06 Mai 2014
“A rede digital pode ser um lugar rico de humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas humanas.” Com esta frase do Papa Francisco, a Irmã Joana Puntel encerrou, no último dia 04 de maio, no Centro Social de Nazaré, em Belém, a palestra em alusão ao 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que este ano tem como tema “Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro”.
A reportagem é de Thamiris Magalhães de Sousa, jornalista formada pela Universidade da Amazônia (Unama), em Belém/PA e Mestre em Ciências da Comunicação na Unisinos.
A reunião da palestrante, que foi redatora das Paulinas Editora/SP e é referência na área de comunicação da Igreja Católica no Brasil e no exterior, reuniu membros das Pascom’s da Região Metropolitana de Belém e demais interessados em entender um pouco mais a trajetória comunicacional da Igreja Católica, dos meios de comunicação tradicionais até o surgimento e fortalecimento dos dispositivos digitais, bem como a importância e o significado do Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado todo ano no dia 1º de junho.
Joana Puntel, religiosa paulina, enfatizou que “a comunicação sempre foi uma pedrinha no pé da igreja. Mas, é importante, até que o pé se acostume com ela”. A estudiosa iniciou o encontro contando historicamente a evolução da comunicação na Igreja Católica. “O número 18 do documento Inter Mirifica pede que se reflita, reze, mas, sobretudo, que se observe como a comunicação faz parte da Pastoral”, analisa.
Na ocasião, Ir. Puntel não deixou de comentar o lançamento, este ano, do Diretório da Comunicação no Brasil. “É muito importante para as Pascom’s estudarem esse Diretório, pois aborda como elas devem estudar a Teologia, bem como sugestões de o que fazer, pesquisar, produzir.” A jornalista frisa ainda que, para as Pascom’s, trata-se do primeiro livro que deve ser estudado, “pois é o pensamento da Igreja Católica e não de um padre X. É a continuação do Magistério da Igreja Universal que se estuda e se aplica no documento”.
Dia Mundial das Comunicações Sociais
O Dia Mundial das Comunicações Sociais é a única celebração mundial estabelecida pelo Concílio Vaticano II (Decr. Inter mirifica, 1963). “Trata-se de um mandato. Então, o Papa escreve uma mensagem todo ano, sem falhar. Já estamos no 48º”, lembra a também professora universitária, Joana Puntel.
“Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro”
Segundo Joana Puntel, para se aprofundar o tema proposto para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano, é imprescindível analisar cada palavra, pois cada uma tem um peso importante.
Para começar, ela pergunta: “O que é comunicação?” E sugere que, hoje, as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC’s) são importantes, pois a comunicação é global. “Mas, não se pode esquecer que ela inclui as relações.”
“O que é autêntica?”, indaga ainda a palestrante. Para ela, existem muitos encontros, mas muitos desencontros também. “Então, autêntica não é como ir a um show, onde você se balança de um lado para o outro e muitas vezes nem sabe o que está fazendo.” Autêntica quer dizer verdadeiro, consciente.
Já a cultura do encontro, ainda nas palavras da jornalista, requer que estejamos dispostos não apenas a dar, mas também a receber dos outros.
Desafios
“No mundo da comunicação, atualmente, somos chamados a alargar o nosso olhar para incluir nos ‘rostos’ da América Latina o novo sujeito que, a partir da cultura digital, traz consigo a exigência de novos métodos de aprender, de ensinar, de perceber a fé”, relata a pesquisadora. De acordo com ela, “nos encontramos em uma encruzilhada das mídias, que precisa ser levada em conta, porque o mundo se movimenta em torno disso”.
Há ainda a preocupação em haver um diálogo entre fé e cultura. “Não é a fé que está em crise. O que está em crise é a transmissão da fé, a maneira como nós a comunicamos”, sugere.
Existem ainda aspectos problemáticos nos diálogos, nas relações. “Por exemplo, a velocidade, o bombardeio e a variedade das informações e opiniões expressas, que nos deixam sem saber o que é certo ou errado no ambiente digital”, pontua a docente.
Cultura Midiática
Segundo a escritora e doutora em comunicação, estamos vivendo uma cultura midiática. “Aqui, nasce um novo sujeito em suas relações. E uma nova maneira de ensinar, de aprender. Há, portanto, uma nova lógica.”
Para a estudiosa, existe atualmente a interatividade, com as redes digitas, e uma nova forma da comunicação começa a se realizar. “Agora, todos são interlocutores. No fim, surge o que o teórico Pierre Lévy chama de inteligência coletiva”, conta, ao completar que as redes sociais são também uma nova ágora, ou um atual areópago. “Ou seja, a praça pública da contemporaneidade.”
Deve-se perceber, outrossim, que a globalização faz-nos sempre mais interdependentes. Para Irmã Joana, entretanto, permanecem divisões a nível global, como distanciamento entre pobres e ricos; conflitos econômicos, políticos, ideológicos e até religiosos.
Logo, a igreja tem que deixar de ser autorreferência. “Temos que estar dispostos não apenas a dar, mas também a receber. Os mass media podem nos ajudar nesse sentido”, acredita Puntel, que avalia estarmos “em um progresso, mas também em uma confusão sem precedentes”, com o surgimento e fortalecimento das NTIC’s.
“A comunicação é uma conquista mais humana que tecnológica.” Portanto, para Puntel, a tecnologia deve estar a serviço de sermos mais próximos uns dos outros. “Só que nesse meio se atravessa tanta coisa, como o lucro, que ficamos sucumbidos”, lamenta, afirmando que “a cultura das mídias exerce uma influência cada vez mais direta sobre as pessoas e suas relações”.
Mundo Digital
Ao abordar a questão das pesquisas nos dias atuais, Joana Puntel afirma que os estudos, em sua maioria, são sobre o digital, “mas poucos sobre como as relações estão se dando no Facebook, Twitter e demais redes”. Ou seja: como se manifesta a proximidade no uso dos meios de comunicação e no novo ambiente criado pelas tecnologias digitais? Para a autora de “Comunicação: Diálogo dos Saberes na Cultura Midiática”, não basta circular pelas “estradas digitais”, ou seja, estar conectados. “É necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro.”
É importante lembrar ainda que abrir as portas das igrejas significa também abri-las no ambiente digital. “Não basta saber clicar, devemos ter conhecimento da crise de identidade, só para citar um exemplo, que surge nesse meio”, diz Puntel. Logo, a questão é bem mais profunda do que meramente saber usar os meios tecnológicos disponíveis. Para ela, portanto, os cristãos devem ir além desses instrumentos.
Um novo sujeito
Para a autora de “Cultura midiática e igreja - Uma nova ambiência”, está nascendo um novo sujeito, com uma atual lógica e outra maneira de pensar, com o surgimento e crescimento dos meios digitais. “Não há mais a lógica linear”, observa.
Reações
Segundo Nilza Machado, mais conhecida como Branca, 55, missionária pelo Movimento Cursilhos da Cristandade (MCC), realizando trabalhos também na Basílica Santuário de Nazaré, há a necessidade da união nas pastorais e as redes digitais surgem como excelente estratégia de encontro. “A maior parte das pessoas que não têm tempo de ficar na internet durante o dia, fica à noite. Eu, por exemplo. Falo até com Papa Francisco pelo Twitter. Tenho Instagram. Tenho tudo! Sou uma internauta total!”, celebra.
Já para Zezé Freitas, 60, da Pascom arquidiocesana e pertencente à comunidade da Paróquia de Santa Cruz, a palestra de Joana Puntel foi profunda, realista. “Muitas coisas precisávamos relembrar, ouvir, para pôr em prática. Ainda achei novo quando ela diz que não temos que ter medo do digital; que temos que ir para o encontro.” Para Zezé, foi importante a pesquisadora afirmar que a vida das pessoas também é comunicação. E não apenas os meios tecnológicos.
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A cultura midiática propicia o surgimento de um novo sujeito – reflexões sobre o 48º Dia Mundial das Comunicações - Instituto Humanitas Unisinos - IHU