10 Março 2012
No país da tecnologia, os robôs vieram ajudar os afetados pelo terremoto e pelo tsunami que devastaram a costa nordeste do Japão em 11 de março do ano passado. Paro, o robô de um filhote de foca, com pêlos brancos e olhos pretos, faz as delícias de crianças e adultos na cidade de Kesennuma (prefeitura de Miyagi), onde é utilizado para tratar o estresse e a depressão que sofrem muitos dos sobreviventes da catástrofe, que deixou 15.854 mortos e 3.276 desaparecidos.
A reportagem é de Jose Reinoso, publicada pelo jornal El Pais e reproduzida pelo Portal Uol, 10-03-2012.
O boneco de pelúcia automatizado está disponível para os moradores do povoado de moradias pré-fabricadas temporárias que foi instalado em um estádio de beisebol na cidade, na qual bairros inteiros foram pulverizados pelo tsunami. Kesennuma é um importante centro de pesca de atum e tubarão.
Paro emite piados, baixa a cabeça, fecha os olhos e move as aletas quando é acariciado. Também responde a sons. "É importante que os evacuados mantenham a comunicação. Esperamos que Paro a favoreça", diz Kazuhiro Kojima, 39, um pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industriais Avançadas, situado em Tsukuba (a cerca de 70 km a nordeste de Tóquio), onde foi desenvolvido. "Em uma casa pré-fabricada é muito difícil ter um mascote. Paro lhes oferece uma sensação de afeto", afirma. Para muitos sobreviventes, é um substituto dos animais que perderam arrastados pelas águas.
Um ano depois do desastre, mais de 340 mil pessoas continuam desalojadas, a imensa maioria em pequenas moradias pré-fabricadas. Muitas famílias que antes viviam juntas hoje estão separadas, já que os jovens se mudaram para outras cidades em busca de trabalho, enquanto os mais velhos permanecem perto de seus povoados, nesses assentamentos temporários.
Depois do terremoto de Kobe (capital da prefeitura de Hyogo), em 1995, houve um forte aumento de casos de depressão e transtornos mentais, sendo uma de suas causas a perda da residência. A situação está se repetindo agora, segundo alguns especialistas. As comunidades se romperam e muitos idosos, afastados de seu entorno, sofrem ansiedade e depressão, e os suicídios e os casos de demência senil cresceram. Os organizadores da terapia, que ocorre em uma pequena e acolhedora casa que pode se deslocar sobre rodas, oferecem outros artefatos eletrônicos, incluindo um autômato que chamam de professor de alongamento e um robô para lavar a cabeça, que estiveram em testes duas semanas. Kojima diz que espera que os robôs ofereçam aos sobreviventes uma oportunidade de reconstruir suas comunidades, para o que é muito importante o apoio mental.
Os tratamentos com robôs não são novos. Paro já foi utilizado como terapia de mascote, um método de cura empregado há anos nos hospitais e nos serviços de cuidados de idosos, contra a depressão e a demência. Quando se pergunta por que escolheram uma foca em vez de um mascote mais comum, responde: "Tentamos com um gato, mas as crianças esperavam do robô a mesma reação de um animal verdadeiro".
A casa rolante na qual instalaram o centro de terapia pode se deslocar para onde for necessário em caso de emergência. Utiliza botijões de gás para gerar eletricidade e está conectada a uma usina de tratamento de resíduos, também móvel, que permite administrar os dejetos do banheiro. "Se ocorresse algo em Tóquio, poderíamos colocar estas unidades por todo lado", diz Kojima, referindo-se ao "big one", o grande terremoto que os especialistas preveem que ocorrerá na capital ou no sul do país antes de 30 anos, devido ao empuxe e ao movimento que as placas tectônicas do Pacífico e das Filipinas estão experimentando sob o Japão.
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Japão utiliza robôs contra estresse pós-terremoto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU