguém.
No Sínodo um casal falou sobre a acolhida dos filhos homossexuais…
Falei com famílias que vivem estas situações. Busco explicar que a Igreja não pode reconhecer um matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, mas acolhe a todos como uma mãe e não como um juiz.
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“A Igreja quer acolher a todos como uma mãe e não como um juiz”, diz dom Fisichella - Instituto Humanitas Unisinos - IHU