16 Abril 2013
"O agronegócio é insustentável porque começa depredando a biodiversidade e as fontes da ciência, depende da máquina que compacta o solo e não respeita os meandros da natureza, envenena e contamina os produtos da terra, que não visam o bem viver do povo, mas o dinheiro de uns poucos", escreve Egydio Schwade, um dos fundadores do Cimi e primeiro secretário executivo da entidade, em 1972. Hoje é colaborador dessa instituição, residindo em Presidente Figueiredo, AM.
Eis o artigo.
Há muito estou intrigado com os altos investimentos do Governo ao agronegócio através do Ministério da Agricultura. Pois em primeiro lugar nem agricultura é. Quem se dedica ao agronegócio não se dedica necessariamente a fazer ciência na terra, ou seja, agricultura. Apenas obedece a um programa pré-fabricado nos laboratórios urbanos.
O agronegócio ao se instalar destrói a biodiversidade, fonte da ciência, para produzir em seu lugar o que interessa apenas a quem quer fazer negócio para alimentar de dinheiro os seus mandantes, o mercado como fim em si mesmo e o Estado, ficções criadas pelo homem que não comem nem riem, não sofrem e nem choram. Pouco lhes importa trabalhar com o equilíbrio dinâmico da natureza para o futuro da humanidade.
Quando vim fixar residência com a família aqui nas margens da BR-174 comprei um pedacinho de terra que fizera parte de um agronegócio. Aproximadamente 16% de um hectare, mais precisamente, de um campo de gado desapropriado pela Prefeitura para a instalação da cidade de Presidente Figueiredo, ainda inexistente, quando saiu o decreto que criou o município.
16% de um hectare é algo invisível ou irrisório para um agronegociante. Para começar, num sistema de criação de gado na Amazônia, os 16% de hectare sustentavam talvez o rabo, ou uma perna de uma vaca, alguns canarinhos e formigas que não faltavam quando começamos a arrancar o capim. Para criar um só bovino nestas bandas necessita-se nada menos que um hectare e meio, ou seja, dez vezes mais.
Mas para um agricultor este pedacinho de chão é algo importante. Hoje cultivamos neste terreno, 32 espécies de frutas, 8 espécies de tubérculos e raízes comestíveis, 5 espécies de abelhas sem-ferrão, além de hortaliças.
Além disso, a família instalou ainda naquele pedacinho de terra a sua residência, a Casa da Cultura do Urubuí e uma lojinha para a venda dos frutos excedentes produzidos no quintal e em sítio mais afastado.
O agronegócio é insustentável porque começa depredando a biodiversidade e as fontes da ciência, depende da máquina que compacta o solo e não respeita os meandros da natureza, envenena e contamina os produtos da terra, que não visam o bem viver do povo, mas o dinheiro de uns poucos. Dentro do agronegócio tudo está programado contra a vida e não há mais nada para inventar ou criar a favor dela a não ser o seu fim.
Questione os governos e a mídia que continuam dando incentivo a essa burrice iniqua!
Algumas espécies cultivadas nesse quintal
Frutas: Abacate (Persea americana), Abiu (Pouteria oblanceolata), Açaí (Euterpe oleratia), Acerola (Malpighia emarginata), Amora (Morus alba L.), Araçá-boi (Eugenia stipitata Mc Vaugh.), Araçá-do-brejo (Posoqueria calantha), Bacuri (Platonia insignis Mart.), Banana (Musa spp.), Biribá (Rolinia), Cacau (Theobroma cacau), Café (Coffeaarabica), Cajá-manga (spondeas dulcis), Carambola (averrhoa carambola), Coco (Cocus nucifera), Cubiu (Solanum), Cupuaçu (Theobroma), Figueira (fícus pohliana), Fruta-pão (artocarpus incisa), Goiaba (Psidium guaiava), Graviola (Annonamuricata), Jambo (Eugenia), Limão (citrus limonum), Limão-Caiana, Mamão (Caricapapaya), Maracujá (Passiflora edulis), Marmeladinha, None, Pitangueira (eugenia uniflora), Pitombeira (talisia esculenta), Pupunha (Bactrisgasipaes), Puruí, Tamarindo (tamarindos indica).
Tubérculos: macaxeira (manihot utilissima), cará branco e roxo (deste temos diversas variedades), cará-inhame (colocasia antiquorum) (7 variedades), gengibre ou mangarataia (zingiber zingiber) (2 variedades), ariá, araruta, (maranta arundinacea), araruta Manoki, batata doce, taioba, (xanthosoma violaceum), batata doce (Ipomea) e açafrão,(crocus sativus L).
Há ainda uma variedade grande de plantas medicinais, hortaliças, flores como o amor agarradinho: Z(antiginum leptopus), importante fonte de alimento das abelhas. E temos ainda uma pequena criação de galinha caipira e garnizé.
Abelhas: Melípona fulva, moça-branca, raiz, jati e mosquitinho.
Pássaros que frequentam o quintal: Assanhaçu, pipira, xexeu ou corruíra, aracuã, um passarinho pequeno amarelinho, beija flor (pelo menos 3 espécies), pica-pau-do-topete-vermelho, sabiá, papagaio, tucano, arara-amarela, maracanã, rolinha, coruja, entre outros.
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Agronegócio: uma burrice insustentável. Artigo de Egydio Schwade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU