29 Janeiro 2014
Listar as tarefas do presidente de uma grande companhia costuma render uma extensa relação de obrigações, especialmente na área de tecnologia da informação (TI), que guarda muitas peculiaridades e exige conhecimento técnico. No caso de Cristina Palmaka, porém, todos esses tópicos poderiam ser resumidos em um único ponto: simplificar a SAP.
A reportagem é de João Luiz Rosa, publicada pelo jornal Valor, 28-01-2014.
A companhia alemã - maior fornecedora de software da Europa e uma das maiores do mundo em programas de gestão empresarial - encerrou o ano com um crescimento de 33% na receita obtida com novos contratos no Brasil, informou a empresa ao Valor. O resultado, bem superior aos 11% obtidos no mundo no mesmo período, foi tão positivo que transformou o país no terceiro mercado para a SAP em novas vendas de software, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha.
O desempenho mais surpreendente foi no segmento de pequenas e médias empresas. Nessa categoria, a receita com novas vendas (para clientes existentes ou recém-conquistados) aumentou quase 70%, informou Cristina.
O salto indica que há muitas oportunidades na área, mas também mostra como se tornou urgente para a SAP acelerar os esforços para simplificar seus programas e, dessa forma, ampliar as chances de obter um pedaço maior do cobiçado mercado de pequenas e médias empresas.
No Brasil, a SAP lidera com folga o segmento de grandes clientes (mais de 600 licenças), com uma participação de 51%, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP). Na área de pequenos negócios (até 160 licenças), no entanto, a fatia é de 8%, bem atrás dos 52% da brasileira Totvs, que lidera a área. No segmento médio (160 a 600 licenças), a SAP tem 21% enquanto a líder Totvs detém 40%.
Para avançar, a SAP precisa desfazer a ideia de que seus produtos são complexos e caros demais para empresas menores, um esforço que ficou mais forte no ano passado, quando a companhia lançou no país uma versão do pacote Business One, destinado a pequenas e médias empresas, sob o modelo da nuvem computacional. Com a nuvem, em vez de comprar uma licença do software e instalar o programa no computador do usuário, o cliente faz o acesso via internet e paga mensalmente pelo serviço, como se fosse uma conta de água ou luz. A instalação fica mais simples, e o custo, bem mais baixo.
"Se antes a instalação do Business One podia demorar de dois a três meses, [com a nuvem] isso ocorre em semanas e até dias", disse Diego Dzodan, que comanda a região Sul da América Latina na SAP, com supervisão sobre sete países, inclusive o Brasil. "No país, tivemos casos de projetos entregues em nove dias e, embora essa não seja a média, houve uma implantação que durou dois dias. Desse jeito, até uma padaria pode adotar o programa", afirmou.
Implantar o projeto no prazo previsto é essencial para as empresas menores, que em geral dispõem de poucos recursos profissionais e financeiros para aplicar na área de tecnologia. "Foi a capacidade de entrega o motor do crescimento de 70% que tivemos no país", disse Cristina.
A possibilidade de atrasar um projeto, porém, não é um risco exclusivo dos pequenos negócios. Ao contrário, quanto maior o cliente, mais crítico é o perigo de ficar com um sistema fora do ar em meio a uma mudança tecnológica. Esse é o pesadelo de qualquer diretor de tecnologia.
Com a nuvem, a expectativa é reduzir as preocupações em projetos de qualquer tamanho. Nos últimos anos, a SAP comprou empresas em áreas consideradas estratégicas, passando a oferecer as tecnologias adquiridas sob a nuvem, independentemente da dimensão do cliente. A SAP adquiriu a SuccessFactors, de software para recursos humanos, e a Ariba, de automatização dos processos de compras.
Em outra área considerada essencial, a de relacionamento com os clientes, investiu em tecnologia própria, levando tudo para a internet na forma de serviço. "Com a nuvem tiramos a complexidade [do negócio]", disse Cristina.
A executiva é a quarta presidente da SAP no Brasil desde meados de 2007. Ela substituiu Dzodan, que assumiu o cargo regional para o Sul da América Latina, criado no ano passado. Cristina ocupou cargos importantes na Hewlett-Packard (HP) e na Microsoft, e chegou a integrar a equipe da SAP.
Entre 2009 e 2010 foi vice-presidente de vendas para pequenas e médias empresas, exatamente um das áreas prioritárias com a migração para a nuvem.
Desde que assumiu o comando da SAP, em outubro do ano passado, Cristina criou uma vice-presidência específica para cuidar da expansão geográfica no Brasil, outra providência para atingir clientes menores em regiões menos maduras. Essa será uma prioridade para 2014. Com a nuvem, a executiva também está dando atenção especial à rede de 230 parceiros de vendas para saber se o modelo não vai exigir novas habilidades dos parceiros atuais ou estabelecer mais alianças.
A nuvem, porém, também representa um desafio. Para fazer com que as informações sejam acessadas sem problemas, é preciso investir fortemente em infraestrutura para garantir o funcionamento das conexões e a segurança dos dados. Além disso, há um impacto no caixa. O pagamento da licença anual desaparece, substituído por quantias mensais menores.
Em meados do mês, ao divulgar seus resultados financeiros globais, a SAP manteve a meta de obter € 2 bilhões em receita com a nuvem em 2015, mas advertiu que a rentabilidade prevista vai demorar mais para ser alcançada por causa dos investimentos necessários pela nuvem. No ano passado, a receita global da SAP com aplicativos na nuvem foi de € 787 milhões, uma parcela dos € 3 bilhões a € 3,5 bilhões previstos para 2017.
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Na SAP, estratégia é usar a nuvem para ficar mais simples - Instituto Humanitas Unisinos - IHU