Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.
Primeira Leitura: Isaías 45.1.4-6.
Salmo: Sl 95,1.2a.3.4-5.7-8.9-10a.c (R. 7ab)
Segunda Leitura: 1 Tessalonicenses 1,1-5b
Evangelho: Mateus 22,15-21
O princípio diferenciador entre Jesus e Cezar
A comunidade de Mateus é testemunha dos horrores da repressão romana contra Jerusalém em 70 d.C. e da continuidade da perseguição contra as comunidades cristãs. Esta narrativa é um dos eixos que percorrem todos os Evangelho Sinóticos e que a comunidade de Mateus incorpora, mas enfatiza esta passagem como princípio de diferenciador entre o Projeto de Jesus Cristo e o sistema imperial vigente.
O texto de Mt 22,15-21 em relação a Marcos 12,13-17
A narrativa é comum ao três Evangelhos Sinóticos. No entanto, vamos nos concentrar na relação entre Mateus e Marcos (que certamente foi uma das suas fontes). Na narrativa de Mateus o texto se apresenta dentro de um conjunto que acontece num único dia. O contexto é o da última semana de Jesus em Jerusalém. Ele inicia como a narrativa da maldição da figueira (21.18s) e reúne uma série de confrontos com os “anciãos do povo”, fariseus, escribas, herodianos e saduceus. Estes dois últimos grupos concentrem as críticas por terem um inserção popular maior que os outros (cf. 21,23.45;22,15.23.34.41 e todo o capítulo 23).
Ao comparar estes textos, podemos ver o sentido do resgate dado pela comunidade de Mateus. Enquanto, nos primeiros versículos a narrativa de Marcos apresenta “fariseus e herodianos” como um grupo só, a comunidade de Mateus (v.15-16) os diferencia, dizendo que os herodianos (braço político do Império Romano) foram enviados pelos “fariseus” (braço religioso do Império). Assim, seguindo a denúncia que é feita ao longo do Evangelho, destaca o mal que é feito quando a fé é usada como instrumento de opressão e repressão.
Da mesma forma, enquanto Marcos, acusa este grupo de serem “hipócritas”, Mateus assinala a sua “maldade”: “E conhecendo Jesus a maldade deles, lhe disse: por que me tentais hipócritas?” (v.18).
Relacionando com os outros textos
Na segunda parte do Livro de Isaías (Deutero-Isaías 40-55), o Imperador Ciro representa a oportunidade de retornar da Babilônia para a terra natal. Em Is 40,1 , Ciro é chamado “messias”. No entanto, embora em momento conjunturais imperadores pareçam ser “instrumentos de Deus”, no longo prazo ficou demonstrado que a fé e a Igreja, em muitas ocasiões, foram manipuladas como instrumentos de opressão. Já a 1ª Carta aos Tessalonicenses (uma das primeiras cartas do apóstolo Paulo), lembra que não devemos cair na tentação da aliança com os que dominam e oprimem, mas buscar a prática do Evangelho que tenha coerência na práxis e não apenas em palavras (cf. 1 Ts 1.5a).