12 Janeiro 2018
No dia seguinte, João aí estava de novo, com dois discípulos. Vendo Jesus que ia passando, apontou: “Eis aí o Cordeiro de Deus.” Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus virou-se para trás, e vendo que o seguiam, perguntou: “O que é que vocês estão procurando?” Eles disseram: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?” Jesus respondeu: “Venham, e vocês verão.” Então eles foram e viram onde Jesus morava. E começaram a viver com ele naquele mesmo dia. Eram mais ou menos quatro horas da tarde.
André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Ele encontrou primeiro o seu próprio irmão Simão e lhe disse: “Nós encontramos o Messias (que quer dizer Cristo).” Então André apresentou Simão a Jesus. Jesus olhou bem para Simão e disse: “Você é Simão, o filho de João. Você vai se chamar Cefas (que quer dizer Pedra)”.
Leitura do Evangelho segundo João 1, 35-42. (Correspondente à Festa da Sagrada Família, ciclo B do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
No domingo passado iniciamos o Tempo Comum do Ciclo B do Ano Litúrgico com o Batismo de Jesus. Hoje a liturgia situa-nos no começo da atividade de Jesus que conheceremos durante todo o ano. Um conhecimento que nos leva a comprometer-nos cada vez mais com a pessoa de Jesus, suas atividades e sua missão.
Neste período do ano é bom se preguntar: quem é Jesus? Não é uma pergunta intelectual senão uma pergunta que será respondida ao longo de todo o ano, nas leituras do texto Evangélico, na experiência da vida quotidiana como seguidores de Jesus.
Desde o início somos convidados a expressar dúvidas e questionamentos. Seguir Jesus não é cumprir um conjunto de normativas senão ser livres na relação com ele e no conhecimento de sua pessoa.
Na narrativa de hoje Jesus relata o momento em que dois discípulos de João Batista ouvem as palavras dirigidas à pessoa de Jesus como Cordeiro de Deus e começam a segui-lo. Neste momento Jesus vendo que o seguiam, pergunta: “O que é que vocês estão procurando?”.
Uma pergunta similar aparece no final do Evangelho com o encontro de Jesus com Maria Madalena. Nesse momento ela está “chorando junto ao túmulo”. Aparece Jesus Ressuscitado, que ela não pode reconhecer, e pergunta-lhe: “Mulher, por que você está chorando”? Quem é que você está procurando?
Nestes dois trechos, no início e no fim do Evangelho de João, percebe-se uma sequência semelhante. No texto que limos hoje Jesus intervém através de uma pergunta. São suas primeiras palavras no Evangelho. Os discípulos respondem com outra pergunta: “Onde moras?” Neste momento Jesus convida-os a permanecer com ele e dessa forma o verão!
Jesus chama-os a ser seus discípulos, a segui-lo. Neste caminho não há certezas sobre o lugar onde ele mora, porque sua morada é permanecer junto a Ele. É um convite que se gera na relação entre cada um deles, de forma direta. Jesus foi apresentado para eles por João Batista e dessa mesma forma eles o comunicam a outros.
É muito importante a narrativa da experiência destes primeiros seguidores o relato de um encontro pessoal com Jesus. André encontra seu irmão Simão Pedro e o apresenta a Jesus. Em seguida, é Filipe quem encontra Natanael e lhe fala de Jesus. Num primeiro momento, a vida e as palavras de Batista orientam Jesus, coloca os discípulos em seu caminho. E assim seguirão cada um e cada uma dos discípulos de Jesus.
A pergunta de Jesus leva-os a questionar-se internamente por que o estão seguindo. Como discípulos e discípulas procuraram saber quem é Jesus.
Como cristãos somos convidados a perguntar-nos o motivo do nosso seguimento, da nossa fé. Precisamos saber onde Ele está, onde mora, onde é possível encontrá-lo. E para isso devemos fazer experiência: ir e ver. Segui-lo e estar ao seu lado. Conhece-lo na vida quotidiana, no seu sentir pelos outros. Este primeiro encontro com Jesus é tão significativo na vida dos seguidores que descreve-se o dia e a hora: “E começaram a viver com ele naquele mesmo dia. Eram mais ou menos quatro horas da tarde.”
Somos pessoas que conduzem a Jesus pelo testemunho? Este texto convida-nos a agradecer a Deus as pessoas que ao longo de nossa vida foram presença de Deus para cada um e cada uma de nós.
Ao responder a sua pergunta com outra: “Rabi, (Mestre) onde moras?”, os discípulos estão manifestando a Jesus seu desejo de conhecê-lo, de saber dele, de entrar na sua vida, na sua intimidade. Deixam claro que querem segui-lo, e o seguimento é estar com o Mestre. Para Jose Antonio Pagola: “O indivíduo toma consciência de que a fé há de ser livre e pessoal. Já não se sente obrigado a acreditar de modo tão incondicional no que ensina a Igreja. Pouco a pouco começa a relativizar certas coisas e a selecionar outras.” (Texto completo: Abrir-nos a Deus)
Jesus nos convida hoje a fazer silêncio e permitir que se manifestem as perguntas e desejos que há no nosso interior. Que nesse silêncio possamos agradecer tantas pessoas que ao longo de nossa vida foram testemunhos da presença de Jesus no meio de nós e também reconhecer às vezes que nós fomos comunicadores da sua vida.
A oração que segue é a continuação que pode-nos ajudar neste momento
Obrigado/a porque nos necessitas
Em teu silêncio acolhedor
nos ofereces ser tua palavra
traduzida em milhares de línguas
adaptada a toda situação.
Queres expressar-te em nossos lábios
no sussurro ao doente terminal,
no grito que sacode a injustiça,
na sílaba que alfabetiza uma criança.
Em teu respeito a nossa história,
nos ofereces ser tuas mãos,
para produzir o arroz,
lavar a roupa familiar,
salvar a vida com uma cirurgia,
chegar na carícia dos dedos
que alivia a febre sobre a testa
ou acende o amor na face.
Em tua aparente paralisia,
nos envias a percorrer caminhos.
Somos teus pés e te aproximamos
das vidas mais marginalizadas,
pisadas suaves para não despertar
as crianças que dormem sua inocência,
passos fortes para descer até a mina
ou entregar com pressa uma carta perfumada.
Nos pedes ser teus ouvidos,
para que tua escuta tenha rosto,
atenção e sentimento,
para que não se diluam no ar,
as queixas contra tua ausência,
as confissões do passado que remói
a dúvida que paralisa a vida
e o amor que partilha sua alegria.
Obrigado, Senhor, porque nos necessitas.
Como anunciarias tua proposta
sem alguém que te escute no silencio?
Como olharias com ternura,
sem um coração que sinta teu olhar?
Como combaterias a corrupção
sem um profeta que se arrisque?
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