15 Dezembro 2012
Uma empresa do porte da Vale traz benefícios para o Brasil de  diversas maneiras. Mas, para que a mineradora possa ter lucros, o país  também tem dado uma boa ajuda à empresa – a qual, por sinal, tem sido  alvo de questionamentos. A empresa está envolvida em diversos processos  judiciais e administrativos, envolvendo a cobrança de tributos e o  questionamento em torno de isenções.
A reportagem é de Ana Castro e publicada no portal Agência Pública, 25-11-2012.
Os  principais processos judiciais, em termos de valores, estão  relacionados à cobrança do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e  da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). A disputa com a  Receita Federal envolve a cobrança de R$ 30,6 bilhões e gira em torno do  pagamento de imposto sobre o lucro que empresas da Vale tenham  tido no exterior, dentro da compreensão do Artigo 74 da Medida  Provisória 2.158-34/2001. Esse artigo afirma que, para determinação da  base de cálculo do imposto de renda e da CSLL, os lucros de empresas  controladas ou coligadas no exterior “serão considerados  disponibilizados para a controladora ou coligada no Brasil na data do  balanço no qual tiverem sido apurados”.
Antes mesmo de ser cobrada pela Receita Federal, em 2003, a Vale entrou com mandado de segurança na Justiça Federal, para questionar  esse artigo da MP, inclusive considerando-o inconstitucional. Além desse  mandado de segurança, a Vale responde por processo  administrativo por quatro autos de infração, instaurados pela Receita  Federal para cobrança do IRPJ e CSLL.
Todos esses processos encontram-se suspensos por medida cautelar, ajuizada pela Vale,  no Supremo Tribunal Federal (STF), depois de uma decisão do Superior  Tribunal de Justiça (STJ), em maio de 2012, ter permitido à Fazenda  cobrar os valores devidos pela empresa. No dia 9 de maio, o ministro  Marco Aurélio Mello concedeu a liminar a favor da empresa, considerando  que o STF precisa julgar em plenário a validade do citado artigo 74,  questionado por diversas empresas, além da Vale. Segundo informações do site do STF, ainda não há data para esse julgamento.
Não é apenas no Brasil que a Vale contesta o pagamento de impostos sobre o lucro de suas parceiras no  exterior. Desde 2006, a mineradora tem um escritório em Saint-Prex,  Suíça, aberto sobre a alegação de auxiliar na participação em sociedades  no exterior, comercializar seus produtos, manter relacionamento mais  próximo com os clientes, prestar serviços financeiros, administrativos e  legais a outras sociedades e empresas do grupo, entre outras  atividades.
Para se instalar na região, a Vale fez um acordo com autoridades do Cantão de Vaud, região suíça onde fica  Saint-Prex. Segundo informações da assessoria de comunicação da Vale,  a empresa tem recebido, desde o ano de sua instalação, “isenção de 100%  dos tributos cantonais e locais e exoneração de 80% dos tributos  federais por um período de cinco anos, renováveis por mais cinco anos”. A  referida disputa é justamente sobre a aplicação de isenção de imposto  de renda corporativo, os 80% do tributo federal. Isso porque a isenção  básica é de 60% mas, se certas condições forem cumpridas, pode chegar a  80%.
A Vale vem aplicando a isenção de 80% no imposto de  renda corporativo, desde 2006, por entender que as condições impostas  para isso (criação de empregos, construção do prédio em Saint-Prex e  parcerias com universidades da região) estão sendo cumpridas. Mas não é  esse o entendimento da Justiça Suíça. A Pública teve acesso à última  sentença proferida pelo Tribunal Federal Suíço, em 28 de agosto de 2012,  sobre recurso impetrado pela Vale contra uma decisão que revia e aumentava o valor de imposto devido, de 2007 a 2009.
Em  dezembro de 2011, o Gabinete do Imposto sobre as Sociedades do Cantão  de Vaud, Administração Cantonal, emitiu as decisões sobre o imposto  devido pela empresa para esses três anos, e o Governo Suíço recorreu  dessas três decisões. Por isso, em 22 de março de 2012, a Administração  Cantonal emitiu três novas decisões, substituindo as de dezembro de 2011  e dobrando o valor cobrado, chegando a um total de US$ 226 milhões,  alegando que as condições para a isenção de 80% no imposto não haviam  sido cumpridas.
Em julho de 2012, a Vale interpôs recurso  de direito público para a Justiça Federal da Suíça, alegando ter havido  violação do direito de ser ouvida e que haveria ocorrido uma violação  das regras do procedimento e uma aplicação arbitrária da lei. O recurso  foi rejeitado em todas as suas alegações, e o tribunal cobrou da empresa  o pagamento dos custos do processo, fixados em 60 mil francos suíços,  em torno de R$ 130 mil.
Uma das suspeitas de problemas com a Vale é que ela esteja transferindo de forma irregular lucros de todas suas  atividades pelo mundo para a Suíça, exatamente por se beneficiar dessa  isenção de impostos. Dessa forma, estaria quebrando o compromisso  firmado para ter acesso ao benefício fiscal. Segundo o Conselho da  Prefeitura de Lausanne, que fica no Cantão de Vaud, a Vale pagou R$ 612 milhões em impostos de 2006 a 2010. De acordo com o formulário de referência de 2012, a Vale Internacional S.A., com sede na Suíça, tem um valor contábil de R$ 43,8  bilhões, muito superior ao de outras controladas no exterior, como as  da Áustria ou do Canadá, por exemplo, que valem R$ 7,85 bi e R$ 9,74 bi  respectivamente.
Outra questão que se coloca é que a Vale Internacional começou a incorporar diversas filiais anteriormente  instaladas em paraísos fiscais e passou a registrá-las na Suíça, como  mostra documento da Junta Comercial de Vaud. São as empresas: RDIF  Overseas LTD, que veio das Bahamas; CVRD Overseas AS, das Ilhas Cayman;  Brasamerican Limited, de Bermudas. A própria Vale International S.A. era uma empresa que tinha razão social registrada como Itabira Rio Doce  Company Limited, com base em Nassau, Bahamas, tendo sido inscrita pela  primeira vez em dezembro de 1996, meses antes da privatização da então  Companhia Vale do Rio Doce.
Sobre a briga judicial na Suíça, a Vale afirmou, por meio de sua assessoria: “Os processos que tratam do mérito  não estão concluídos e, portanto, não há decisão final sobre o  pagamento de qualquer valor extra”. A empresa ainda cita uma afirmação  creditada ao chefe da Administração de Impostos de Vaud, Philippe  Mailard: “Por enquanto, tratamos da questão de procedimento. Agora que o  Tribunal Federal se pronunciou, vamos continuar para definir a questão  de fundo”. A empresa diz ainda que “cumpriu todos os compromissos  assumidos com a Suíça” e que “permanece disposta a fornecer as  explicações solicitadas, a dialogar com o Governo para encontrar uma  solução conjunta caso seja necessário e a buscar na Justiça o  cumprimento dos acordos que a levaram a estabelecer-se no país”.
Lei Kandir
A Vale,  como tantas outras empresas, é isenta de diversos impostos para  exportação. Para a mineradora, essa é uma vantagem enorme, mas nem tanto  para o país e para os estados de origem da extração mineral, que deixam  de ganhar muito dinheiro. No caso dos impostos estaduais, desde 1996,  com a aprovação da chamada Lei Kandir (Lei Complementar n°87), o Imposto  sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal fonte de  arrecadação dos Estados, deixa de valer para as exportações de alguns  produtos, dentre eles os minerais. Os tributos federais dos quais esses  produtos são isentos são: Imposto sobre Exportação (IE), Imposto sobre  Produtos Industrializados (IPI ), Imposto sobre Operações Financeiras  (IOF, que pode ter alíquota zero ou ser compensado quando o exportador  contratar operações com derivativos) e Contribuição para o Financiamento  da Seguridade Social (Cofins) e PIS/Pasep, que podem ser ressarcidos.
São tantas isenções que é difícil calcular quanto o Brasil deixa de arrecadar no total. Mas, podemos saber o quanto a Vale recebeu no último ano com a exportação dos chamados bulks materials, o  carro-chefe da mineradora: minério de ferro, pelotas, manganês,  ferroligas e carvão. A receita operacional com as exportações destes  produtos foi de US$ 39,6 bilhões em 2011, cerca de 65% da receita total  da mineradora. No mesmo período, a empresa pagou US$ 1,39 bilhão de  impostos sobre vendas e serviços, em todo o mundo.
Por  causa das isenções nas exportações, o Brasil é considerado um país  altamente rentável para a mineração, conforme revelou um estudo de Brian  Mackenzie, geólogo da Universidade de Queen´s, em Ontario, Canadá.  Segundo ele, o Brasil tem uma das cargas tributárias mais baixas do  mundo para o setor, em torno de 39%, sendo que, na maior parte dos  países produtores, Canadá, Austrália, América do Sul, a carga é de 50%  ou mais.
Entre os impostos que não são eliminados, estão os  encargos trabalhistas, além de, teoricamente, já que nem todas as  prefeituras as cobram, taxas municipais. Já o IRPJ e a CSLL, a Vale paga, mas contesta os valores cobrados na Justiça, como se viu.
A  empresa também tem que pagar a Compensação Financeira pela Exploração  de Recursos Minerais (CFEM), os royalties da mineração, com uma alíquota  que varia de acordo com o mineral e que é distribuída entre União  (12%), Estado (23%) e município de origem da extração (65%). Essa  compensação financeira foi instituída pela Constituição de 1988, sobre  os chamados “bens da União”. Uma lei posterior, de 1990, definiu que o  cálculo da alíquota da CFEM deve ser feito sobre o total das receitas de  vendas, excluídos os tributos sobre comercialização, despesas com  transporte e seguro. Mas, até hoje, a Vale e o Departamento  Nacional de Produção Mineral (DNPM) não chegaram a um acordo sobre os  valores a serem pagos. Entre os processos envolvendo tributos, a CFEM é a  que envolve o maior número de disputas em que a Vale está envolvida: são 52 ações judiciais e 145 processos administrativos.
“Maximixar valor”
Nascida  em 1942, a partir da nacionalização de uma companhia inglesa que atuava  em Minas Gerais e do compromisso de fornecer ferro na 2ª Guerra  Mundial, a Vale, hoje, é uma gigante global. Apenas em 2011, teve  uma receita líquida de R$ 103,2 bilhões. É a segunda maior empresa de  metais e mineração do mundo, e a principal produtora mundial de minério  de ferro. Além do ferro, explora manganês, níquel, cobre, alumínio,  cobalto, ouro, prata. Trabalha, ainda, com fertilizantes e energia  (hidrelétricas, óleo e gás natural). Além disso, desde há várias  décadas, mantém uma rede logística enorme, que atualmente conta com  ferrovias, portos e terminais marítimos.
Além do Brasil, a Vale explora minas em 27 países e está presente, ao todo, em 37 nações, com  escritórios, joint ventures (associações em projetos), pesquisa e  prospecção. De acordo com o relatório anual da Vale de 2011, no ano passado a China respondeu por 32,4% da receita operacional bruta da empresa, ou seja, US$ 20 bilhões.
“Nosso principal objetivo é maximizar valor para os acionistas”. A frase está no FactSheet da Vale,  uma espécie de resumo dos valores da empresa e de seus resultados. Ali  também ficamos sabendo que, segundo o Boston Consulting Group,  consultoria que é líder mundial em estratégia de negócios, a mineradora  foi escolhida como uma das “25 maiores geradoras de valor sustentável  aos acionistas no mundo”.
E a empresa tem cumprido bem o objetivo  a que se propõe. Nas palavras de Pedro Galdi, analista da investimento  da Corretora SLW, “a Vale vale”. “A mineradora tem uma das  melhores políticas de distribuição de rendas do mercado. Eles distribuem  metade do lucro líquido e ainda pagam dividendos adicionais em alguns  anos”, comenta ele.
Os cerca de 400 mil acionistas, cujos nomes ou perfis a empresa não divulga, estão em todos os continentes, já que a Vale tem ações negociadas em lugares tão diversos como as bolsas de São  Paulo, Nova York e Hong Kong. Segundo dados da própria empresa, em 2011  houve um retorno recorde aos acionistas de US$ 9 bilhões, de um lucro  líquido total de US$ 22,6 bilhões. Este ano, o desempenho da empresa  diminuiu, com a queda do preço do minério de ferro, seu principal  produto. Em 2012 foram pagos US$ 6 bilhões aos acionistas.
A  empresa se tornou privada em 1997, depois de um leilão até hoje  questionado na Justiça. Atualmente, a estrutura acionária dela é  composta da seguinte maneira, para os acionistas com direito a votos em  assembleia: a Valepar detêm 52,7% das ações ordinárias; a  BNDESPAR, subsidiária do BNDES, tem 6,7%; o Aberdeen Asset Managers  Limited (grupo global de gestão de investimentos, baseado na Escócia)  tem pouco menos de 1% das ações ordinárias, e os diretores e executivos  da Vale, como um grupo, também possuem pouco menos de 1 % das ações ordinárias. Assim, a Valepar é a controladora da empresa.
Os principais acionistas da Valepar são os fundos de pensão do Banco do Brasil (Previ), Petros, Funcef,  Fundação Cesp, reunidos na Litel Participações S.A., que detêm 49% das  suas ações ordinárias. Além da Litel, também são acionistas da Valepar e, portanto, controladores da Vale,  a Bradespar, companhia de investimentos do grupo Bradesco, com 21,21%  das ações ordinárias, Mitsui, empresa de origem japonesa, com 18,24%,  Eletron S.A., uma empresa do grupo Opportunity, da família Dantas, com  0,03%, e o BNDESPAR, que também tem ações da Valepar, 11,51%.
Portanto, o Estado brasileiro está presente no controle da Vale S.A., por meio do BNDESPAR, que tem ações ordinárias da Vale e da própria Valepar,  assim participando do lucro distribuído aos acionistas. O governo  brasileiro possui 12 ações de classe especial, as chamadas golden share.  Segundo relatório da Vale, de 2011, as golden share são ações  preferenciais que, além de darem direito a voto e prioridade no  recebimento de dividendos, permitem o veto a questões como mudança do  nome e localização da empresa; no objeto social, no que se refere à  exploração mineral; liquidação da sociedade; venda ou encerramento de  atividades ligadas ao minério de ferro, como minas, jazidas, ferrovias,  portos e terminais marítimos. No caso da Vale, essas ações golden share foram criadas durante o processo de privatização da empresa, em 1997.
 
Funcionalismo estatal
Em outubro, o Conselho Administrativo da Vale ganhou novo presidente, Dan Conrado. Funcionário de carreira do Banco  do Brasil, advogado, começou na empresa como menor aprendiz em 1980 e  hoje é o presidente da Previ, o maior fundo de pensão da América Latina.
Como a Previ é o maior acionista da Litel S.A., e consequentemente da Valepar,  em geral seu presidente é indicado para o conselho administrativo da  mineradora. Dan Conrado vem para substituir Ricardo Flores, presidente  da Previ até maio que, em setembro, assumiu o comando da Brasilprev,  empresa de previdência complementar controlada pelo Banco do Brasil.  Tentamos marcar uma entrevista com Dan Conrado, mas, segundo a  assessoria de imprensa da Previ, ele ainda não se pronunciou como  presidente do conselho da Vale e, enquanto não o fizer, não dará  entrevistas.
Segundo a Vale, ao todo são 11 membros do conselho  eleitos na assembleia geral dos acionistas. Há representantes dos  trabalhadores da empresa, da Mitsui, da Valepar, Bradespar/Bradesco.  Além de Dan Conrado, um segundo membro do conselho, José Ricardo  Sasseron, também é da Previ, onde atua como diretor de Previdência  Social.
Já representantes do setor público são três: Robson  Rocha, vice-presidente de gestão de pessoas e desenvolvimento  sustentável do Banco do Brasil; Nelson Henrique Barbosa Filho,  secretário executivo do Ministério da Fazenda; Luciano Coutinho, atual  presidente do BNDES, maior financiador da Vale.
A Vale conta com  diversas linhas de crédito e financiamento em todo o mundo, mas o maior  crédito, de uma única instituição, foi dado pelo BNDES. O empréstimo, de  R$ 7,3 bilhões , foi assinado em abril de 2008, meses depois de Luciano  Coutinho, presidente do banco, assumir um posto no Conselho de  Administração da Vale. Na época, Coutinho chegou a declarar, segundo os  jornais: “Trata-se da maior linha já disponibilizada pelo BNDES para uma  empresa só”. Uma das condições do empréstimo é que esse valor só  poderia ser investido no Brasil, por cinco anos (prazo que termina agora  em 2012).
A maior parte desse dinheiro está sendo investida no  aumento da capacidade de extração de minério de ferro na região de  Carajás, projetos Carajás 40 MTPA e Serra Sul S11D, que pretendem mais  do que dobrar a produção local. E também na duplicação da Estrada de  Ferro Carajás. Todos projetos que têm como objetivo final a exportação  de minério de ferro.
O BNDES tem como uma das principais fontes  de recurso o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A arrecadação do  Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Formação do  Patrimônio do Servidor Público (Pasep) de todos os trabalhadores foi  destinada a esse fundo. A lógica nessa vinculação é que esse dinheiro  sirva para apoiar projetos que gerem empregos, criando novas  oportunidades para os trabalhadores.
“A cada emprego na extração  mineral, quatro a cinco empregos diretos são gerados nas cadeias de  transformação mineral a jusante. A exportação de minérios em forma bruta  gera, proporcionalmente, menos emprego e renda, deixando o País mais  vulnerável às flutuações dos preços internacionais. A consequência mais  direta é a exportação de empregos e oportunidades em potencial para  outros países”, diz o texto do Plano Nacional da Mineração 2030,  documento do Ministério de Minas e Energia que traça as perspectivas  para esse setor da economia para as próximas duas décadas. Baseando-se  em dados de 2008, o plano chega ao seguinte resultado: as exportações  brasileiras de minério de ferro bruto resultam em 680 mil empregos  exportados.
Em  uma nota da própria assessoria de imprensa do BNDES, em 2008, o banco  dizia que, com os recursos que a Vale planejava investir, a empresa  deveria aumentar o número de postos de trabalho em 62 mil novos  empregos. Naquele ano, segundo o BNDES, a Vale tinha cerca de 152 mil  empregados, entre diretos e indiretos. Hoje, cinco anos depois, a Vale tem 139 mil trabalhadores, segundo informa seu site.
Os projetos  de siderurgia, considerados os grandes geradores de emprego na cadeia  produtiva da mineração, quase não aparecem nos planos da Vale. Segundo  informou a assessoria de imprensa da mineradora, apenas uma siderúrgica,  a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará, foi aprovada pelo  Conselho de Administração e recebeu investimentos em 2012. Outras  grandes promessas estão paradas ou foram canceladas, como é o caso da  Aços Laminados do Pará (Alpa), que seria construída em Marabá (PA). Já a  Companhia Siderúrgica Ubu (CSU), no Espírito Santo, aguarda a definição  de um sócio.
 
Investimento na mineração
O governo  brasileiro trabalha com a expectativa de crescimento para a mineração. O  Ministério de Minas e Energia publicou no ano passado o Plano Nacional  de Mineração (PNM), um documento de quase duzentas páginas, em que  descreve as perspectivas para o setor até 2030. O trabalho serviu como  base para o projeto de lei que deve definir um novo Marco Legal para a  Mineração.
Atualmente, o texto está em avaliação dentro do  governo, e o Ministério de Minas e Energia e a Casa Civil não têm  divulgado o documento. Enquanto o novo marco não se torna público,  podemos ter uma ideia do planejamento do governo para a mineração por  meio do PNM 2030. E esses planos interessam à Vale, como a maior  mineradora do Brasil e da América Latina.
A previsão do MME é a  de que aumentará de três a cinco vezes a produção mineral no país, de  acordo com o crescimento da demanda pelos recursos minerais, tanto no  Brasil como no exterior. O governo pretende contribuir com esse aumento  com a ampliação do conhecimento geológico nacional. Aparentemente, o  setor mineral como um todo não tem grande presença na economia  brasileira: representa 4,1% do PIB brasileiro, ficando à frente apenas  de dois outros setores, dentre os 14 que compõem o indicador. O perfil é  outro se observamos a participação do setor na geração de saldo  comercial: nesse quesito, a mineração vem em primeiro lugar.
Como  incentivar um setor exportador de matéria-prima a investir dentro do  país? O Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral,  Carlos Nogueira, do MME, admite o problema: “Há preocupação do governo  em incentivar e propiciar cada vez mais a verticalização da produção e  não ficar dependente da exportação de recursos naturais primários. As  ações do poder público irão diminuir essa dependência quanto às  commodities e propiciarão a exportação de produtos semiacabados e  acabados”.
O que não está claro é se serão mantidas as isenções  fiscais, que hoje incentivam empresas como a Vale a exportar empregos,  como se viu. Segundo o secretário, para que seja possível a mudança no  perfil do setor, o governo “irá manter o apoio a projetos de  infraestrutura, buscará aprovação de uma nova legislação, menos  burocrática e mais justa, bem como manterá os diversos programas de  incentivo ao desenvolvimento do setor”.
“O governo aposta na  expansão da atividade mineral, mas sem consultar a população”, diz  Rodrigo Salles Santos, sociólogo da Universidade Federal de Juiz de  Fora, especializado em mineração. O problema, para Santos, é que o local  onde existe extração mineral não recebe outros incentivos. “A mineração  drena recursos que estariam em outros setores, como o turismo, por  exemplo. O dinheiro é usado para a infra-estrutura da mineração, sem  construir alternativas. E quando a mina se encerra, tem uma economia  dependente dessa fonte que acabou e não tem alternativa”.
O  governo diz estimular “ações, através de políticas públicas, de modo  que, tão logo cessem as atividades de mineração, permaneça um legado  duradouro de atividades econômicas diversificadas, como educação,  desenvolvimento de habilidades voltadas às necessidades das comunidades  envolvidas, saúde pública e áreas reabilitadas. Desse modo, a mineração  converte o valor intrínseco de um mineral no subsolo em recursos e na  capacidade que permita à própria comunidade se estabelecer conforme os  seus desejos”.