Por: Jonas | 08 Fevereiro 2013
Gianfranco Pasquino, professor de Ciência Política na Universidade de Bolonha, autor de vários livros e senador progressista, entre 1983 e 1996, e que lecionou nas universidades de Harvard e Columbia, nos Estados Unidos, entre outras, ri quando durante a entrevista é questionado a respeito do próximo governo italiano, ou seja, aquele que surgirá das eleições do dia 24 e 25 de fevereiro, sobre se conseguirá realizar o que o país necessita. “Essa é uma pergunta para um mago”, disse rindo. Contudo, em seguida, expõe uma análise que não poupa críticas, positivas e negativas, a nenhum dos cinco principais candidatos.
“O ‘mago’ Pasquino – disse de si mesmo – pensa que muito provavelmente surgirá um governo conduzido por Pierluigi Bersani, do Partido Democrático (PD), que contará com maioria na Câmara dos Deputados, e que no Senado precisará dos votos de outros senadores, possivelmente da lista do primeiro-ministro Mario Monti. Se este governo poderá resolver os problemas do país, de maneira duradoura, é mais complicado dizer, pois em seu interior a coalizão de centro-esquerda, liderada por Bersani, tem algumas diferenças importantes, sem precisar ir mais longe, em matéria de política econômica”. “Porém, por acaso o PD não possui um programa econômico definido?” Pasquino ri novamente e acrescenta: “Bom, os partidos políticos italianos não são tão fiéis, depois, aos programas que apresentam aos eleitores”. E diz que em nível econômico, o novo governo deverá levar em conta, além do próprio programa, as indicações da Comissão Europeia e a reação dos mercados e dos especuladores, para poder manter o equilíbrio.
Em relação à durabilidade do próximo governo italiano, o especialista afirma que “a centro-esquerda aprendeu que não se pode permitir uma crise de governo. Bersani é uma pessoa capaz e talvez encontre a forma de fazer o governo sobreviver, como também de fazê-lo funcionar. Às vezes, um governo sobrevive porque toma poucas decisões. Contudo, nesta fase, as decisões são importantes e urgentes”. Vale a pena esclarecer que na Itália o primeiro-ministro pode se manter no governo sempre e quando contar com maioria no Parlamento. Caso contrário, declara-se a crise de governo e o presidente da República precisa propor outra pessoa ou convocar eleições.
A entrevista é de Elena Llorente, publicada no jornal Página/12, 07-02-2013. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Professor Pasquino, vamos entrar nos detalhes desta campanha eleitoral. Como é possível que, a cada dia, Berlusconi ganhe pontos nas pesquisas? As pessoas confiam novamente nele?
Não se deve exagerar com esses pontos. Em 2008, possuía 38% do eleitorado, agora mudou, fala-se de 27/28%. É verdade, ele aumentou os pontos desde que começou a batalha eleitoral, há um mês, fazendo uma campanha televisiva muito intensa. No exterior, muitas vezes, pensa-se que Berlusconi é um homem estúpido e corrupto. Ele pode ser corrupto, mas certamente não é estúpido, e é muito capaz para fazer uma campanha eleitoral e de forma criativo. Ele se diverte fazendo-a, enquanto para outros é um grande esforço. Ganhou alguns pontos, mas seguramente não obterá a maioria parlamentar.
E o cômico Beppe Grillo e sua formação “Cinco estrelas”, que ganhou mais de 16% dos eleitores, segundo as pesquisas, representa todos os desiludidos do país, como é dito?
Mais do que desiludidos, eu diria irritados, irritadíssimos, querem acabar com todos os parlamentares, com os políticos. Há muita raiva entre eles. Na realidade, Grillo é um comediante que quando fala para as massas, joga-se. Dias atrás, havia dito que queria bombardear o Parlamento e depois desmentiu. Fez várias vezes este joguinho. Entre seus seguidores há muita gente de esquerda e muitos jovens. Se as pesquisas se confirmarem, ele entrará na Câmara com uns 70 deputados e uns 30 senadores, o que significa muito. Nenhum deles possui experiência no Parlamento, deverão aprender tudo. Serão um elemento de perturbação.
É possível que Monti desenvolva um papel no governo de Bersani? Está claro que Monti não conseguirá vencer para ser o primeiro-ministro. Alguns dizem que ele poderia ser ministro da economia.
Um governo de centro-esquerda, com Monti como ministro da economia? Não acredito que seja possível. Ao contrário, existe a possibilidade de que seja presidente da República, mas não está tão clara. (Esclarecimento: em 2013 expira o mandato de sete anos do presidente da República, Giorgio Napolitano, e o Parlamento deverá escolher um novo candidato).
E do ex-juiz antimáfia Antonio Ingroia e sua formação, “Revolução Civil”, o que você pensa? Destaca-se o fato de que soube arrastar outros magistrados e partidos, como o ex-juiz de “Mãos Limpas”, Antonio Di Pietro, líder da Itália dos Valores (IDV).
Devo esclarecer que não sou muito objetivo quando falo de Ingroia. Acredito, antes que mais nada, que os juízes que travaram batalhas políticas – como contra o presidente da República por um assunto relativo à máfia –, não devem entrar na política. Ingroia é um deles. Além disso, acredito que sua formação não tem nada a dizer, não tem um programa. Está tirando votos da esquerda e o risco é que retire votos em locais onde são mais necessários para a centro-esquerda, como em Lombardia e Sicília, pois assim poderia tornar mais difícil a vida do futuro governo no Senado.
O panorama não é muito otimista...
O panorama não é otimista, mas se vencer, como eu acredito que o PD vencerá, o país estará muito melhor do que com qualquer vitória da centro-direita. O país estará melhor e terá mais oportunidades.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O momento eleitoral na Itália. Entrevista com Gianfranco Pasquino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU