22 Mai 2011
Em uma base per capita, a Itália, provavelmente, desenforna mais livros mais sobre a Igreja Católica a cada ano do que em qualquer outro lugar da Terra. Dado o estímulo criado pela beatificação do Papa João Paulo II, no dia 1º de maio, esta fase do ano foi um período especialmente agitado para o mercado italiano, gerando vários títulos que provavelmente serão traduzidos e moldarão o debate católico em todo o mundo.
A análise é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 20-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Esta semana, vou oferecer breves esboços de quatro desses títulos de uma safra recente.
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O primeiro é Giovanni Paolo II: La Biografia [João Paulo II: A biografia], de Andrea Riccardi, publicado pelas Edizioni San Paolo. Até agora, há uma vasta literatura sobre João Paulo II, mas esta biografia – de mais de 600 páginas, abundantemente documentada e escrita por alguém que gozou de um acesso privilegiado ao longo do papado – se junta ao grupo de elite de obras que realmente importam em termos de formação do legado de João Paulo.
Embora seja um pouco fácil colocar as coisas desta forma, pode-se dizer que, assim como Witness to Hope [Testemunha da esperança], de George Weigel, tornou-se a apresentação definidora de João Paulo II para os conservadores do Atlântico Norte, a biografia de Riccardi provavelmente vai se tornar o principal ponto de referência para a centro-esquerda europeia.
Para ser claro, isso é mais um julgamento sobre a provável recepção desses livros, não tanto sobre as intenções de seus autores. Tanto Weigel quanto Riccardi são intelectuais sérios, ambos produziram obras que merecem uma análise cuidadosa, independentemente de alinhamentos ideológicos, e seus relatos convergem muito mais, na verdade, do que colidem.
Dito isso, não há dúvida de que Riccardi olha para João Paulo II através de um conjunto diferente de óculos.
Historiador consumado, Riccardi é mais conhecido como o fundador da Comunidade de Santo Egídio, um dos "novos movimentos" da Igreja Católica. Ele nasceu em meio à efervescência europeia de 1968, entre os jovens progressistas italianos que queriam mudar o mundo e, mesmo assim, permanecer católicos. Nas décadas seguintes, a Santo Egidio tornou-se conhecida pelo seu alcance ecumênico e inter-religioso, pelo seu ativismo contra a pena de morte, pela defesa dos imigrantes e dos pobres, assim como pela promoção da paz e pela resolução de conflitos. Entre suas realizações emblemáticas, a Santo Egidio ajudou a negociar um fim à longa guerra civil de Moçambique em 1992.
Riccardi dedica um capítulo inicial para refletir se João Paulo II era um "progressista" ou "conservador", e conclui que nenhum dos termos se encaixa. Ele cita Jan Grootaers, um conhecido historiador da Igreja, para dizer que, no período após o Concílio Vaticano II (1962-1965), Karol Wojtyla fazia parte do "centro" associado ao Papa Paulo VI, não se alinhando nem com os "progressistas", nem com os "conservadores".
Riccardi afirma que João Paulo se manteve fundamentalmente como um centrista durante seu papado.
"Em Wojtyla, apesar das brutais experiências da guerra e do comunismo, não havia nada do pessimismo acerca da modernidade que fez parte da história habitual do pensamento católico que decorre da cultura da restauração", escreve. "Seu respeito pela democracia e sua oposição aos regimes autoritários de todos os tipos também são notórios, assim como sua insistência sobre o valor da consciência".
"Ele não foi um papa conservador", escreve Riccardi, "e muito menos um tradicionalista".
Riccardi nomeia João Paulo II como "o papa da complexidade católica", ou seja, um líder que desafiou todas as tentativas de reduzir o catolicismo, ou, nesse sentido, o seu próprio pontificado, a uma posição ideológica.
Na preparação para a beatificação, o atual presidente da Santo Egidio, o leigo italiano Marco Impagliazzo, definiu João Paulo II como "o papa da globalização", isto é, um papa que abraçou o mundo não ocidental e preparou o catolicismo para fazer o seu caminho em uma aldeia global. Não é nenhuma surpresa, portanto, que o capítulo de Riccardi sobre João Paulo II como líder mundial – alguém que viu passar as divisões da Guerra Fria e que, mediante suas viagens e sua defesa, abraçou as culturas nascentes do Sul global – é um ponto central da biografia.
Embora admitindo a antiga aversão de João Paulo ao marxismo, Riccardi sublinha o ceticismo igual e oposto do papa com relação ao "capitalismo selvagem". Através de repetidos apelos a uma maior solidariedade Norte/Sul, argumenta Riccardi, João Paulo II encarnou uma "terceira posição", para além do comunismo e do capitalismo, que buscava integrar a liberdade econômica e os livres mercados com o valor da solidariedade e um forte papel das autoridades públicas.
Embora alguns analistas sociais tenham tomado a última encíclica social de João Paulo II, Centesimus annus, de 1991, como uma espécie de endosso do capitalismo pós-Muro de Berlim, Riccardi a vê de forma diferente.
"Na realidade, o papa quis manter sua distância do capitalismo, mas em um mundo que, até então, era completamente capitalista", escreve ele.
Naturalmente, Riccardi também sublinha o compromisso de João Paulo com a promoção da paz, o multilateralismo e o empoderamento dos Estados em desenvolvimento, e com a harmonia entre as religiões. Ele aponta especialmente para a cúpula de líderes religiosos em Assis, em 1986, para rezar pela paz, que, diz Riccardi, refletiu "a crença [de João Paulo II] de que a Igreja Católica tem uma missão especial de promover a coexistência entre os diferentes mundos".
João Paulo II, diz Riccardi, foi animado por uma profunda convicção de que as religiões são protagonistas da história, "às vezes com uma força subterrânea, outras vezes como sujeitos manifestos" da mudança histórica. Essa influência poderia ser usada para o bem ou para o mal – as religiões podem ser recursos para a paz, ou agentes de divisão. Como resultado, observa Riccardi, João Paulo II sentiu que era uma questão de "realismo saudável" tentar uni-las.
João Paulo, de acordo com Riccardi, pressionou o catolicismo para um novo "apostolado de paz".
"A imparcialidade tradicional dos papas com relação aos países em guerra foi transformada por João Paulo II em uma paixão pela intervenção em favor da paz, que às vezes pareceu ir bem além dos limites da prudência tradicional", escreve Riccardi.
João Paulo II, de acordo com Riccardi, não via nenhum conflito entre posicionar o catolicismo como um agente de diálogo e de coexistência, e insistir na clareza da identidade católica e de um renovado espírito missionário na Igreja. Na verdade, argumenta Riccardi, João Paulo II intuiu corretamente que, em um mundo pós-moderno fragmentado e desorientado, apenas os atores claros sobre quem são, seriam capazes de traçar um curso eficaz para o futuro.
Em um aspecto do livro, capaz de frustrar o público norte-americano, Riccardi não gasta muito tempo acerca da crise dos abusos sexuais. Ele indica que João Paulo pode ter sido cético no início, dada a sua experiência sob regimes comunistas, quando falsas acusações de má conduta eram muitas vezes apresentadas contra os padres, a fim de limitar a sua autoridade moral. No entanto, começando em 2001, diz Riccardi, João Paulo começou um processo de reforma que viu Roma assumir uma parcela maior de responsabilidade para disciplinar os padres abusadores e que continuou com Bento XVI.
Como regra geral, diz Riccardi, João Paulo II não estava muito interessado na administração eclesiástica rotineira: "No seu modo de governar, ele tendia mais a estimular o novo e extraordinário, ao invés de controlar ou dirigir o ordinário".
No fim, diz Riccardi, João Paulo II será lembrado como um homem que mudou o mundo.
"Ele nunca se resignou perante a história e nunca abriu mão da esperança de mudá-la e de superá-la", disse Riccardi.
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Na alquimia midiática que fez de João Paulo II um ícone global, o dia 13 maio de 1981 ergue-se como um momento decisivo. A tentativa de assassinato nesse dia (que era também o dia da festa de Nossa Senhora de Fátima), seguido pela extraordinária disposição de João Paulo II de se permitir ser visto e ouvido em um estado enfraquecido durante sua recuperação, assim como suas mensagens de perdão ao turco Mehmet Ali Ağca, tudo firmou o papa como uma extraordinária figura pública. Essa reputação foi reforçada ainda mais em dezembro de 1983, quando João Paulo visitou Ali Ağca pessoalmente na prisão Rebibbia, de Roma, para perdoá-lo.
Um pouco como o assassinato de Kennedy, o atentado contra João Paulo II é um dos crimes mais estudados do século XX, e mesmo 30 anos depois ainda não há consenso sobre o que realmente aconteceu (por exemplo, quantas balas foram disparadas de fato naquele dia , ou por quantos homens armados), ou quem, em última análise, estava por trás disso.
Parte do problema, é claro, é que o próprio Ali Ağca deu versões tão diferentes dos eventos ao longo dos anos – de acordo com o juiz italiano Antonio Marini, Ali Ağca ofereceu inacreditáveis 107 explicações diferentes sobre por que ele atirou no papa e quem mais podia estar envolvido (em sua alegação indubitavelmente mais estranha até hoje, em novembro passado, Ali Ağca disse que o falecido cardeal italiano Agostino Casaroli, primeiro secretário de Estado de João Paulo II, ordenou o ataque).
O jornalista italiano Marco Ansaldo e a colega turca Yasemin Taşkin tentaram enterrar as dúvidas em Uccidete il papa: La vera pista dell’attentato a Giovanni Paolo II (Matem o Papa: A verdadeira pista sobre o atentado contra João Paulo II), publicado pela Ed. Rizzoli.
Ansaldo e Taşkin reveem rapidamente, e rejeitam, várias teorias que flutuaram ao longo dos anos: que a máfia italiana estava por trás do ataque, ou os comunistas poloneses, ou uma rede global de radicais islâmicos, ou mesmo a CIA, ou o próprio Vaticano. Eles passam mais tempo para derrubar a chamada "Conexão Búlgara", porque ela se tornou a explicação mais popular. Ela sustenta que os agentes da polícia secreta da Bulgária incitaram Ali a cometer o atentado contra João Paulo II, agindo sob instruções do KGB.
Ansaldo e Taşkin rejeitam a hipótese búlgara/KGB, em parte porque, para eles, ela simplesmente não passa no teste do cheiro. Nenhum serviço secreto, argumentam, colocaria um complô tão delicado nas mãos de um terrorista internacionalmente conhecido como Ali Ağca (já procurado pelo assassinato de um jornalista turco de esquerda em 1979), sem falar no fato de ser um rapaz conhecido como completamente instável. Além disso, nenhum serviço secreto simplesmente deixaria que Ali Ağca se virasse sozinho depois que os tiros fossem disparados – ou o resgatariam ou o matariam, argumentam Ansaldo e Taşkin, e não o deixariam em dificuldades.
Ao contrário, sugerem Ansaldo e Taşkin, o atentado contra João Paulo II foi "um plano que nasceu na Turquia e se desenvolveu na Turquia". Com isso, eles querem dizer que ele tomou forma dentro dos "Lobos Cinzentos" – o grupo terrorista ultranacionalista com conexões com a máfia, ao qual Ali Ağca pertencia. No início dos anos 1980, afirmam, os Lobos Cinzentos tinham aspirações de chegar ao sucesso derrubando um alvo internacionalmente famoso, e João Paulo II preenchia esse requisito. (Em 1980, o regime militar tomou o poder na Turquia. Antes do golpe, os militares haviam sido amigáveis com os Lobos Cinzentos, mas depois os reprimiram. De acordo com Ansaldo e Taşkin, o principal motivo para o atentado contra João Paulo foi, assim, um desejo por parte dos Lobos Cinzentos de provar que eles ainda tinham importância).
Até hoje, reportam Ansaldo e Taşkin, os Lobos Cinzentos são os únicos que ainda cercam Ali Ağca e o apoiam. Ali Ağca saiu da prisão no ano passado e agora vive em Istambul, e, se você quiser marcar um encontro para vê-lo, de acordo com Ansaldo e Taşkin, você terá que passar pela antiga rede dos Lobos Cinzentos.
Uma interessante pedra preciosa do livro: acredite ou não, há uma pista potencialmente vital que já esteve em total exposição pública durante 30 anos, mas que nunca foi examinada cientificamente. É uma bala que acabou na plataforma do Papamóvel, e que João Paulo II, depois, colocou na coroa da estátua de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, para lhe agradecer pelo que o papa considerava como a sua intervenção para salvar sua vida. Ansaldo e Taşkin contam que essa bala nunca foi disponibilizada aos investigadores para fazer os testes de balística, que poderiam provar conclusivamente que ela não veio da pistola Browning 9mm de Ali Ağca e que, portanto, um segundo atirador atirou contra o papa.
O fato de o Vaticano nunca ter revelado essa bala, afirmam, provavelmente está relacionado com a "indiferença soberana" de João Paulo à questão de quem estava envolvido no complô. Magistrados italianos citados por Ansaldo e Taşkin dizem que João Paulo II nunca pediu para ser informado sobre o andamento dos vários inquéritos e, nas raras ocasiões em que alguém o colocava por dentro, ele parecia apenas vagamente interessado.
Por quê? A opinião consensual é que João Paulo II acreditava que o atentado de assassinato fazia parte de um drama cósmico muito maior, centralizado na devoção de Fátima e especialmente em seu famoso "Terceiro Segredo". Dada essa convicção, a questão de saber quais poderes terrestres podiam estar envolvidos parecia para ele muito mais uma questão secundária.
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Já escrevi anteriormente que uma taxonomia dos subgêneros da literatura vaticana nos dias de hoje teria que incluir a "exposição do padre gay", baseado tanto no crescente número dessas obras, quanto na sua comprovada capacidade de despertar emoções.
O exemplo mais recente é Sex and the Vatican: Viaggio segreto nel regno dei casti (Sexo e o Vaticano: Uma viagem secreta no reino dos castos), publicado pelas Edizioni Piemme. Materiais de divulgação do livro prometem relatos escabrosos sobre "padres de todas as nacionalidades, que dividem seu tempo entre a Via della Conciliazione [onde se encontram os principais escritórios do Vaticano] e a agitada noite de Roma".
O autor é Carmelo Abbate, e o livro é uma versão expandida de uma exposição sobre as vidas duplas dos padres que Abbate publicou no ano passado na revista italiana Panorama. O livro amplia o material da Panorama, tecendo histórias de padres heterossexuais que mantêm relações com mulheres, incluindo alguns que supostamente tiveram filhos, e outros que ajudaram suas namoradas a abortar. Os padres envolvidos normalmente são apresentados de forma anônima, usando pseudônimos.
(Mesmo reconhecendo isso, a maioria dos padres não parecem ter nenhuma conexão direta com o Vaticano. Eles são ou sacerdotes internacionais que estudam em Roma ou que vivem em uma casa religiosa da cidade, ou padres italianos que servem em paróquias romanas. O "e o Vaticano" do título, portanto, tem mais a ver com a geografia – tudo isso se desdobra no jardim do Vaticano – do que com as pessoas envolvidas).
O livro está organizado em 44 capítulos, a maioria dos quais envolve relatos em primeira pessoa dos padres e de seus amantes, sejam gays ou hetero. Ele é bastante superficial nas análises, embora o capítulo final inclua uma entrevista com Richard Sipe, um ex-padre beneditino dos Estados Unidos, que tem escrito extensamente sobre o que ele vê como uma cultura clerical disfuncional que alimenta várias formas de subterfúgios e más condutas sexuais.
Se é que há uma tese no livro, ela se resume a isto: os padres que são sexualmente ativos, sejam gays ou hetero, são mais numerosos do que os círculos oficiais gostariam de acreditar, e eles muitas vezes levam uma vida conflitante. A Itália, em particular, de acordo com Abbate, erigiu um "muro de silêncio" ao redor do problema.
Curiosamente, a edição francesa de Sex and the Vatican causou frisson, já que a edição inicial foi vendida em uma semana, e o livro disparou nas listas de mais vendidos. Agora, um documentário para a TV francesa está sendo produzido. Na Itália, entretanto, a reação foi muito mais fraca, com um escasso interesse por parte da mídia e poucas vendas. Em parte, pode ser que o furo da Panorama há um ano roubou a força do livro. Em parte, pode ser simplesmente que as revelações de padres sexualmente ativos se tornaram tão familiares entre os católicos bem informados a ponto de provocar essa mesma resposta.
Será interessante ver qual será a reação do mercado quando Sex and the Vatican aparecer em inglês.
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Algum tempo atrás, eu publiquei uma coluna questionando por que o cristianismo não tem a sua própria literatura sobre o Holocausto, ou seja, relatos convincentes de cristãos ao longo do século XX que pagaram pela sua fé com sangue, assim como a lista tristemente longa de cristãos que continuam sendo martirizados hoje.
Um magnífico exemplo do que eu tinha em mente é o novo livro Dove muoiono i cristiani: Dall’Egitto all’Indonesia, viaggio nei luoghi in cui il cristianesimo è una minoranza perseguitata (Onde morrem os cristãos: Do Egito à Indonésia, viagem em lugares onde o cristianismo é uma minoria perseguida), publicado pela editora Mondadori.
O autor é uma talentosa jornalista italiana, Francesca Paci, que geralmente não é uma escritora "católica". Talvez por isso mesmo, ela traga o toque certo para suas histórias de cristãos sofredores em Bagdá, na Coreia do Norte, na Amazônia, na Nigéria e em vários outros lugares. O livro é superficial na reflexão piedosa, concentrando-se, ao contrário, no persuasivo drama humano.
Paci se sente atraída para contar as histórias de pessoas que normalmente são abandonadas e mal compreendidas por todos os lados nas guerras de hoje, tanto físicas quanto culturais. Ela cita o intelectual francês Régis Debray, que lutou ao lado de Che Guevara nos anos 1960, para dizer que os cristãos no Oriente Médio hoje são o "ponto cego" na visão do Ocidente sobre o mundo – muito "cristã" para os progressistas, muito "estrangeira" para os conservadores.
Outra virtude do livro de Paci é que ele não é uma visão estatística geral, montada atrás de uma mesa. Ao contrário, é uma série de despachos das linhas de frente, que contam as histórias individuais por trás dos padrões gerais – como o de Fatima, 28 anos, uma das sobreviventes de um ataque do dia 31 de outubro de 2010 à Igreja Católica de Nossa Senhora da Salvação, em Bagdá, onde homens armados da Al-Qaeda, gritando "Allāhu Akbar" [Deus é grande], mataram pelo menos 58 pessoas.
A comunidade cristã do Iraque tem sido especialmente devastada no último quarto de século. Antes da Primeira Guerra do Golfo, em 1991, a população cristã do Iraque era estimada em mais de 2 milhões de pessoas, uma das maiores e mais estáveis do Oriente Médio. Hoje, o melhor palpite é de cerca de 400 mil para menos. Os cristãos iraquianos enfrentam uma grande tempestade de caos político e social, e aumento do fundamentalismo islâmico. E eles também têm acesso a redes estrangeiras de apoio.
Ouvindo Fatima contar a Paci sobre como ela se fingiu de morta durante o cerco, escondendo-se entre um par de cadáveres entre seus colegas do coral, começamos a ver que a verdadeira questão não é por que tantos cristãos iraquianos foram embora, mas sim de onde vem a coragem entre aqueles que preferem ficar.
Na Somália, Paci cita Dom Giorgio Bertin, de Djibuti, que também é o administrador apostólico de Mogadíscio [capital do país]: "Nós, cristãos da África islâmica, somos basicamente bolas do futebol político, protegidos ou atacados dependendo se o governo precisa reforçar o apoio ou com os liberais, ou com os conservadores".
Bertin explica a Paci que ele não esteve em Mogadíscio durante pelo menos dois anos, onde seis das sete Igrejas cristãs tradicionais da cidade foram destruídas, e a única que ficou de pé está fechada porque o pequeno número de cristãos está muito assustado para se reunir para o culto. A maioria dos cristãos restantes abandonaram seus nomes de batismo para nomes que parecem islâmicos, conta ele, e até Bertin é forçado a usar uma identidade falsa, a fim de obter ajuda para as poucas famílias cristãs da região.
O livro de Paci é uma contribuição extremamente útil para tornar essas histórias mais conhecidas no Ocidente. Aqui, esperamos não apenas que ele encontre um público, mas também que ajude a gerar um gênero totalmente novo.
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Quatro títulos de uma boa safra de livros sobre João Paulo II - Instituto Humanitas Unisinos - IHU