06 Julho 2011
Entre os bispos, 40% são ativos, e 60% são aposentados ou titulares de sedes imaginárias, como os núncios e os membros da Cúria Romana, aos quais se poderia perguntar: "De qual povo tu és bispo? A quem tu foste enviado?".
A opinião é de Jean André Obier, publicada no sítio Baptises.fr, 29-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Entre os bispos, 40% são ativos, e 60% são aposentados ou titulares de sedes imaginárias, como os núncios e os membros da Cúria Romana, aos quais se poderia perguntar: "De qual povo tu és bispo? A quem tu foste enviado?". Além disso, existe um pequeno grupo de "revogados", dos quais Jacques Gaillot é um antepassado. Em suma, inflação. É um fato conforme à Tradição ou da modernidade? Remontemos um pouco à história.
O Concílio ecumênico de Calcedônia (451) invalidou as ordenações "absolutas": "Ninguém deve ser ordenado sem um título, nem padre, nem diácono, nem nenhum clérigo em geral, se não lhe for atribuída especificamente uma Igreja de cidade ou de burgo, ou um `martyrium` ou um convento. Com respeito àqueles que foram ordenados sem um título, o Santo Concílio decidiu que a sua ordenação será sem efeito e que, para a vergonha de quem lhe conferiu, não poderão exercer suas funções em nenhum lugar" (Cânone 6 ).
O mesmo Concílio especifica: "No que diz respeito aos bispos ou aos clérigos que passam de uma cidade a outra, devem ser-lhes aplicados os cânones que foram decretados a seu respeito pelos Santos Padres" (Cânone 5). Esses cânones criticam muito severamente a transferência de bispos, que, para nós são moeda corrente: o bispo X passa para D, depois para C... Valsa episcopal proibida por Calcedônia.
Roma assina embaixo dos cânones de Calcedônia, exceto de um, que atenta contra a sua prepotência de "prima sedes apostolica". Muito bem! Um axioma teológico diz: "O que a Igreja fez, pode muito bem refazer". Exemplo? A reintrodução da missa chamada de São Pio V, proibida por Paulo VI! Visto que isso já é realidade, então pedimos que o restabelecimento da disciplina de Calcedônia! Na esperança de obter um melhoramento da prática episcopal.
Certamente, a história introduz mudanças em todos os lugares, muitas vezes bem-vindas. Mas, entre o ponto de partida calcedônico e o resultado atual, há um abismo! Bento XVI não quer que o Vaticano II seja uma ruptura da Tradição? Muito bem! Mas então como qualificar a prática episcopal atual com relação a Calcedônia? "Ruptura tradicional"? Porque se trata, na bem da verdade, de ruptura e desvio. Senão, logo nos farão acreditar que a lua é quadrada e que ela gira ao contrário...
Sigamos adiante com a análise. O Vaticano II define o sacramento da Ordem a partir do ministério episcopal, e não mais a partir do poder de consagração da Eucaristia. Novidade? Não! Mas reatualização da antiga tradição do ministério ordenado percebido como sucessão dos apóstolos na missão recebida de Cristo. O episcopado é o grau superior da Ordem. Magnífico! Infelizmente, como contragolpe, essa rica doutrina enfraqueceu incrivelmente a relação de cada bispo com a sua Igreja particular.
João Paulo II ordenou arcebispo o seu mestre de cerimônias, e Bento XVI o envia como burocrata a um escritório. Ordenação absoluta, não válida? Em todo caso, episcopado honorífico, anticalcedônico, sem povo estável, concreto, de carne e osso.
Por que esse desvio? Sucessores dos apóstolos, os bispos são encarregados de uma missão universal e de uma diocese. Colocados entre dois fogos. No século XVI, o Concílio de Trento fixou uma obrigação de residência aos bispos e aos párocos. O Direito Canônico de 1917 lhes concedia dois meses de licença, reduzidos a um só em 1983. Hoje, os párocos estão pregados no lugar, e os bispos estão em outros lugares. Para eles, não há mais regra: "A gloriosa liberdade dos filhos de Deus".
Mas quem organiza, então, a grande evasão? Resposta: a Conferência Episcopal. Como? Por meio do jogo de estruturas que distribuem os nossos bispos em comissões, comitês etc... onde eles se trocam, por via eletiva e com mandatos de três anos. Talvez eles podem fazer um bom trabalho? Tomemos como exemplo o bispo encarregados das relações com os ortodoxos, com os protestantes e com todas as denominações cristãs (existem mais de 30.000), com os judeus, os muçulmanos, e Deus sabe o que mais ainda... e admirem-se pelo fato de ele estar tão pouco em sua diocese! Já que estamos, deveriam lhe acrescentar também a Via Láctea!
Esses deslocamentos têm um custo: o presidente reclama pelo fato de que "a Conferência vive acima das suas possibilidades". O povo canta outra canção: "Visto como vão as coisas, eu não vou doar mais o óbolo à Igreja".
Tudo começa nas realidades etéreas de uma eclesiologia vaporosa, e tudo acaba nas duras realidades do caixa, mas também... da ruptura. É o funcionamento da Conferência que desestabiliza as dioceses, transformando seus titulares em especialistas de tudo e de não importa o quê. Sem dúvida, eles não se dão conta disso...
Em conclusão? Restituamos todo o seu espaço às Igrejas particulares! Como? Na entrada do bispo, na liturgia bizantina, o coro canta: "Eis polla éti, despota!" (Longa vida, déspota!). Désposta? Um católico de rito latino ri disso. Às vezes, se lembra [da máxima do direito secular romano]: "O que diz respeito a todos deve ser tratado por todos". Um outro axioma tradicional desprezado, sem dúvida, em nome da Tradição.
Não seria preciso, talvez, que em cada Igreja particular todos se comprometam, incluindo os déspotas, a passar finalmente do despotismo não iluminado ao Evangelho, de pombo correio episcopal ao pastor do seu próprio rebanho, enfim reconhecido e amado? Quanto às honorificências, que continuem sendo canônicas! "Que outro receba o seu episcopado" (Atos 1, 20). Roma iria chegará mais cedo ou mais tarde: "Pedro seguia... de longe" (Mateus 26, 58).
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O bispo e o seu povo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU