Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Primeira Leitura: At 10,34.37-43
Salmo: 117,1-2.16ab-17.22-23
Segunda Leitura: Cl 3,1-4
Evangelho: Jo 20,1-9
Enquanto os sinóticos falam de mais mulheres que foram ao túmulo de Jesus, João apenas menciona Madalena, citada como protagonista também em Mateus e Marcos. No entanto, João não diz o propósito de sua visita ao túmulo. Talvez ela tenha ido lá para fazer o lamento que, de acordo com o costume da época, durava três dias no túmulo do falecido. De acordo com Marcos e Lucas, as mulheres foram ao túmulo para ungir o corpo de Jesus. De acordo com Mateus, para visitar o túmulo, que era guardado pelos guardas. Na história narrada por João, há um duplo movimento: Madalena corre do túmulo até os discípulos (v.1-2), Pedro e o outro discípulo correm em direção ao túmulo (v.3-4). A vinda de Pedro ao túmulo de Jesus também é confirmada por Lc 24,12 e está relacionada com a visita das mulheres, atestada pela tradição sinótica. João, portanto, relata um fato autêntico, mas dando ênfase à figura do discípulo amado pelo Senhor.
Existem desarmonias dentro das duas unidades narrativas: a) no v.1 Maria Madalena visita o sepulcro sozinha; mas no v.2 diz aos discípulos: “não sabemos onde (= o Senhor) puseram”; b) do discípulo dileto é dito com ênfase que “ele viu e creu” (v.8), contradizendo a sentença causal do v. 9 onde é dito que ambos os discípulos não tinham ainda entendido as Escrituras.
A historicidade da vinda das mulheres postula também a dos discípulos, pelo menos de alguns. A menção dos dois discípulos, lembrados juntos também durante a última ceia para a denúncia de Judas (13,23-25) e para a pesca milagrosa (c. 21), prova a amizade entre eles. Mas alguns detalhes do presente episódio parecem implicar uma certa emulação entre os dois, o que provavelmente reflete alguma tensão entre os ambientes petrino e joanino. Também foneticamente a prioridade do outro discípulo é enfatizada com proedramen e prōtos v. 4 e 8, mas sobretudo no decorrer da história. Contudo, Pedro não é descrito como uma figura contrastante.
Os dois discípulos vão ao túmulo com pressa, atitude bem compreensível dada a circunstância; Maria também “correu” (v.2). A anotação de que os discípulos correm juntos serve apenas para preparar a narrativa que se segue.
v.1-2 - A indicação cronológica do primeiro dia da semana concorda com os sinóticos; mas a expressão “quando ainda estava escuro” não concorda com a notação de Marcos, “ao nascer do sol” (16,2). A escuridão (skotias) é uma característica do estilo joanino. Possivelmente João pretende aludir simbolicamente à escuridão na qual os discípulos e discípulas estavam tateando por causa da ausência de Jesus. Pela primeira vez em João “o outro discípulo” é identificado com o discípulo amado por Jesus (v.2), que provavelmente representa a testemunha na origem da tradição do quarto evangelho.
v.5-7 - Os panos de linho deitados (keimena ta othonia) onde o corpo foi colocado indicam que Jesus não poderia ser contido pelos “laços da morte” (Sl 116,3). O sudário (v.7) consistia em um pedaço que envolvia a cabeça do falecido, para evitar que a boca se abrisse. “Enrolado” traduz entetyligmenon, significando que a mortalha tinha mantido a forma da cabeça de Jesus. No entanto, os dois discípulos perceberam que o corpo de Jesus não havia sido roubado, porque os ladrões não se preocupariam em despir um cadáver antes de removê-lo da tumba.
v.8-10 - “o outro discípulo, que entrou na tumba, viu e creu” (v.8). O uso absoluto de “ver e acreditar” destaca o tema da fé em todo este capítulo. Do v. 9 entretanto não parece que o discípulo amado veio imediatamente para uma fé completa. O verbo aoristo episteusen (acreditou), pode significar “começou a acreditar”. Era de uma fé inicial, talvez baseada no “sinal” da pedra removida, da presença das vestes funerárias, do sepulcro vazio. O discípulo, espantado com a ausência do corpo de Jesus, não entende, ainda não sabe que o Senhor ressuscitou. Isso explica a reserva do versículo seguinte. “Eles ainda não tinham compreendido a Escritura que diz: Ele deve ressuscitar dos mortos” (v.9). A frase implica a ignorância da Escritura em um sentido global, mas com referência particular ao Salmo 16,9-10 e a Oseias 6,2.
Pedro verifica o estado dos eventos na tumba, que - no modo de ver do evangelista e no horizonte de pensamento daquela época - é extremamente importante para a questão da ressurreição: as pistas levam a concluir que Jesus ressuscitou.
No v. 5 também deve ser notado que o discípulo se inclina para dentro do sepulcro: esta é a situação de quem ainda não quer entrar. O principal fato é que o discípulo vê (blepei) os panos caídos no chão. Sob o aspecto narrativo está uma progressão intencional: Maria vê a pedra retirada do túmulo (v.1b), o outro discípulo vê os panos no sepulcro, finalmente Pedro observa (theōrei) os panos e a mortalha, dobrados e deitado à parte (v.6-7). O leitor é progressivamente informado do significativo estado de coisas.
v.6-7 - Pedro, que seguia o outro discípulo (akolouthōn) aqui representa seguir materialmente, (18,15), entra na tumba e examina tudo atentamente. Ele também vê não só os panos, mas também o sudário, que foi colocada sobre a cabeça de Jesus. Mas a forma de encontrar os objetos e a disposição das coisas encontradas revelam uma intenção particular do narrador.
É natural a comparação deste evento com a revivificação de Lázaro. Na descrição de Lázaro saindo da tumba está também mencionado o sudário, com o qual “seu rosto estava envolto” (11,44). Objetivamente, no entanto, se impõe ao leitor a comparação: Lázaro chamado de volta à vida terrena deve ser libertado das ataduras, Jesus que realmente ressurge realmente se liberta delas e as deixa como um sinal de sua ressurreição.
O discurso de Pedro em Atos dos Apóstolos é uma síntese do anúncio pascal: a pregação do Batista, o batismo de Jesus, seu ministério público assinalado pela luta contra o mal, a crucifixão e ressureição, as aparições pascais aos discípulos e discípulas e a missão direcionada ao mundo inteiro.