03 Dezembro 2011
O governo técnico do professor Mario Monti tem em si uma dimensão que não poderia ser mais política, uma presença católico-democrática, que marca, em alguns aspectos, uma novidade absoluta, o surgimento de uma adesão eclesial direta, representada não tanto pelo número de ministros crentes, mas sim pela presença de algumas personalidades que encontram do outro lado do Tibre uma fonte pessoal de legitimação.
A reportagem é de Mario Pirani, publicada no jornal La Repubblica, 28-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Dois, dentre outros, aparecem com mais destaque: o fundador da Comunidade de Santo Egídio, o professor Andrea Riccardi, ministro para a Cooperação Internacional e a Integração, e o ministro dos Bens Culturais, professor Lorenzo Ornaghi, reitor daUniversidade Católica. Duas posições colocáveis naquele organograma de um catolicismo democrático que parece querer conectar e representar as angústias de Paulo VI aos dilemas que incumbem sobre Bento XVI. Dilemas que, no século passado, pareciam resolvidos através de duas etapas de sinal muito diferente e em uma condição política oposta: os Pactos Lateranenses em 1929 e o triunfo da Democracia Cristãem 1948.
Não é casual, portanto, que o tema se representa hoje não só em relação a um evento público, o congresso de Todi, organizado por associações e movimentos católicos animados pela intenção de representar uma reviravolta diante de uma dialética que tinha acabado por se restringir ao contraste entre a Secretaria de Estado e a Conferência dos Bispos, mas também como consequência de um outro fato, não público, mas nem por isso menos incisivo.
Refiro-me à decisão, tomada individual e pessoalmente pelo papa, de libertar a Santa Séde toda relação que pudesse ser entendida como ambíguo apoio à degradação berlusconiana. A notícia me foi dada por um alto prelado de grande prestígio, muito introduzido no Vaticano, do qual eu não estou autorizado a revelar a identidade.
Essas premissas me induziram a seguir com atenção alguns documentos recentes da parte católica, incluindo o discurso de Andrea Riccardi em um congresso sobre a DC, a Igreja e o mundo (Roma, 19 de novembro), todos destinados a refazer o caminho para ampliar o horizonte do partido católico e não reduzi-lo só à luta contra o comunismo, "preocupação central de Pio XII que o lia como um novo Islã conquistador e erradicador da religião"... contra o qual era preciso "recuperar a direita e ligá-la à DC em uma inclinação anticomunista que se jogasse sobre a bipolaridade".
Ao contrário, "a luta contra o comunismo não era prioridade absoluta para De Gasperi... para o qual a DC não deve ser apenas um partido católico, esmagado pelo bipolarismo comunismo-anticomunismo", capaz, em troca, de unir "várias legitimações, católica, americana, da economia, eleitoral, dos trabalhadores. Um partido dos italianos no centro do sistema, capaz de mediar, unir, sintetizar... A política para a DC deve fugir da solidão e da contraposição bipolar, mesmo que esta possa dar sucesso por um momento".
O discurso de Riccardi toca muitos outros pontos, religando até hoje o percurso político do catolicismo democrático e merece ser lido na sua inteireza e aprofundado. No entanto, é de grande significado que, em um governo de salvação nacional, ao lado do empenho técnico dos economistas, floresça mais uma vez uma inspiração política que muito contribuiu para a história da Itália do último século.
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A presença católica no governo de Mario Monti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU