20 Julho 2009
Na semana que passou, o corpo de uma professora foi encontrado em uma cisterna. Essa foi a represália por não ter se deixado violentar. A cena é horrenda e, no entanto, tão comum que o relato poderia servir para mais de um caso. O problema é que não é um fato isolado, nem sequer um crime comum.
A antropóloga e pesquisadora Rita Segato o tipifica, diretamente, como um genocídio que tem focos, mas não fronteiras. Porque, para ela, o gênero, por definição, é violência. Uma violência ancestral mas permanentemente "aggiornada", fundadora de todas as estruturas de poder.
Ser mulher na América Latina é perigoso. Os femicídios de Ciudad Juárez e Guatemala, os crimes de mulheres em El Salvador, em Mar del Plata, Río Negro ou na região metropolitana de Buenos Aires a aparição de corpos mutilados de mulheres pobres falam de novas formas de violência que emitem mensagens em vários sentidos. Para as vítimas potenciais, alimentado-as com um medo inominável. E, para outros agressores, como se, em cada estupro ou morte provocados, estimulassem as redes de um poder invisível.
"Para o gênero não há paz", adverte a antropóloga argentina Rita Segato, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, que pesquisou as torturas e assassinatos de Ciudad Juárez. E essa concepção cruenta do sexo sobre os corpos das mulheres aparece sob formas específicas de repressão que atravessam os genitais femininos. "Porém, estamos na pré-história patriarcal da humanidade", diz Segato.
Deve-se gerar a eficácia simbólica da Justiça e criar categorias de genocídio. Criar novas formas de blindagem, de autodefesa. Novas formas de sensibilidade ética que levem em conta as modalidades operativas de destruição sobre o corpo da mulher, que são diferentes dos chamados crimes comuns. Há um grande genocídio de gênero. Neste período particular, os povos do mundo deveriam exigir que se realizam investigações e se julgue aqueles que planificam fazer a guerra no corpo das mulheres.
(cfr. notícia do dia 20-07-09, desta página).
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Guerra no corpo: ser mulher na América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU