O subsídio é elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF:
- Dr. Bruno Glaab
- Me. Carlos Rodrigo Dutra
- Dr. Humberto Maiztegui
- Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Primeira Leitura: Br 5,1-9
Segunda Leitura: Fl 1,4-6.8-11
Salmo: 125, 1-2ab.2cd-3.4-5.6
Evangelho: Lc 3,1-6
O Evangelho segundo Lucas, assim como o livro de Atos, tem a particularidade de ser dedicados a uma pessoa (ou um conjunto de pessoas) denominada “Teófilo” (cf. Lc 1,3 e At 1,1). Este nome significa, literalmente, “quem ama Deus”, possivelmente representativo de todas as pessoas de origem não-judaica (gentias) que iam se somando as novas comunidades cristãs, especialmente aquelas que surgem a partir odo trabalho missionário do apóstolo Paulo (cuja trajetória resgata no livro de Atos). Estas pessoas, a maioria pobres, tinham sede de esperança, de igualdade, de dignidade.
Lucas, ao que tudo indica, tomo como base a memória preservada pela comunidade de Antioquia (onde as pessoas que seguiam Cristo foram, por primeira vez, chamados “cristãos’, cf. At 11,26). Ali teve acesso a parte dos Evangelhos já escritos (Marcos e Mateus) e outros textos soltos. Em todos João Batista é tão essencial para apresentar a revelação de Jesus como o próprio Cristo (messias/ungido/enviado) quanto a própria Maria.
João Batista faz a ligação de Jesus Cristo com toda a história da salvação protagonizada pelo Povo de Deus desde o Êxodo, passando pelo profetismo. Ele é também a imagem das pessoas pobres, vivendo à margem do sistema, e denunciando a incoerências e mentiras dos governantes.
3.1-2: O texto inicia com a referência histórica ao momento político vivido pelo Império Romano (o mesmo que é feito quando a narrativa do nascimento; cf. 2,1-3). Tíbério César – que assume o Império em 14 d.C. no meio de violências, intrigas e forte ação militar contra insurgentes, como caracterizava a política da “pax romana”. No entanto, esta política também foi lembrada pela ação de seu representante Sejano exilando famílias judias que moravam em Roma e aplicando uma política repressiva na Palestina, através de Pôncio Pilatos (lembrado pelo próprio Lucas por promover o massacre contra os galileus; cf. 13,1).
A conjuntura política local é lembrada através dos dois tetrarcas (governadores de uma quarta parte do território) e irmãos, sucessores de Herodes (o Grande que morre em 4 a.C.). Herodes Antipas será o responsável pela decapitação de João Batista, que teria buscado matar Jesus (Lc 13,31) e colabora com o assassinato político de Jesus por parte de Pilatos (cf. Lc 23,7-11). Felipe, outro governante omisso diante das atrocidades cometidas em seu território. Assim a profecia de João. Junto ao poder político violento, repressor, hipócrita e omisso, estava o poder religioso que também exercia seu poder por concessão do poder do Império Romano e seus representantes locais. Os Sumos Sacerdotes (máximas lideranças do Templo de Jerusalém) Anás e Caifás eram os que reprimiam o movimento de Jesus que denunciava sua participação no assassinato de Jesus (At 4,6-10).
3,3: A proclamação de João Batista deve ser entendida neste contexto, que dá sentido ao batismo de metanóia (conversão) praticado por ele, e o perdão/libertação/remissão (afesis) dos pecados. Não apenas como ação pessoal, mas como opção social e política contra as forças de morte.
3,4: O sonho de um novo caminho vem da experiência do Povo de Deus que muito antes, no século 6º a.C., através da profecia fixada no Livro de Isaías, projetava a libertação do Império Babilônico e a volta à terra.
3.5: O novo caminho exige “aplainar” os obstáculos, descritos na análise inicial de conjuntura política e religiosa, algo que diz que acontecerá neste novo tempo que inicia com a presença divina na história em Jesus.
3.6: Este sonho é inclusivo, não apenas para um povo, para um gênero, para uma etnia, mas possibilitará que “toda carne” (passa sarx) veja a salvação, sem mais impérios e poderes de morte para lhes oprimir e destruir a vida.
O livro de Baruc, embora listado entre os livros proféticos, é um livro de sabedoria ou “sapiencial”, onde se busca unir setores polarizados e divididos do judaísmo durante o domínio helenista (grego) a partir de uma visão de fora (Babilônia do passado – oriente). Só é verdadeira a “Paz da Justiça” e só através dela é que será reconhecido o reinado do Deus Eterno (Br 5.2). Na Carta aos Filipenses o apóstolo Paulo prepara a comunidade para o “Dia de Cristo” (Fl 1,6.10), um caminho que é pessoal, mas também social e político, e que se percorre em amorosidade (Fl 1,9 - como ação oposta à morte e a violência) e dá o fruto da justiça (Fl 1,11).