20 Fevereiro 2013
"Os escândalos de natureza financeira, o caso Vatileaks e a impressionante sequência dos abuso de menores por parte de muitos padres pedófilos são o produto de um poder degenerado por parte dos bispos". A análise de Gianfranco Svidercoschi é bastante ácida. Na sua longa carreira de vaticanista, ele observou cinco pontificados, contou o Concílio, escreveu 15 livros e atuou como vice-diretor do L'Osservatore Romano, chamado pelo Papa Wojtyla.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 20-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Talvez não seja por acaso que o Papa Ratzinger, novamente no domingo, alertou contra a instrumentalização do poder...
Parece-me evidente. Era possível entender há muito tempo que havia algo que não andava bem, quando, depois do entusiasmo inicial pelo Concílio, ficou claro que estavam bloqueando-o. Basta ver que um dos documentos menos implementados é a Lumen Gentium. Vá lê-lo na internet. Fala-se de colegialidade, abertura, colaboração com os leigos. Penso que a grande questão da pedofilia tem raízes distantes. É preciso memória histórica. Trata-se da degeneração no uso do poder sagrado por parte do clero. Muitos bispos consideraram que deviam encobrir os delitos dos padres pedófilos.
Eles pensaram mais na defesa da instituição do que no Evangelho e nas jovens vítimas?
Mesmo que os bispos que foram dispensados são menos de cem, continua sobre a mesa a raiz cultural que deu origem a essa gestão temerária. Pensaram como se fossem uma casta. Quando falamos do clericalismo, pensamos que é apenas a ingerência da Igreja no Estado, mas, ao contrário, trata-se de uma dinâmica corporativa bem precisa.
No entanto, o Papa Ratziger fez muito e passará para a história por ter usado métodos muito duros para combater a pedofilia.
Em 2001, foi o cardeal Ratzinger que pediu que João Paulo II fizesse mais. Chegou-se a protocolo-guia. Seis anos depois, Bento XVI, diante da situação da Irlanda, se deu conta de que os bispos, talvez, exceto alguns casos raros, se comportavam como antes. Eis a degeneração do poder que ele denunciou também no domingo.
Ele renunciou para purificar a casta?
De alguma forma, eu diria que sim. Lembro que Bento XVI, quando foi para a Alemanha, se lamentou de uma Igreja estruturada de tal forma a ponto de sufocar a fé. Ele falou claro, muitas, inúmeras vezes. Ele deve não ter se sentido ouvido.
A questão da reforma da Cúria é cíclica, mas depois...
Nunca se faz nada a respeito. Estruturas burocráticas, um mecanismo paquidérmico. Eu acredito que o papa nunca se sentiu apoiado pela estrutura, ou ao menos nem sempre. Como se algum mecanismo tivesse sido bloqueado.
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''Escândalos e abusos sexuais: degenerações do poder''. Entrevista com ex-vice diretor do L'Osservatore Romano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU