Por: André | 11 Julho 2014
Com a nomeação, em tempo recorde, do novo presidente do IOR, Jean-Baptiste de Franssu, coloca-se em marcha a chamada “fase dois” da reforma do “banco vaticano” (“fase dois” é o nome midiático que serviu para justificar a saída do presidente Ernst von Freyberg, após somente 18 meses no cargo). Mas o primeiro dado significativo e evidente que emerge da coletiva de imprensa da manhã desta quarta-feira no Vaticano é o forte papel do cardeal George Pell. O “super-ministro” das finanças vaticanas, encarregado da nova Secretaria de Economia, poucos meses após sua chegada ao Vaticano, consolidou seu papel e conseguiu que a troca na presidência do “banco vaticano” fosse uma decisão vinculada à rotina da administração do Instituto.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 09-07-2014. A tradução é de André Langer.
Como se recordará, a nomeação de von Freyberg se deu após longuíssimo processo de seleção (e a sensação era que alguns eclesiásticos, assim como a direção do velho IOR, não tinham nenhuma pressa para nomear o sucessor de Ettore Gotti Tedeschi, defenestrado em maio de 2012). O Vaticano, ao inaugurar então o período de assessorias, encomendou a uma sociedade internacional a seleção da pessoa mais adequada. O perfil do novo presidente, desta vez, foi definido com muita rapidez, graças ao fato de que de Franssu jogava em casa: foi membro da COSEA, a comissão referente para o estudo dos problemas econômicos e administrativos da Santa Sé, é membro do Conselho para a Economia e tem vínculos com outras duas peças fortes do Conselho, seu vice-coordenador, e o maltês Joseph F. X. Zahra. E ambos estão relacionados com Pell.
O que acontecerá com o IOR? Um (pequeno) banco, que se dedica aos clientes e às transações de dinheiro dos institutos religiosos, absolutamente transparente em matéria de luta contra a lavagem de dinheiro, sem essas zonas escuras que o tornaram tristemente famoso. Deve-se reconhecer que Ernst von Freyberg seguiu até suas últimas consequências o processo para a absoluta transparência. Mesmos que, muitas vezes, no Vaticano se tenha acreditado e se acredite que o problema do Instituto para as Obras de Religião consiste em sua “má fama”, em sua incapacidade para se comunicar. No entanto, os problemas eram e são muito diferentes, como indicaram as investigações judiciais e as assessorias externas.
Na coletiva de imprensa da manhã da quarta-feira se disse que o IOR se ocupará cada vez menos dos investimentos (pois se decidiu criar a figura do VAM, o novo “Vatican asset manager”, que se ocupará dos grandes investimentos para que frutifiquem os capitais das instituições do Vaticano), mas von Freyberg, ao responder a uma pergunta sobre a “renúncia acordada”, disse que ele sai do Instituto porque não é um especialista em investimentos, característica profissional requerida para o novo presidente. E, com efeito, de Franssu é um especialista na matéria. E se poderia perguntar: por que se necessita de um especialista em investimentos se o novo IOR já não se ocupará deles (e poderia ocupar-se de “liquidar” essa seção)? É provável que alguma coisa não tenha funcionado nestes 18 meses de presidência de von Freyberg. Talvez o advogado e empresário alemão, nomeado depois do anúncio da renúncia de Bento XVI, não tenha se integrado o suficiente nesse singular ambiente que é a cúria romana.
O resultado evidente da mudança na presidência do Instituto é a consolidação de uma equipe e de uma espécie de tutela, à distância, por parte da secretaria para a Economia de Pell sobre o próprio Instituto, apesar de que prossiga a comissão de vigilância, que adquiriu um novo membro, e de que tenha sido nomeado quase por completo (faltam apenas dois nomes) um novo conselho de leigos completamente novo. O futuro prevê, como deu a entender o cardeal Pell, que se crie também para o “banco vaticano” um conselho no qual tenham a mesma dignidade cardeais e leigos.
Alguns indicaram, na coletiva de imprensa, a ausência de italianos no novo organograma. Pell precisou que haverá um italiano no novo conselho. O que é certo é que com a criação do “super-ministério” econômico e com a reforma anunciada na quarta-feira toma-se a via da desitalianização de algumas instituições financeiras da Santa Sé, devido aos resultados nem sempre satisfatórios por parte dos administradores italianos, como demonstram, uma vez mais, as investigações dos magistrados. Mais além da mudança, é preciso que melhorem as relações com o Banco da Itália e com as instituições de vigilância financeira italianas.
A presidência de von Freyberg esteve marcada por assessorias externas (que custaram, segundo os resultados financeiros agora apresentados, mais de oito milhões de euros a mais em relação ao ano anterior). A comissão referente COSEA também pediu outras assessorias e outras mais se anunciam para a reforma do sistema midiático vaticano, com a criação de um grupo de “senior international experts” que em um ano deverá apresentar um projeto. O objetivo é racionalizar a administração dos meios que existem e economizar (há contas milionárias para sanar), depois de anos em que a comunicação se converteu em algo crucial: a Secretaria de Estado conta com o próprio “advisor” em material de comunicação, o IOR tem um escritório de imprensa (encomendado a uma sociedade internacional, a CNC). O cardeal Pell, na conferência de imprensa, recordou que os meios vaticanos chegam a 10% da população católica do mundo, dando a entender que ainda há muito trabalho pela frente.
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A reforma econômica no Vaticano e algumas questões pendentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU