03 Dezembro 2013
Nestes dias voltou mais uma vez à tona a recordação do "Discurso da lua", na luminosa noite de 11 de outubro de 1962 (Foi o dia do início do Concílio Vaticano II. (Nota da IHU On-Line). Naquela noite, o Papa João XXIII disse ao seu secretário, Dom Loris Capovilla, ainda hoje muito presente e ativo com a sua palavra e a sua memória viva, que naquele momento não estava disposto a falar – "Não falo! Eu já disse tudo esta manhã". Intrigado de propósito, porém, pelo próprio Capovilla – que, olhando pelas frestas da janela, lhe disse que havia muitas pessoas, e com muitas tochas de luz festiva –, mudou de ideia, lhe pediu a estola e fê-lo abrir aquela janela, já então janela do papa e até hoje a do Ângelus dominical diante da praça mais lotada do que nunca...
A reportagem é de Gianni Gennari, teólogo e jornalista, publicada no sítio Vatican Insider, 30-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Discurso da lua": assim! Não "discurso à lua", como às vezes se escreve. Giacomo Leopardi, grande e profundo gênio, tinha pensado e falado à lua, mas o Papa João XXIII falou às pessoas, ao povo vivo que lá embaixo festejava e, como sabemos, aplaudia com entusiasmo.
Esse discurso, portanto, voltou a intrigar as páginas dos jornais porque a agência Zenit (28-11-2013: "… versão editada do Discurso...") informou que a gravação conservada no Vaticano por muitos anos não era a integral: à época – palavras do porta-voz Pe. Lombardi – "não havia a preocupação de publicar rapidamente os textos exatamente como haviam sido pronunciados, com eventuais acréscimos ou variações de improviso". E aquele discurso – é preciso lembrar – foi totalmente "de improviso".
Hoje, o texto foi recuperado na íntegra, o mesmo que havia sido reutilizado e transmitido na Praça de São Pedro no 50º aniversário daquele dia de abertura do Concílio, na presença de Bento XVI no dia 11 de outubro de 2012, e transmitido pela Rádio Vaticano, e agora presente também no site vaticano na versão integral, áudio e vídeo obviamente...
Tudo conhecido, portanto? Não, porque uma singular memória daquela noite abençoada foi relatada pelo próprio arcebispo Capovilla a este que escreve e, dada a oportunidade, vale a pena comunicá-la aos leitores. O Papa João XXIII, depois de ter falado, visto e ouvido o entusiasmo da praça fascinada por aquelas palavras de encantamento, entrando novamente, tirou a estola e, entregando-a a Capovilla, disse estas precisas palavras: "Eu não sabia o que dizer... Voltei-me à minha Teresinha". Eis: o auxílio de Santa Teresa de Lisieux, segundo o que ele mesmo revelava, estava na origem daquele gesto de fantasia realmente "criativa" e comunicativamente genial que, de fato, é considerado "o mais famoso e popular discurso papal de todos os tempos".
O Papa João XXIII e Teresa de Lisieux, ele hoje bem-aventurado e logo santo, ela hoje santa e doutora da Igreja. Era conhecida a devoção de Roncalli pela jovem santa carmelita, que em 1887 havia chegado ao Vaticano e tinha se agarrado fisicamente aos pés de um Leão XIII muito surpreso para implorar-lhe a graça de entrar no Carmelo apesar de ainda não ter 16 anos.
O núncio Roncalli tinha estado na França por cerca de seis anos e também havia participado de um grande Congresso Teresiano em 1947, em Paris, pelo 50º aniversário de morte de Teresa, e tinha muitas vezes escrito e dito coisas muito bonitas, também em cartas, para as duas irmãs de Teresa, que ainda estavam vivas, muito simples na espontaneidade da linguagem e dos sentimentos, com relação à padroeira de todas as missões católicas e padroeira da França junto com Santa Joana D'Arc.
Ele também estivera várias vezes em Lisieux, visitando o Carmelo e as relíquias de Teresa, tinha incentivado os estudos dos carmelitas e de outros estudiosos sobre os escritos de Teresa, à época por muitas razões, até mesmo muito questionáveis, não conhecidos na sua completude e integralidade, mas ele também tinha sentido fortemente o fascínio da sua santidade e da doutrina que, apesar de todos os obstáculos, se destacava em seus escritos.
Teresa de Lisieux, portanto. João Paulo II a proclamou Doutora da Igreja. Bento XVI ilustrou perfeitamente a sua doutrina em um belo discurso na audiência do dia 6 de abril de 2011. E Francisco trouxe consigo, na mala com que, no verão passado, partiu para o Brasil, justamente "um livro sobre Teresinha", da qual – disse – "sou muito devoto".
Naquele livro (Teresa di Lisieux: il fascino della santità, Ed. Lindau, 2012), é narrada a longa aventura dos escritos de Teresa e também está documentada a "devoção" dos papas, de Pio X em diante, pela santa de Lisieux. A última joia, em ordem de tempo, portanto, é o fato de que justamente ela, a jovem moça normanda, inspirou aquelas palavras "da" lua, dirigidas ao povo festivo naquela noite mágica em que começava a aventura do Vaticano II, ainda totalmente – é Francisco que também o diz frequentemente – diante de todos nós...
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A ''verdadeira'' história do discurso papal mais famoso de todos os tempos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU