29 Janeiro 2014
O passo que os legionários continuam tentando traçar um novo rumo para si durante o encontro do Capítulo Geral que começou em 08-01-2014, mostram-se sinais de que a ordem está longe de ter um consenso sobre qual o curso que deverá seguir.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por National Catholic Reporter, 28-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O Capítulo Gera busca acabar com um período de intervenção papal que dura três anos, depois de Bento XVI ter imposto um delegado para assumir o controle da ordem religiosa em 2010.
Esta decisão seguiu-se às revelações de abusos sexuais e de má conduta por parte do fundador, o padre mexicano Marcial Maciel Degollado, bem como por várias deserções de legionários do alto escalão e de rumores de que a ordem poderia ser suprimida.
Os legionários que participam do encontro e que falaram com o site National Catholic Reporter – NCR dizem haver um amplo acordo em várias frentes, incluindo a necessidade de menor controle por parte de Roma e mais autonomia para as operações da ordem em nível local, uma maior tolerância para a diversidade de interstício, além de um novo compromisso com a transparência.
Eles também disseram que houve progresso no sentido da definição de um novo carisma (missão) pós-Maciel para a Legião, que estaria focado no compromisso com a evangelização, ou seja, um impulso missionário, e para a parceria da Legião com o Regnum Christi, o seu movimento para leigos.
No entanto, dizem que também está claro existir uma gama de opiniões dentro da ordem sobre o quão longe a reforma deverá se estender.
Os entrevistados disseram que alguns membros da ordem acreditam que grande parte de seus modos antigos de fazer as coisas tem valor, citando o que consideram como as “frutos espirituais” que a Legião produziu ao longo dos anos.
Em 27-01-2014, um ex-legionário contou ao NCR que esta ala se preocupa em não “jogar o bebê fora junto com a água de banho”, se acaso as mudanças forem muito longe.
No extremo oposto do espectro, há outros legionários ansiosos para ver as reformas alcançarem níveis mais profundos e acontecerem mais rapidamente. Alguns sacerdotes que assim pensam já deixaram a ordem, e outros admitiram que alguns mais poderão assim proceder.
Um ponto focal para esta tensão, dizem os legionários, é o legado de Maciel.
O Pe. John Connor, sacerdote legionário em Nova York, contou ao NCR que o atual Capítulo Geral está empenhado em defender uma política de três anos durante a qual Maciel não mais será chamado de “Nosso Pai”, que imagens dele serão removidas das instalações da ordem e que seus escritos não mais serão usados nos programas de formação.
“Todos compreendemos que ele não pode ser um modelo de vida cristã, religiosa ou de um legionário”, disse.
Entretanto, o Pe. John Bartunek, natural de Cleveland (EUA) e que agora vive em Roma, disse haver desacordo sobre outros assuntos, tais como até que ponto os escritos espirituais de Maciel retêm valor.
“Muitos padres saciavam sua fome por leitura espiritual com os escritos do fundador”, disse Bartunek. “Hoje muitos deles vêm fazendo um belo trabalho e são sacerdotes espiritualmente maduros. E eles perguntam: ‘Como vamos dizer que tudo isso é um lixo?’”
“Não conseguiremos resolver [esta tensão] rapidamente”, previu. “Precisaremos viver com isso por um tempo”.
Em privado, os legionários dizem que tais tensões formam parte da política na escolha de um novo líder. Fontes informaram ao NCR que os participantes no Capítulo Geral podem buscar um candidato de compromisso, ou seja, uma figura aceitável pelos legionários ao longo do espectro daqueles que querem mudança imediata e daqueles que querem alterações mais lentas.
Na segunda-feira, dia 20-01-2014, a Legião de Cristo postou uma nota em seu site afirmando que o Capítulo Geral havia entrado na fase das eleições, porém não havia nenhuma indicação dos resultados. Antes de fazer qualquer pronunciamento a respeito, a Legião terá que esperar a aprovação do Papa Francisco.
Enquanto isso, o Capítulo continua trabalhando em um novo conjunto de constituições para a ordem, com uma postagem no site da ordem, no último dia 28, indicando que grande parte das duas primeiras seções já foi concluída. Uma autoridade falou ao NCR, também no dia 28, que tão logo as constituições receberem a aprovação do Vaticano, elas serão disponibilizadas ao público.
O encontro do Capítulo Geral está sendo presidido pelo cardeal italiano Velasio De Paolis, a autoridade nomeada por Bento XVI e confirmada por Francisco para supervisionar os esforços da reforma. O padre jesuíta italiano Gianfranco Ghirlanda, ex-decano da faculdade de Direito Canônico da Universidade Gregoriana de Roma, administrada pelos jesuítas e, posteriormente, reitor da própria universidade, também está trabalhando no encontro, fornecendo assessoria para assuntos de direito canônico.
Embora o Capítulo Geral não tenha data para terminar, espera-se que dure até o mês de fevereiro. 61 sacerdotes de 10 países estão participando, incluindo sete norte-americanos.
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Tensão quanto ao legado do Pe. Maciel complica eleições dos Legionários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU