29 Novembro 1999
“Boa parte da teologia católica atualmente é distintamente pública”, ou seja, “visa tanto a influenciar as políticas públicas”, quanto a “entrar em diálogo com os bispos sobre uma série de questões, por mais difícil que seja esse diálogo”. Por outro lado, “os teólogos e teólogas atuam nas fronteiras, e em uma Igreja polarizada isso significa, inevitavelmente, controvérsia”.
A análise é localizada: a realidade norte-americana, a partir da realização da 66ª Convenção Anual da Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos, ocorrida neste mês. Porém, apresenta aspectos desafiadores ou impulsionadores para a prática teológica também em outros lugares do mundo, pois a teologia hoje está “mais sensível do que no passado aos perigos do eurocentrismo ou do patriarcado na Igreja”.
Para o teólogo Paul Lakeland, professor da Fairfield University, em Connecticut, onde dirige o Centro de Estudos Católicos, a ênfase das especialidades teológicas “está passando mais para questões éticas, sociopolíticas e eclesiológicas”.
E, nesse contexto, um dos temas mais candentes é o legado do Concílio Vaticano II. Segundo Lakeland, em entrevista por e-mail à IHU On-Line, as pessoas precisam “perceber que o Concílio está efetivamente em continuidade com o passado, mesmo em seus momentos mais progressistas”. Mas é preciso não reificar o Concílio. “Ele é/foi um momento na história da Igreja. Uma parte dele foi internalizada, grande parte foi ignorada, e uma parte foi ultrapassada”, afirma.
Paul Lakeland é professor da cátedra Pe. Aloysius P. Kelley, S.J. de Estudos Católicos da Fairfield University, em Connecticut, nos EUA, onde dirige o Centro de Estudos Católicos. Ex-jesuíta, é articulista do jornal católico Commonweal, de Nova Iorque. Em 2004, conquistou o primeiro lugar no Catholic Press Award, na categoria teologia, pelo seu livro The Liberation of the Laity: In Search of an Accountable Church (Continuum International, 2003). Também é autor de Postmodernity: Christian Identity in a Fragmented Age (Continuum International, 1997) e de Catholicism at the Crossroads: How the Laity Can Save the Church (Continuum International, 2007).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – A Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos realizou há algumas semanas a sua 66ª Convenção Anual, com o tema Todos os santos [All the saints]. Dentro do amplo panorama de temas e oradores, quais são algumas linhas principais por onde a teologia dos EUA caminha hoje?
Paul Lakeland – Primeiramente, é importante entender que a teologia acadêmica católica representada na Convenção da Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos é um tanto mais liberal do que a face pública do catolicismo norte-americano representada pelos bispos. Boa parte da teologia católica atualmente é distintamente pública, o que quer dizer que ela visa tanto a influenciar as políticas públicas norte-americanas em geral, quanto a entrar em diálogo com os bispos sobre uma série de questões, por mais difícil que seja esse diálogo.
É claro que a pesquisa teológica acadêmica continua em todos os níveis, mas é preciso dizer que a maioria dos teólogos e teólogas acadêmicos (a maioria dos quais são leigos e religiosas) estão muito preocupados com o ataque contínuo contra o legado do Vaticano II. Os teólogos especialistas em liturgia e sacramentos, ou ao menos muitos deles, estão muito descontentes com as iminentes mudanças na linguagem litúrgica. Os especialistas em teologia moral e ética têm muitos problemas, particularmente no tocante à posição extremamente linha-dura adotada pelos bispos norte-americanos sobre casamento ou união civil entre pessoas do mesmo sexo, que parece estar em conflito com a sociedade americana em geral e os católicos americanos em particular.
É claro que os especialistas em eclesiologia estão tentando entender as implicações eclesiais da importante mudança na forma como os católicos parecem querer entender a autoridade e a obediência. Uma das principais consequências do escândalo em torno dos abusos sexuais tem sido que a autoridade, inclusive a autoridade episcopal, parece ser cada vez mais algo que a pessoa precisa adquirir, e não simplesmente algo que vem de maneira automática junto com a ordenação.
Os teólogos e teólogas atuam nas fronteiras, e em uma Igreja polarizada isso significa, inevitavelmente, controvérsia. Outra forma de expressar isso é a seguinte: ao passo que no passado as especialidades teológicas preponderantes talvez tenham estado na patrística ou na teologia fundamental, eu diria que hoje em dia a ênfase está passando mais para questões éticas, sociopolíticas e eclesiológicas. De modo geral, parece que a teologia prática passou para o primeiro plano por um certo tempo.
Mas deveríamos entender que esse é um passo que se tornou necessário como reação a muitas exclusões de opções que estão ocorrendo na Igreja hoje e que os teólogos e teólogas em geral prefeririam se envolver em seu trabalho propriamente dito de alimentar a fé de toda a comunidade por meio de sua pesquisa. Eu acho que muitos de nós somos radicais um tanto relutantes!
Por fim – e isto sempre é uma "coda" [conjunto de compassos musicais que encerram uma música com mais brilhantismo] para um conjunto de observações como este –, há indícios de que um grupo de teólogos e teólogas um tanto mais jovens têm uma atitude crítica para com o que consideram uma posição desnecessariamente adversativa por parte da geração que cresceu depois do Vaticano II, e cujos integrantes são os que atualmente ocupam as posições mais visíveis na comunidade teológica católica. Esses teólogos e teólogas mais jovens talvez consigam, de fato, derrubar a polarização que tem atormentado a Igreja, ou talvez descubram, quando chegar a sua vez, que isso é mais difícil do que imaginavam.
IHU On-Line – Em sua apresentação, o senhor abordou aspectos do “pecado da exclusão” em contraposição à “virtude da humildade”. Como esses dois conceitos têm relação com a teologia hoje?
Paul Lakeland – A Lumen Gentium deixou absolutamente claro que toda pessoa “está incorporada ao povo de Deus ou de alguma forma relacionada com ele”. Em outras palavras, o “modo-padrão” da vida humana é “viver dentro da graça de Deus”, queira ou não que qualquer pessoa em particular entenda ou aceite o que isso poderia significar na acepção cristã. A exclusão do âmbito da graça de Deus ocorre quando uma pessoa se separa deliberadamente de Deus através de ações que prejudiquem gravemente sua própria humanidade, a qual é, em si, dom de Deus.
Em outras palavras, a exclusão é algo que fazemos a nós mesmos por nossos atos deliberadamente prejudiciais. Ela nunca deveria ser algo que alguma pessoa ou comunidade crê que tenha o poder de impor a alguma outra pessoa ou comunidade. Os evangelhos mostram claramente que Jesus nunca exclui ninguém e como ele frequentemente polemiza com aqueles que querem excluir esta ou aquela pessoa da comunidade da aliança.
A Igreja que segue Jesus precisa adotar essa prática de não exclusão. Portanto, precisamos de uma humildade fundamental para seguir Jesus e, especialmente, para reconhecer que a graça de Deus atua no mundo de formas em que ela não atua na Igreja, e talvez de formas com as quais a Igreja poderia aprender.
IHU On-Line – Nos debates da Convenção, quais são os “sinais dos tempos” (sociais, culturais, políticos, econômicos etc.) que mais impelem a teologia dos EUA (e do mundo) hoje? Por outro lado, que novas respostas teológicas estão surgindo a esses desafios?
Paul Lakeland – A teologia católica norte-americana, graças principalmente ao trabalho de teólogas e teólogos feministas e hispânicos dentro da comunidade católica, está muito mais sensível do que no passado aos perigos do eurocentrismo ou do patriarcado na Igreja. Os teólogos negros também desempenharam um papel importante em destruir qualquer complacência em relação ao caráter racista da sociedade, da Igreja e até da comunidade teológica norte-americana.
Se olhássemos a lista de palestrantes na Convenção da Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos ou a lista de seus mais recentes membros de diretoria ou presidentes, perceberíamos uma notável mudança em comparação com o padrão de mais de dez anos atrás, no sentido de uma representação bem maior de teólogos e teólogas mulheres, afro-americanos e hispânicos. Essa mudança é uma reação tanto a uma consciência crescente, dentro da sociedade norte-americana, a respeito de quão sutil pode ser a exclusão baseada em raça, etnia e gênero, quanto, naturalmente, ao enorme e complexo fenômeno da globalização.
Além disso, temos a questão, relacionada à anterior, de que a demografia dos católicos em nível global está claramente descentralizando o catolicismo das Igrejas europeias e norte-americanas, assim como, dentro dos EUA, a demografia da imigração também está deslocando a preponderância histórica dos católicos de língua inglesa para aqueles cuja primeira língua é o espanhol.
A incerteza no presente cria ansiedade para o futuro, e buscam-se (sem muito sucesso) sinais de que a esperança e a escatologia estejam se tornando mais proeminentes no pensamento teológico presente.
IHU On-Line – Diante do cenário atual (pós-moderno, pós-metafísico etc.), qual a sua análise das “gramáticas” utilizadas pela Igreja para dialogar com o homem e a mulher contemporâneos? É possível estreitar essa relação?
Paul Lakeland – Suponho que esta pergunta tenha a ver com a maneira como a Igreja institucional entende sua função apologética e evangelizadora em uma sociedade religiosamente pluralista e secular. Se este for o caso, devo dizer que creio que a Igreja Católica norte-americana está nitidamente desinteressada pela evangelização na atualidade, não obstante todo o discurso. Isto talvez se deva, em parte, ao fato de que a postura da Igreja sobre uma série de questões, desde questões bioéticas e sexuais – em que a Igreja parece ser demasiado conservadora para a maioria dos norte-americanos –, até questões sociais e políticas (pena de morte, imigração), em que a mesma Igreja talvez pareça a muitos ser demasiado radical. Isso quer dizer que a Igreja tem dificuldade de ser ouvida fora do círculo de seus membros.
É claro que o escândalo dos abusos sexuais e a convicção geral da sociedade norte-americana de que a escala dos abusos foi possibilitada por bispos que tentaram encobrir a dimensão do problema não ajudaram. O problema mais difícil talvez seja que a falta de inclinação a dar ouvidos à Igreja também infectou os próprios católicos, em grande parte pela mesma razão que infectou os não católicos, e a evangelização ou o diálogo com os seres humanos contemporâneos talvez tenha de começar dentro da própria casa.
Infelizmente, os bispos norte-americanos mais proeminentes, em suas manifestações públicas, parecem pensar que o único dispositivo necessário para o diálogo bem-sucedido é um megafone bem grande. As “gramáticas” deles parecem ser intocadas por qualquer outra coisa que uma forma particularmente árida de direito natural derivada do pior da escolástica.
IHU On-Line – Neste ano, duas universidades jesuítas e duas escolas de teologia interdenominacionais irão promover uma série de conferências abertas ao público intitulada More Than a Monologue: Sexual Diversity and the Catholic Church [Mais do que um monólogo: Diversidade sexual e a Igreja Católica]. Como o senhor analisa a atual reflexão teológica sobre a diversidade sexual na Igreja? Que avanços ainda são necessários?
Paul Lakeland – Conheço bem essa iniciativa porque tenho estado diretamente envolvido com seu planejamento e dirigirei a quarta e última conferência aqui na Fairfield University. A resposta breve à sua pergunta é que há uma quantidade enorme de reflexão teológica sendo feita sobre esse tema, mas pouco ou nada dela chega até os bispos.
Em consequência, eles tendem a fazer defesas constrangedoramente ingênuas do ensino oficial da Igreja e a uma compreensível falta de disposição de se envolver no diálogo na esfera pública, porque eles realmente têm pouca coisa construtiva a dizer sobre o assunto ou se sentem incapazes de dizer o que talvez eles quisessem dizer por causa do que Roma poderia pensar.
Só esse conjunto de tensões ou outro semelhante explica, por exemplo, como o arcebispo Dolan pôde ser tão vociferante e, ao mesmo tempo, tão passivo no recente debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo no estado de Nova Iorque. Meu palpite é que, agora que o casamento entre pessoas do mesmo sexo virou lei no estado de Nova Iorque, o arcebispo vai respirar aliviado pelo fato de isso não ser mais algo que ele tenha de contestar.
Quanto aos avanços que precisam ser feitos, bem, é claro que a Igreja magisterial precisa digerir o trabalho dos eticistas católicos sobre abordagens novas e diferentes a respeito da ética sexual do que as que foram imaginadas por Tomás de Aquino ou mesmo por Germain Grisez, além de ter de explorar teologicamente as implicações das evidências demográficas de que os católicos norte-americanos são a denominação cristã mais “simpatizante dos gays” [gay-friendly] dentre todas as do país.
IHU On-Line – Em 2012, teremos dois aniversários importantes para a teologia mundial. Primeiro, os 50 anos da convocação do Concílio Vaticano II. Qual a sua opinião sobre a recepção do Concílio na teologia contemporânea? Que aspectos do Concílio precisam ser retomados ou revistos hoje?
Paul Lakeland – A maior parte dos teólogos católicos dos últimos 50 anos levou a sério a mensagem do Concílio. Não há dúvida de que alguns foram seletivos demais ou criaram um concílio dentro do Concílio, mas não a tal ponto que justifique os atuais esforços para obliterar grande parte do ensino do Concílio e todo o seu espírito em uma “hermenêutica da continuidade”.
Eu certamente acredito que as pessoas precisam conhecer melhor os textos do Concílio, além de perceber que o Concílio está efetivamente em continuidade com o passado, mesmo em seus momentos mais progressistas, e tampouco precisam reificar o Concílio. Ele é/foi um momento na história da Igreja. Uma parte dele foi internalizada, grande parte foi ignorada, e uma parte foi ultrapassada.
Assim, o maior desafio consiste em uma pneumatologia do Concílio. O que tudo o que aconteceu no Concílio e tudo que se seguiu a ele significam como atuação do Espírito Santo? Visto que o Espírito não pode estar em conflito consigo mesmo, é extraordinariamente importante submeter o Concílio a uma análise pneumatológica.
IHU On-Line – Em 2012, também serão comemorados os 40 anos do lançamento do livro de Gustavo Gutiérrez, Teologia da Libertação. Perspectivas, um grande marco da pesquisa teológica na América. Como o senhor analisa as contribuições da teologia da libertação à teologia em geral? Como a opção pelos pobres pode ser relida diante do novo contexto mundial?
Paul Lakeland – Certa vez, G. K. Chesterton escreveu o seguinte sobre o cristianismo: “Não é que ele tenha sido experimentado e considerado insuficiente, mas, antes, que foi considerado difícil e não foi experimentado”. Suspeito que o mesmo possa ser dito sobre a teologia da libertação.
É claro que a teologia da libertação é uma palavra da bênção de Deus sobre os pobres, e em muitos lugares ela foi e continua sendo uma força vibrante em prol da mudança. Mas para as classes médias para as quais a sua mensagem é um desafio e para os ricos para os quais ela bem pode parecer uma afronta, senão até uma condenação, o problema de internalizar a sua mensagem é agudo.
Esse é um desafio excepcionalmente grande em um país como os EUA, devotado à afluência privada e à penúria pública. Nos últimos anos, desde o lançamento do livro de Gutiérrez, o abismo que separa ricos e pobres nos EUA aumentou como nunca antes, e agora os 1% mais ricos são coletivamente mais abastados do que os 50% que estão na base da pirâmide. E não se ouve com frequência a voz das Igrejas sobre esse tema.
Certamente os bispos dos EUA tiveram muito a dizer sobre a necessidade de uma opção preferencial pelos pobres nas políticas públicas, embora, naturalmente, eles não tenham usado o termo “opção preferencial”. Mas a Igreja Católica norte-americana em seu conjunto, apesar de ser muitas vezes generosa em termos de assistência direta, não abraçou o desafio da mudança estrutural da forma como a teologia da libertação parece exigir.
Por outro lado, a metodologia da teologia da libertação tem sido uma inspiração incomparável para as formas mais tradicionais de reflexão teológica, fazendo-as se voltar para uma abordagem mais indutiva.
Não entendo muito bem a última parte da pergunta. O novo contexto global, como você o expressou, não reduziu o número de pobres e marginalizados e, portanto, não diminuiu a importância da opção pelos pobres. O que talvez estejamos percebendo, assim se espera, na era da globalização é que estamos todos juntos no mesmo barco e, por conseguinte, que a opção pelos pobres é, no longo prazo, uma opção pela nossa coletiva “sobrevivência com sentido”.
IHU On-Line – Um problema “histórico” da teologia é a sua relação com a autoridade doutrinária do Vaticano. Recentemente, tivemos o caso da irmã Elizabeth Johnson. A Comissão de Doutrina dos bispos dos EUA avaliou que o seu livro Quest for the Living God: Mapping Frontiers in the Theology of God não apresentava um “autêntico ensinamento católico”. Qual a sua opinião sobre esse caso? Quais foram as grandes contribuições de Johnson com essa obra?
Paul Lakeland – O trabalho dos integrantes da Comissão Episcopal de Doutrina (CED) foi um constrangimento para eles que, assim se espera, estejam percebendo agora. As 27 páginas da resposta detalhada de Beth Johnson às acusações deles mostraram conclusivamente que:
a) ela efetivamente não disse o que eles disseram que ela disse no livro em questão; e que
b) as concepções que eles atribuíram a ela eram concepções que ela nunca expressou publicamente nem sustentou privadamente.
Minha opinião é que o ataque a Beth Johnson foi estimulado pela animosidade privada de alguns poucos indivíduos e possibilitada por uma comissão de doutrina cujos membros ou não tinham lido o livro com suficiente cuidado ou não sabiam teologia o suficiente para reconhecer que os poucos membros da CED que o haviam lido eram culpados de ter feito uma grave leitura equivocada dele, seja por malícia ou por ignorância. Resta ver se eles terão a dignidade de pedir desculpas.
Por trás desse caso específico, há algumas questões maiores. Primeiro, o que está acontecendo no aparente repasse para uma conferência episcopal nacional de tarefas anteriormente delegadas à Congregação para a Doutrina da Fé?
E, em segundo lugar, qual é o prestígio de um documento da CED que acusa alguém de não ensinar o ensinamento católico autêntico, mas que também evita usar a linguagem da censura ou da condenação? A CED é, evidentemente, um tigre sem dentes, embora seja um tigre que pode ferir, mas não matar, usando apenas a sua gengiva.
IHU On-Line – A Santa Sé vem tomando algumas medidas, especialmente no campo litúrgico, consideradas como uma “reforma da reforma” do Vaticano II, como a revalorização da missa tridentina por meio do documento Universae Ecclesia. Como o senhor analisa esse fenômeno?
Paul Lakeland – Essa coisa toda me parece ser um caso em que Roma toca violino enquanto a Igreja arde em chamas. É claro que a liturgia é central para a comunidade de fé, mas, pelo menos nos EUA, há uma elevada correlação entre as comunidades de fé onde o Espírito está vivo e atuante, e as que celebram no espírito do Vaticano II.
As iminentes mudanças de linguagem na missa em inglês são profundamente problemáticas, embora eu suponha que o sofrido povo de Deus vai aceitá-las com a maior dignidade que puder ter e vai mudar a linguagem que vem usando há muitas décadas. O que é difícil de aceitar é o esforço constante de várias autoridades, episcopais e teológicas, de sustentar que as mudanças são pelo melhor. Esse me parece ser um argumento desonesto. Ainda que as mudanças fiquem “mais próximas do latim”, e mesmo que isso seja um valor – embora eu não veja como isso é possível –, elas certamente não são um inglês melhor. Supostamente, o vernáculo é o vernáculo, e não a ideia de algum latinista do que deveria ser um vernáculo latinizado.
Essas mudanças e o reaparecimento da missa tridentina (esse é o problema, e não se a missa é em inglês ou em latim) parecem-me representar uma guerra contra o Vaticano II, que, por sua vez, é uma guerra contra o direito do Povo de Deus de se sentir à vontade com a sua experiência litúrgica.
(Por Moisés Sbardelotto)
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Teologia pública e de fronteira: controvérsias em uma Igreja polarizada. Entrevista especial com Paul Lakeland - Instituto Humanitas Unisinos - IHU