18 Julho 2011
Entre os dias 08 a 10 de julho, a cidade gaúcha de Santa Maria, capital internacional da Economia Solidária, recebeu mais de 150 mil pessoas que participaram da 7ª Feira de Economia Solidária do MERCOSUL e da 18ª Feira Estadual do Cooperativismo Alternativo. Vindos da América Latina, Europa e África, empreendimentos solidários, movimentos populares, entidades e organizações da sociedade civil e órgãos governamentais participaram dos eventos.
Uma semana após o término das atividades, a coordenadora da Feira, Lourdes Dill (foto), concedeu entrevista à IHU On-Line por e-mail. Na entrevista, Lourdes faz uma avaliação sobre o evento e reflete sobre a agenda e as expectativas para a economia solidária.
Lourdes Dill, irmã religiosa da Congregação Filhas do Amor Divino, coordena a Feira de Economia Solidária, além do Projeto Esperança/Cooesperança, desenvolvido pela Diocese de Santa Maria (RS), juntamente com a Cáritas Regional – RS.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como tu avalias a 7ª Feira de Economia Solidária e a 18ª Feicoop?
Lourdes Dill - A 7ª Feira de Economia Solidária do Mercosul, a 18ª FEICOOP e os eventos complementares foram de grande importância pela participação, interação e envergadura que tiveram. Estamos muito felizes por tudo o que aconteceu durante estes dias em Santa Maria, com os 23 seminários internacionais, nacionais e regionais, pelas 28 oficinas realizadas, pelas diversas atividades culturais apresentadas no Palco Principal, enfim, por tudo que foi realizado antes, durante e depois da Feira.
A partir das experiências partilhadas verificamos que são muitos os aprendizados quanto à interiorização da economia solidária, ao trabalho autogestionário, à construção de saberes, à articulação em redes, à mudança da relação entre as pessoas e com o meio ambiente no âmbito das finanças solidárias, produção, comercialização e consumo ético e solidário. Percebemos igualmente que ainda temos desafios os quais podem ser visualizados a partir da necessidade de qualificar os processos formativos em todos os eixos da economia solidária; os processos de registro e sistematização que servem de orientação e inspiração para outras experiências, popularizando os termos técnicos utilizados na economia solidária.
IHU On-Line - Quais foram os avanços e destaques na edição deste ano?
Lourdes Dill - Após dezoito anos de Feira Estadual do Cooperativismo Alternativo e sete anos de Feira de Economia Solidária do Mercosul registramos o avanço, não somente pelos dados numéricos, mas no seu fortalecimento em nível de articulação, debate, troca de idéias, experiências de comercialização direta de empreendimentos da Economia Solidária, da agricultura familiar, das agroindústrias familiares, dos catadores, dos povos indígenas e quilombolas, da juventude, do movimento de mulheres, dos trabalhadores do campo e da cidade.
Muitos foram os destaques e os avanços nesta edição, entre os quais evidencio a participação de mais de 151 mil pessoas. Destaco principalmente as caravanas que participaram, como o grupo que veio do Rio de Janeiro. Mais de 130 pessoas vieram de avião do Rio de Janeiro para participar da Feira de Santa Maria, ajudando durante oito dias na organização e realização da Feira, contribuindo no trabalho de todas as frentes que fora necessário.
IHU On-Line – Quais foram os aspectos negativos desta edição?
Lourdes Dill - Um dos poucos pontos negativos é que devemos com urgência trabalhar melhor a questão dos resíduos sólidos, com a finalidade de eliminar o consumo dos descartáveis. Como medida para o próximo ano, iremos adotar o uso de canecas evitando assim o uso de copos plásticos.
IHU On-Line - O que foi estabelecido na Feira deste ano? Quais são os próximos passos da economia solidária no Brasil?
Lourdes Dill - Firmamos que os poderes públicos nos níveis municipal, estadual e federal irão contribuir para que cada vez mais a Feira seja melhorada, qualificando, assim, as Feiras em todo Brasil através dos fóruns e organizações governamentais e não governamentais, junto com os empreendimentos solidários. Até o final do ano, a economia solidária se compromete em coletar um milhão e trezentas mil assinaturas para formar uma Lei Própria de Economia Solidária que deverá ser aprovada pela Câmara dos Deputados, qualificando a parte jurídica da economia solidária como política pública. A meta é termos uma Secretaria Especial de Economia Solidária e futuramente um Ministério de Economia Solidária.
Também foi consolidado que nos eventos nacionais e internacionais de mais de 20 países do MERCOSUL e da América Latina haverá a preparação da 2ª edição do Fórum Mundial e a 2ª Feira Mundial de Economia Solidária em 2013, em Santa Maria. No próximo ano serão realizadas atividades em toda a América Latina para a preparação destes eventos mundiais que serão realizados em 2013.
IHU On-Line - Em teu discurso realizado na cerimônia de abertura da Feira de Economia Solidária deste ano, tu comentaste que a FEICOOP, por ter alcançado a maioridade, necessita dar um salto. No que tu te referias?
Lourdes Dill - Referia-me ao fato de que a Feira necessita de recursos próprios pelo Plano Plurianual do município, Estado e do Governo Federal. Precisamos igualmente melhorar a estrutura física da Feira, ter melhores condições de alojamento, alimentação e espaço para as exposições. Outro salto é que a Feira seja tombada como Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul, de Santa Maria e porque não do Brasil.
IHU On-Line - Quais são os limites da Economia Solidária em uma sociedade capitalista? Como quebrar esta barreira?
Lourdes Dill - Os limites da economia solidária são inúmeros para serem quebrados na sociedade capitalista. A economia solidária é um novo modelo de desenvolvimento solidário, sustentável e territorial que aponta para certos princípios e valores do mercado capitalista. A economia solidária coloca as pessoas, a vida e o meio ambiente em primeiro lugar, acreditando, também que existe um "Ser Superior" que rege o universo e o planeta Terra. Para qualificar este modelo precisamos de políticas públicas e agentes de um outro modelo de agentes de desenvolvimento.
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Os avanços e desafios da Feira de Economia Solidária. Entrevista com Lourdes Dill - Instituto Humanitas Unisinos - IHU