11 Janeiro 2012
Na primeira Constituição, sobre a liturgia, já há a eclesiologia de comunhão da Lumen Gentium, mas ainda não a entendemos. A 50 anos da convocação do Vaticano II, fala o Mons. Iginio Rogger, ainda hoje o maior historiador do Concílio de Trento e, nos anos 1960, um dos protagonistas da reforma litúrgica conciliar.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada na revista Vita Trentina, 08-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Do Concílio de Trento, ele conhece todos os detalhes, mas sobre o Vaticano II ele também não brinca e cita de cor passagens das Constituições, em latim, porque, diz, "a tradução italiana muitas vezes perdeu o pleno sentido do original". Mons. Iginio Rogger, nascido em 1919, professor de história da Igreja e de liturgia, foi um dos seus protagonistas trentinos.
Eis a entrevista.
Como foram acolhidos o anúncio e a convocação do Concílio?
Ninguém esperava. No anúncio em janeiro de 1959, na Basílica de São Paulo, eu estava trabalhando no quarto volume de História da Igreja: parecia ser o fim do Vaticano I, ainda sem uma solene conclusão formal. Mas lembremos o que aconteceu aqui no momento da convocação. Em fevereiro de 1961, por decisão-relâmpago do papa, encerrava-se o episcopado De Ferrari, devido à doença, e o governo da diocese era confiado a um administrador apostólico, o bispo Gargitter, de Bressanone. Seguiu-se um biênio em que a atenção estava sim in loco, mas aumentavam as interrogações sobre o que estava acontecendo lá em cima. A incerteza, em parte, terminou com a nomeação de Gottardi, em fevereiro de 1963. Nesse meio tempo, iniciou um Concílio que não se assemelha a nenhum dos anteriores, porque desaparecem todos os velhos esquemas.
Em que sentido?
No número de pessoas envolvidas e nas intenções: não para condenar heresias, mas sim para atualizar ideias e estruturas. E por uma definição mais exata e completa da Igreja, embora o nosso contexto catequético não sentia nenhuma necessidade disso. A palavra innovatores era conhecida pelo Concílio de Trento em âmbito protestante: algo a ser combatido, assim como as doutrinas secularizantes do século XVIII. E ainda a recomposição da unidade dos cristãos, a conexão com o mundo contemporâneo...
De Trentino, quem estava presente em Roma?
Gargitter representava a todos nós. Em junho de 1963, entrou Gottardi, em julho, abriu-se o Museu Diocesano e, em dezembro, o quarto centenário da conclusão do Concílio de Trento. Enquanto isso, com a morte de Roncalli, sucedeu Paulo VI, e, nos dias 3 a 4 de dezembro, somos admitidos ao Concílio como delegação trentina: no dia 3 para a solene comemoração da clausura do Concílio de Trento; no dia seguinte para a aprovação da Sacrosanctum Concilium, a primeira Constituição Conciliar, apesar de todas as manobras dos tradicionalistas.
Em que termos ela é inovadora?
Enquanto me perguntava se a Igreja deveria ser monarquia papal ou uma colegialidade de responsabilidades, a Sacrosanctum Concilium já oferece uma resposta. É iluminadora a aprovação: essas coisas placuerunt aos Padres do Concílio, ou seja, "foram decididas". É um parlamento! E o papa, em virtude dos poderes que lhe foram conferidos, as aprova. Não era mais o tempo de Pio IX! Para mim, foi uma alegria.
Quanto ela foi compartilhada naquela época e agora?
Ainda hoje, pouco: Ratzinger não sentiu a necessidade de convocar um concílio sobre a questão do missal em latim. Na Sacrosanctum Concilium, já está claro o construto teológico da Lumen Gentium: uma eclesiologia bem definida, que, com grave dor, eu constato que ainda não foi recebida.
Pode nos dar alguns exemplos?
Uma série de circunstâncias congelaram a situação. Tudo deveria ser educado, amadurecido...
Quer dizer que faltou um envolvimento?
As celebrações litúrgicas são ações da Igreja", mas se não sabe se o que são... devem ser explicadas. Da Dei Verbum é preciso citar mais frequentemente: "Deus fala ao seu povo", ao povo de hoje, como de todos os tempos. Como a Sacrosanctum Concilium, nº. 7: "Cristo está sempre presente (praesens adest) na sua Igreja e de modo especial nas ações litúrgicas". Quando se fala de extensão das línguas nacionais (nº. 36), refere-se às autoridades territoriais, aos bispos. Nos nº. 41 e 42, a vida litúrgica "em torno ao bispo", depois estendida às paróquias. E ainda "sentido da comunidade paroquial" e "celebração comunitária da missa dominical". Eu ainda tenho o texto do Pe. Hertling que usávamos na universidade, Communio und Primat: a Igreja nada mais é do que comunhão. Com ele também amadureceu o Vaticano II.
E depois como se seguiu em frente?
Havia sido estabelecido um órgão separado, presidido pelo cardeal Lercaro, para os novos livros litúrgicos. Para o missal, liderava o Mons. Wagner, diretor do instituto litúrgico de Trier, na época o mais competente. A partir de janeiro de 1964, eu estava envolvido na comissão do novo Breviário, rebatizado de Liturgia das Horas. Na introdução, as minhas palavras: Oratio populi Dei. Eu lembrava de São Cipriano: quando rezamos, sempre dizemos "Pai Nosso". A oração do cristão nunca é individual. Na Missa, reintroduzimos a oração dos fiéis perdida ao longo dos séculos, justamente por causa da língua latina, que tinha excluído o povo. Eu também estava na comissão De cantibus: pensemos no Sanctus, canto do povo, a ser cantado espontaneamente, não para ouvir do coro.
E a música?
É melhor um violão que ajude a assembleia, do que instrumentos que fazem cantar o coro por conta própria. É preciso nos entendermos com relação ao termo sagrado: até a adoração do bezerro de ouro era sagrada!
E o retorno ao latim?
Não podemos mudar as coisas ao nosso próprio gosto. A história vai responder, mas eu não cometeria o erro de voltar para trás: o Pai Eterno quer nos ajudar a entender, porque nos quer bem, a todos.
O problema, então, é sempre a ideia de Igreja?
Em 1950, tendo voltado da Gregoriana, comecei a ensinar história da Igreja, mas em 1955 percebeu-se a urgência de uma disciplina litúrgica, para além do rubricismo de então (como se posicionavam os dedos). Por isso, eu também ensinava liturgia. É Cristo quem batiza, é ele quem fala quando se lê a Escritura, mas não se recebe a Eucaristia se não nos sentimos irmãos. "Onde dois ou mais estiverem reunidos...". Clemente Romano escreve: "A Igreja de Deus, que é peregrina em Roma, à Igreja de Deus peregrina em Corinto". Não é menos Igreja do que a de Corinto! Não é a sujeição ao romano pontífice – segundo a infalibilidade de Pio IX –, o pertencimento à Igreja, mas sim a fidelidade a Cristo. Todas as Igrejas são primeiras e apostólicas, lá onde, juntas, comprovem a sua unidade, junto com o sucessor de Pedro. O que faltou nestes anos é a dimensão histórica. Virgílio recorre a Ambrósio para a confirmação a bispo de Trento, porque vê nele a catolicidade. Sem comunhão, fazem-se apenas guerras de religião.
O senhor sente a necessidade de um outro Concílio?
Eu diria que não. Há momentos em que não se pode perder o trem: já existe o Vaticano II a ser implementado. Guardini dizia: "Ainda somos capazes de liturgia?". Se não entendermos o que é a Igreja, acho difícil responder que sim. Ainda é preciso trabalhar.
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