15 Setembro 2014
É um belo problema procurar resolver agora com um duplo Sínodo, e usando não ataduras e sim curas definitivas, problemas que remontam a 1968, quando Paulo VI escreveu e promulgou a Humanae Vitae.
A comentário é de Matteo Matzuzzi, publicada pelo jornal Il Foglio, 10-09-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
Mons. Johan Bonny, já colaborador do cardeal Walter Kasper no Pontifício conselho pela promoção da unidade dos cristãos e hoje bispo de Anversa, cidade daquela Bélgica onde as igrejas – quando não são convertidas em mercados hortifrutigranjeiros, como em S. Caterina, em pleno centro de Bruxelas, permanecem em geral vazias, - está convencido que “a crescente distância entre o ensinamento moral da Igreja e a visão moral dos fiéis” afunde suas raízes precisamente no imediato pós-Concílio, quando “esta matéria” foi em grande parte subtraída à colegialidade dos bispos e vinculada de modo quase exclusivo ao primado do bispo de Roma. Após anos de intenso confronto conciliar, Paulo VI decidiu dar uma guinada: “Com a Humanae Vitae, daquela colegialidade permanece pouquíssimo”.
O Concílio – nota o prelado numa carta escrita “a título pessoal e na qualidade de bispo da Europa ocidental”- “havia previsto que o Papa tomasse uma decisão em relação ao ‘problema da população, da família e dos nascimentos’, mas não havia de fato previsto que ele abandonasse a pesquisa colegial do maior consenso possível”.
Em suma, Montini andou “contra o parecer da comissão de peritos por ele mesmo nomeada, da comissão de cardeais e bispos que haviam trabalhado sobre este tema, da grande maioria dos teólogos, dos médicos e dos cientistas, bem como das famílias católicas”.
Daniel Deckers, biógrafo do cardeal Karl Lehmann, escreveu que precisa ser criticada não só a conduta de Paulo VI, mas também a de Karol Wojtyla: “Ainda mais para baixo se andou com a Familiaris Consortio de João Paulo II”. Segundo o bispo de Anversa, “a linha doutrinal da Humanae Vitae foi transformada num programa estratégico levado em frente com mão forte”, com o resultado de fomentar uma discórdia que “não pode mais continuar”. Lastima o prelado belga que “a consciência, no ensinamento da Igreja sobre sexualidade e matrimônio, planificação familiar e controle dos nascimentos” tenha sido “colocada em segundo plano”, perdendo “seu lugar legítimo numa sã reflexão de teologia moral”.
Veja-se a Familiaris Consortio
“onde não existe nem um pequeno aceno ao juízo pessoal da consciência sobre o método da planificação familiar e o controle dos nascimentos. Tudo, ali, é posto sob o signo da verdade do matrimônio e da procriação assim como a Igreja a ensina, em conexão com a obrigação que tem os fiéis de tornar própria esta verdade e de pô-la em prática”.
Dialogar com o mundo
Ao invés, bastaria retomar em mãos a Declaração que os bispos belgas escreveram um mês após a promulgação da Humanae Vitae, na qual observavam que “o juízo sobre a oportunidade de uma nova transmissão da vida pertence em última instância aos próprios genitores, que devem decidir diante de Deus”. E depois, acrescentou, é “inadequado” contrapor a pastoral à doutrina, visto que “a pastoral tem tudo a ver com a doutrina, e a doutrina com a pastoral”. Não se pode, em suma, dizer que o Sínodo tratará somente de considerações pastorais sem atingir as normas doutrinais: “Se a Igreja quer abrir novos caminhos para a evangelização do matrimônio da família em nossa sociedade”, os bispos reunidos em Roma deverão por tudo em discussão. A começar, se entende, pela questão que tem a ver com a reaproximação dos divorciados re-desposados à comunhão: a Igreja, acrescenta mons. Bonny, – “não pode ignorar ou transcurar sua necessidade espiritual e sua solicitação de receber a comunhão como meio de graça”. O que serve, - acrescentou ainda – dando voz também a uma parte consistente do episcopado médio-europeu, favorável a uma adequação da pastoral às “situações até a alguns anos inéditas”, é o diálogo: somente assim, de fato, a Igreja pode descobrir onde Deus está hoje agindo e onde hoje se encontrem os desafios para a própria Igreja e para o mundo”.
Ontem, no entanto, foi difundido o elenco dos duzentos e cinquenta e três membros que tomarão parte no Sínodo de outubro. Dos quase duzentos padres sinodais, o Papa escolheu pessoalmente vinte e seis, entre cardeais, bispos e sacerdotes, dando espaço a toda orientação.
No grupo estão, entre outros, Walter Kasper, o arcebispo emérito de Bruxelas Godfried Danneels, Angelo Scola e Carlo Caffarra. São catorze os pares de esposos, mas somente um com direito de voto em aula.
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A teologia do bispo belga contra Paulo VI e Wojtyla - Instituto Humanitas Unisinos - IHU