19 Fevereiro 2021
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 1,12-15, que corresponde ao 1° Domingo de Quaresma, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
A chamada à conversão evoca quase sempre em nós a memória do esforço exigente, próprio de todo o trabalho de renovação e purificação. No entanto, as palavras de Jesus, «Convertei-vos e acreditai na Boa Nova», convidam-nos a descobrir a conversão como um passo para uma vida mais completa e gratificante.
O Evangelho de Jesus vem dizer-nos algo que nunca devemos esquecer: «É bom converter-se. Faz-nos bem. Permite-nos experimentar um modo novo de viver, mais saudável e alegre. Dispõem-nos a entrar no projeto de Deus para construir um mundo mais humano». Alguém se perguntará: mas, como viver essa experiência? Que passos dar?
O primeiro é parar. Não termos medo de ficar sozinhos conosco mesmos para nos fazermos as perguntas importantes da vida: quem sou eu? O que estou fazendo com a minha vida? É isto o único que quero viver?
Este encontro consigo mesmo requer sinceridade. O importante é não continuarmos a enganar-nos por mais tempo. Procurar a verdade do que estamos vivendo. Não nos empenharmos em ocultar o que somos e parecer o que não somos. É possível que experimentemos então o vazio e a mediocridade. Apresentam-se diante de nós atuações e posturas que estão arruinando nossa vida. Não é isto o que teríamos querido. No fundo desejamos viver algo melhor e mais alegre.
Descobrir como estamos prejudicando nossa vida não tem que nos afundar no pessimismo ou no desespero. Esta consciência de pecado é saudável. Dignifica-nos e ajuda-nos a recuperar a autoestima. Nem tudo é mau e ruim em nós. Dentro de cada um atua sempre uma força que nos atrai e empurra para o bem, o amor e a bondade. É Deus que quer uma vida mais digna para todos.
A conversão exige-nos sem dúvida introduzir mudanças concretas na nossa forma de atuar. Mas a conversão não consiste nessas mudanças. Ela própria é a mudança. Converter-se é mudar o coração, adotar uma nova postura na vida, tomar uma direção mais saudável. Colaborar no projeto de Deus.
Todos, crentes e menos crentes, podem dar os passos mencionados até aqui. A sorte do crente é poder viver esta experiência abrindo-se confiadamente a Deus. Um Deus que se interessa por mim mais do que eu próprio, para resolver não os meus problemas, mas «o problema», essa minha vida medíocre e fracassada que parece não ter solução. Um Deus que me entende, me espera, me perdoa e que me quer ver viver de forma mais plena, alegre e gratificante.
Por isso o crente vive a sua conversão invocando Deus com as palavras do salmista: «Tem misericórdia de mim, Ó Deus, segundo a tua bondade. Lava-me completamente da minha culpa, limpa o meu pecado. Cria em mim um coração limpo. Renova-me por dentro. Devolve-me a alegria da tua salvação» (Sal 51).
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A conversão faz-nos bem - Instituto Humanitas Unisinos - IHU