03 Julho 2020
Naquele tempo, Jesus disse: «Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Meu Pai entregou tudo a mim. Ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar.
Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso. Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque a minha carga é suave e o meu fardo é leve».
Leitura do Evangelho segundo Mateus, capítulo 11,25-30. (Correspondente ao 14º Domingo do Tempo comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Neste domingo a liturgia apresenta uma passagem sobre a oração que Jesus dirige ao Pai. Nos evangelhos apresenta-nos diferentes momentos que Jesus reza e ensina a rezar aos seus discípulos. No evangelho de Mateus Jesus já tinha recomendado ao grupo que estava com ele uma oração desde a interioridade, simples e sincera, e “não como os hipócritas que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens”.
Apresenta a proximidade com Deus que está ao nosso lado, “que vê o escondido” e rejeita as aparências e a hipocrisia. Diante da pergunta dos discípulos Jesus ensina a forma de dirigir-se a Deus como Pai que nos escuta, nos ama e nos cuida sempre, “pois o Pai de vocês sabe do que é que vocês precisam, ainda antes que vocês façam o pedido”.
Em vários contextos Jesus se dirige a rezar: “a um lugar deserto”, sobe ao monte para rezar e “passou toda a noite em oração a Deus”, ou se afasta do grupo que o segue para rezar. Os evangelhos relatam que depois da multiplicação dos pães e de despedir as multidões “Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar” e “ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho”. Diante da proximidade da sua morte, no Getsêmani Jesus disse aos discípulos: “Sentem-se aqui, enquanto eu vou rezar”.
Vemos assim diferentes cenários onde Jesus apresenta-se rezando: antes de começar sua missão, previamente à escolha do grupo de discípulos, depois de contemplar o agir maravilhoso de Deus que alimenta as multidões pobres e necessitadas, diante de situações difíceis.
Muitas pessoas no transcurso da história têm se perguntado como rezava Jesus. Como era esse diálogo íntimo e essa comunicação cheia de confiança com o Pai? O papa Francisco, refletindo sobre a oração de Jesus, nos disse: “Para ele, a oração era entrar na intimidade com o Pai, que o sustentava em sua missão, como aconteceu no Getsêmani, onde recebeu a força para empreender o caminho da cruz. Toda a sua vida foi marcada pela oração, tanto privada como a litúrgica de seu povo. Essa atitude se vê também em suas últimas palavras na cruz, que eram frases tomadas dos salmos”.
Neste domingo somos convidados a refletir numa passagem muito rica sobre a oração. Jesus está diante de um público diverso. Estão os que o seguem porque estão interessados nas suas palavras e ficam atraídos pela sua mensagem: são as pessoas pobres, os simples, os marginalizados pela sociedade desse momento. Os que recebem o conforto de suas palavras, a saúde, a liberdade interior.
Mas também estão os doutores da Lei, os fariseus, os escribas, os que se acham os donos da fé e da religião. Eles estão junto a Jesus somente com o objetivo de comprovar que não cumpre a Lei de Moisés, porque para ele Jesus é um blasfemo que engana o povo e que atenta contra suas tradições e sua interpretação da Lei e por isso ficam furiosos diante de suas atitudes, “armavam ciladas, para pegá-lo de surpresa em qualquer coisa que saísse de sua boca” (Lc 11,54). Eles colocam cargas pesadas sobre o povo, e sua dureza de coração e hipocrisia não lhes permite ver a vida que Jesus comunica, pelo contrário, “ficaram indignados quando viram as maravilhas que Jesus fazia” (Mt 21,15).
“Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”.
Jesus começa louvando ao Pai com um coração agradecido e reconhece nos simples e nos pequeninos a revelação do Pai. Os sábios e inteligentes não são capazes de perceber a presença do Reino e sua justiça através de Jesus e, pelo contrário, os desfavorecidos e os pobres são os que percebem e reconhecem o sentido da atividade libertadora de Jesus.
Ele veio tirar a carga pesada que os sábios e inteligentes impunham sobre o povo. Por isso nas suas palavras recebem o consolo de um amor libertador. Jesus traz novo modo de viver na justiça e na misericórdia: doravante, os pobres serão evangelizados e partirão para evangelizar.
Como disse Francisco na Jornada mundial dos pobres. "Este pobre grita e o Senhor o escuta": “Os pobres são os primeiros a estar habilitados para reconhecer a presença de Deus e para dar testemunho da sua proximidade na vida deles. Deus permanece fiel à sua promessa e, mesmo na escuridão da noite, não deixa que falte o calor do seu amor e da sua consolação. Contudo, para superar a opressiva condição de pobreza, é necessário que eles se se apercebam da presença de irmãos e irmãs que se preocupam com eles e que, ao abrir a porta do coração e da vida, fazem com que eles se sintam amigos e familiares”.
“Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso”.
“Carregar o jugo” era expressão apreciada pelos rabinos e se referia ao jugo da Torá, dos preceitos. Mas a Lei já não era para muitos fonte de vida, mas de escravidão, tinha-se transformado num fardo insuportável porque ao povo era exigido seguir as tradições dos doutores da Lei, suas próprias interpretações. Jesus não é recebido nem aceito por este grupo, pelos sábios e inteligentes, pelos poderosos que infligem cargas pesadas ao povo simples e marginalizado.
Na sua vida Jesus esteve ao lado do povo oprimido, dos pobres, dos que não tinham nem direito de estar num povoado nem cidade e, ainda menos, dizer uma palavra pela sua condição.
Também hoje, “Quantas vezes vemos os pobres nas lixeiras a catar o descarte e o supérfluo, a fim de encontrar algo para se alimentar ou vestir! Tendo-se tornado, eles próprios, parte duma lixeira humana, são tratados como lixo, sem que isto provoque qualquer sentido de culpa em quantos são cúmplices deste escândalo. Aos pobres, frequentemente considerados parasitas da sociedade, não se lhes perdoa sequer a sua pobreza. A condenação está sempre pronta. Não se podem permitir sequer o medo ou o desânimo: simplesmente porque pobres, serão tidos por ameaçadores ou incapazes”.
E neste domingo somos chamados a ser portadores do Deus que nos consola e que especialmente neste difícil momento que estamos atravessando nos convida a confiar nele. A colocar Nele nossa fadiga e a fraqueza diante da incerteza do futuro. Deixar em suas mãos o esgotamento e estresse que vive a sociedade toda e acolher suas palavras de conforto e consolo.
Pobre
daquele que descobriu
a dor do mundo
como dor de Deus,
a injustiça dos povos
como rejeição de Deus,
a exclusão dos fracos
como batalha contra Deus!
Já tem a cruz assegurada!
Feliz
o que descobriu
no protesto do pobre
a ruptura do sepulcro,
na comunidade marginal
o por-vir de Jesus,
nos últimos que nos acolhem
o regaço materno de Deus!
Já começou a ressuscitar!
Pobre
do que se encontrou
com um pobre assim,
com um Deus assim!
Feliz dele!
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas
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