21 Março 2012
No 7º Simpósio Nacional sobre Catolicismo e Homossexualidade, nos Estados Unidos, o bispo australiano emérito Geoffrey Robinson (foto) pediu, na última sexta-feira, "um novo estudo de tudo o que tem a ver com a sexualidade" – uma espécie de estudo que ele previu que "terá uma profunda influência sobre o ensino da Igreja referente a todos os relacionamentos sexuais, tanto hetero quanto homossexuais".
A reportagem é de Jerry Filteau, publicada no sítio National Catholic Reporter, 16-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Se o ensino da Igreja sobre os atos homossexuais deve mudar, o ensino básico que rege todos os atos sexuais também devem", disse.
Robinson, padre desde 1960 e bispo auxiliar de Sydney de 1984 até sua aposentadoria por motivos de saúde em 2004, disse no simpósio de Baltimore, promovido pela New Ways Ministry, que, "pelo fato de o sexo ser uma forma tão vital de expressar o amor, o sexo é algo sempre sério".
Essa visão, defendida pela Igreja, está em contraste com a percepção geral da sociedade moderna, que "parece estar dizendo cada vez mais que o sexo em si não é algo sério", afirmou.
Para que a Igreja possa lidar com o sexo seriamente, no entanto, isso não significa por si só que a Igreja deve continuar aceitando acriticamente suas compreensões tradicionais da moral sexual, defendeu.
Robinson foi um dos conferencistas de destaque do simpósio ocorrido entre os dias 15 e 17 de março, que reuniu cerca de 400 gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros, católicos questionadores e membros da Igreja que exercem seu ministério junto a eles. O primeiro dia do encontro foi dedicado a um retiro espiritual orientado pelo bispo.
No almoço do simpósio na sexta-feira, o governador de Maryland, Martin O'Malley, se dirigiu ao grupo sobre uma lei estadual pendente, que ele havia assinado poucos dias antes, legalizando no Estado o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Os opositores da nova lei lançaram uma campanha para um referendo popular em novembro, para revogá-la, mas várias pesquisas recentes indicam que uma ligeira mas crescente maioria da população eleitoral do Estado apoia a legalização de casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Em sua palestra à tarde – disponível, juntamente com outros escritos, no seu site – Robinson não abordou a crescente questão em debate nos EUA sobre se as uniões entre fiéis do mesmo sexo devem ser abençoadas com o título e com todos os direitos legais do "matrimônio". Mas ele argumentou que a avaliação moral da Igreja a respeito de tais uniões mudaria drasticamente se se reavaliasse a sua abordagem tradicional a toda a atividade sexual humana.
Ele disse que, enquanto a ênfase da Igreja sobre o significado profundo do sexo é correta, a sua abordagem do direito natural à moral sexual e a sua interpretação das antigas passagens bíblicas sobre a homossexualidade e outras atividades sexuais precisa de correção.
Robinson – cujas atividades antes de se tornar bispo incluíam o ensino de direito canônico e a presidência da Sociedade de Direito Canônico da Austrália e da Nova Zelândia – disse que a sua própria percepção de como o sexo era sério aconteceu quando os bispos australianos o chamaram para chefiar uma investigação sobre as causas do abuso sexual clerical contra menores em seu país e sobre como resolver esses problemas.
"Paradoxalmente, foram os efeitos do abuso sexual de menores, mais do que qualquer outra coisa, que me convenceram de que o sexo é algo sério", disse.
Ele começou sua conferência com três premissas básicas:
"Se o ponto de partida [no ensino da Igreja atual] é que todo ato sexual deve ser tanto unitivo quanto procriativo, não há nenhuma possibilidade de aprovação dos atos homossexuais", disse Robinson.
No entanto, ele questionou o argumento da lei natural, especialmente conforme estabelecido pelos papas recentes, e sugeriu que uma leitura mais nuançada dos mandamentos divinos na Escritura e dos ensinamentos de Jesus levaria a um conjunto diferente de normas morais – começando por uma mudança no ensino da Igreja de que todo ato ou pensamento sexual que caia fora de um ato conjugal de amor aberto à procriação é um pecado mortal por ser uma ofensa direta contra o próprio Deus em seu plano divino para a sexualidade humana.
"Durante séculos, a Igreja ensinou que todo pecado sexual é um pecado mortal. Esse ensinamento pode não ser proclamado hoje em voz tão alta quanto antes, mas foi proclamado por muitos papas, nunca foi retratado e afetou inúmeras pessoas", afirmou Robinson.
"Esse ensinamento fomentou uma crença em um Deus incrivelmente zangado", acrescentou, "já que esse Deus condenaria uma pessoa a uma eternidade no inferno por um único momento não arrependido de prazer deliberado decorrente do desejo sexual. Eu simplesmente não acredito em um Deus como esse. De fato, eu positivamente rejeito esse Deus".
Robinson tem sido uma fonte de polêmica na Igreja desde ao menos 2002, quando ele pediu que o Papa João Paulo II encomendasse um estudo em nível eclesial sobre o abuso sexual clerical de menores na Igreja.
Seu livro de 2007 Confronting Power and Sex in the Catholic Church: Reclaiming the Spirit of Jesus [Confrontando poder e sexo na Igreja Católica: Reivindicando o Espírito de Jesus], atraiu a ira de seus colegas bispos da Austrália, que se opuseram à sua turnê de palestras em 2008 nos Estados Unidos para falar sobre algumas das questões abordadas no livro.
O texto completo de sua conferência no simpósio do New Ways Ministry, assim como outros escritos e referências a polêmicas em que Robinson se envolveu em seus esforços para mudar a forma como a Igreja aborda as questões da moral sexual – muito detalhados para serem resumidos em um único artigo – podem ser encontrado em seu site.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Bispo pede mudança no ensino da Igreja sobre a sexualidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU