Por: André | 13 Abril 2012
A Associação de Sacerdotes Irlandeses, que representa cerca de um terço dos sacerdotes da Irlanda, disse estar “incomodada” com o silêncio imposto ao padre Tony Flannery, um de seus membros fundadores.
A reportagem é de Gerard O’Connell e está publicada no sítio Vatican Insider, 10-04-2012. A tradução é do Cepat.
A Associação de Sacerdotes Irlandeses publicou um comunicado na tarde desta segunda-feira de Páscoa, 9 de abril, no qual expressou sua “extrema inquietude e mal-estar” com esta situação. Sua declaração chegou depois que vários meios de comunicação irlandeses, entre eles o The Irish Catholic (5 de abril) e The Irish Times (9 de abril), informaram que, em meados de março, o padre Flannery (65 anos), membro da Congregação do Santíssimo Redentor – cujos membros são popularmente conhecidos como “redentoristas” –, havia sido convocado a Roma para uma reunião com seu superior geral, o padre Michael Brehl.
Isto aconteceu aproximadamente uma semana antes que o Vaticano publicasse o resumo dos resultados da visita apostólica à Igreja irlandesa ordenada pelo Papa Bento XVI depois do escândalo dos abusos sexuais de menores por parte de sacerdotes.
Em Roma, o padre Flannery inteirou-se de que o padre Brehl, seu superior geral canadense, havia sido convocado previamente à Congregação para a Doutrina da Fé, onde, de acordo com as fontes, seu prefeito, o cardeal William Levada, lhe havia informado que a Congregação para a Doutrina da Fé estava preocupada com a “ortodoxia” de certos pontos de vista expressos pelo padre Flannery em artigos que havia escrito para a revista Reality. A revista mensal é publicada pelos redentoristas irlandeses, e tem uma tiragem de cerca de 6.500 exemplares.
Particularmente, preocupava à Congregação para a Doutrina da Fé a ortodoxia daquilo que o padre Flannery havia escrito em relação à contracepção, à possibilidade de sacerdotes casados na Irlanda e à ordenação de mulheres como sacerdotes. A Congregação para a Doutrina da Fé também parece ter problemas com a função do padre Flannery como presidente da Associação de Sacerdotes Irlandeses – que hoje tem como membros 820 dos 3.400 sacerdotes irlandeses – e gostaria que se afastasse do cargo.
Algumas fontes dizem que o superior geral disse ao padre Flannery que está proibido de escrever ou falar sobre qualquer um dos temas anteriormente mencionados. Além disso, pediu ao sacerdote irlandês que se retire a um mosteiro durante cerca de seis semanas para rezar e refletir sobre tudo isso. Ao final deste período, o superior geral espera que o padre Flannery volte “para pensar com a Igreja” (Sentire cum Ecclesia).
O Vatican Insider também se inteirou de que o editor da revista Reality, o padre Gerard Moloney, sacerdote redentorista, também recebeu instruções para não publicar nada sobre os temas anteriormente mencionados. Além disso, de agora em diante, a revista Reality deverá ser supervisionada por um teólogo antes de sua publicação.
O cardeal Levada quer que o superior geral dos redentoristas lhe envie relatórios no final de julho para assegurá-lo de que a situação do padre Flannery tenha sido solucionada.
O Vatican Insider tentou fazer contato com o superior geral para ouvir seus comentários sobre este assunto, mas o padre Brehl já havia ido a Roma, e não conseguimos contatá-lo a tempo para a redação deste artigo.
Por outro lado, a Associação de Sacerdotes Irlandeses, em sua declaração, comentou o ocorrido. Disse que “uma abordagem deste tipo, concentrando-se individualmente sobre o padre Flannery e, inevitavelmente, sobre os membros da associação, é uma intervenção extremamente desacertada no contexto pastoral atual na Irlanda”.
A Associação de Sacerdotes Irlandeses afirmou “nos termos mais contundentes possíveis” sua “confiança e solidariedade para com o padre Flannery” e afirmou claramente que acredita que “esta intervenção é injusta, injustificada e imprudente”.
Disse que os problemas propostos pela associação desde a sua fundação, há menos de dois anos, e pelo padre Flannery como parte da equipe de lideranças, “não são um ataque nem um rechaço dos ensinamentos fundamentais da Igreja. Pelo contrário, são uma importante reflexão por parte de uma associação de mais de 800 sacerdotes irlandeses – que prestaram serviços durante muito tempo à Igreja católica na Irlanda – sobre problemas que afloram nas paróquias de todo o país”.
A Associação de Sacerdotes Irlandeses rechaçou a descrição que dela fizeram “alguns grupos reacionários marginais” como “um pequeno círculo de sacerdotes com uma agenda radical” e disse que “protestaram com veemência contra este injusto retrato”.
“Estamos e desejamos seguir estando no coração da Igreja, comprometidos em colocar em prática as reformas do Concílio Vaticano II”, afirmou a associação.
Neste contexto, disse, “queremos manifestar a nossa extrema preocupação e mal-estar com a situação atual, e não menos pelo segredo que cerca tais intervenções e as questões sobre os processos devidos e à liberdade de consciência que estas intervenções fazem aflorar”.
A Associação de Sacerdotes Irlandeses disse que acredita que nesta conjuntura crítica na história “esta forma de intervenção – o que o arcebispo Martin chamou recentemente de “caça à heresia” – não serve de nada à Igreja católica da Irlanda e poderia ter o efeito não desejado de exacerbar uma percepção crescente de uma significativa “desconexão” entre a Igreja irlandesa e Roma”.
Uma fonte disse ao Vatican Insider que a declaração da Associação de Sacerdotes Irlandeses citou apenas uma parte do comentário do arcebispo Marin. Na realidade, ele teria dito: “Não estou dizendo que estejamos indo à caça da heresia, mas o que deveríamos fazer é continuar com um diálogo com a comunidade teológica, afinando a reflexão em áreas que na realidade vão além do que é aceitável na mudança da teologia católica”.
Estas observações do arcebispo de 20 de março respondiam ao pedido de um comentário com respeito ao resumo dos resultados da visita apostólica à Igreja irlandesa, que afirmam que hoje na Irlanda existe “uma certa tendência, não dominante, mas, de qualquer modo bastante difundida, entre os sacerdotes, religiosos e leigos, de defender opiniões teológicas discordantes do ensino do Magistério”.
Parece que o desafio de Roma em relação ao padre Flannery deveria ser visto neste contexto mais amplo.
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A Associação de Padres Irlandeses está “incomodada” com o silêncio imposto a um de seus fundadores - Instituto Humanitas Unisinos - IHU