09 Fevereiro 2011
O presidente Sebastián Piñera adiantou nesta terça-feira que o governo chileno entrará com uma queixa formal para investigar o assassinato do ex-presidente Eduardo Frei Montalva, ocorrido em 1982, durante a ditadura militar. O anúncio do governante chileno foi realizado depois de ocorrer um vazamento de um telegrama do WikiLeaks, no qual a embaixada norte-americana em Santiago se mostrava cética em relação ao avanço da investigação.
A reportagem está publicada no jornal argentino Página/12, 09-02-2011. A tradução é do Cepat.
Dias atrás, o jornal El País divulgou um novo telegrama da representação de Washington em território chileno. Os diplomatas norte-americanos diziam em dezembro de 2009 que não confiavam no avanço da ação judicial pela estranha morte de Frei em 1982, em plena ditadura de Augusto Pinochet. "A morte deste emblemático presidente parece destinada a ser uma área na qual a verdade completa nunca será conhecida", se lia no memorando. Nessa comunicação, os enviados da Casa Branca duvidavam se efetivamente se tratou de um assassinato ou de uma morte natural. As análises efetuadas anos depois provaram que Frei morreu em decorrência de uma suspeitosa infecção provocada por gás de mostarda e tálio, enquanto estava internado em uma clínica de Santiago depois de ter sido operado de uma hérnia.
O presidente Piñera tratou de demonstrar nesta terça-feira que os norte-americanos não estavam certos e afirmou que sua administração irá levar em frente a causa. "Desta forma nosso governo busca colaborar para que a morte de um ex-presidente não siga obscura e que de uma vez por todas suas circunstâncias, causas e responsáveis sejam esclarecidos, e aqueles que tiverem responsabilidade assumam as consequências", disse o chefe de Estado chileno.
O juiz Alejandro Madrid está atualmente investigando a morte de Frei, que o próprio magistrado definiu como o maior magnicídio da história chilena. A causa já tem seis envolvidos. Entre os imputados pelo homicídio estão o repressor Raúl Lillo, Luis Becerra, Patricio Silva e Pedro Valdivia. Também foram processados como acobertadores do crime os médicos Helmar Rosenberg e Sergio González. Segundo confirmou a este jornal o advogado da família Frei, Juan Pablo Hermosilla, o juízo poderia estar começando no segundo semestre deste ano. "O juiz Madrid realizou um enorme esforço para esclarecer estes fatos", afirmou Hermosilla, que pediu ao governo a entrega dos arquivos da ex-polícia secreta de Pinochet, a DINA.
Antes de fazer o anúncio, Piñera se comunicou com seu ex-rival nas últimas eleições presidenciais, Eduardo Frei Ruiz Tagle. O filho do presidente assassinado recebeu com agrado a notícia. "Esperamos que a decisão do presidente Piñera se materialize. Tudo o que se fizer para esclarecer estes fatos pode ser útil para conhecer a verdade", disse Hermosilla a este jornal. Outra filha do ex-presidente morto, a ex-senadora Carmen Frei, foi mais cética: "Me pareceria muito triste se a morte de meu pai servisse para um aproveitamento político", declarou a democrata-cristã à imprensa local. "Nós já apresentamos uma queixa. Creio que mais uma não acrescenta muito", concluiu.
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Governo do Chile quer investigar morte de Eduardo Frei - Instituto Humanitas Unisinos - IHU