20 Novembro 2018
A Jornada Mundial dos Pobres é um "sinal concreto" do Jubileu extraordinário da misericórdia de 2016. Assim, o Papa Francisco a define em sua Carta apostólica "Misericordia et misera" na conclusão do Ano Santo em que ele instituiu o evento.
A de 2018 foi a segunda edição dessa Jornada, de acordo com as instruções do Papa, e é celebrado em toda a Igreja no XXXIII domingo do Ano, que este ano caiu em 18 de novembro. Como destacado por Bergoglio, o evento representa "a mais digna preparação para viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo", o último domingo do ano litúrgico que é celebrada no domingo sucessivo. Pelo fato que Cristo "se identificou com os pequenos e os pobres, e nos julgará pelas obras de misericórdia", acrescentou. A Jornada visa ajudar "as comunidades e cada batizado a refletir sobre como a pobreza está no coração do Evangelho e o fato de que, enquanto Lázaro permanecer diante na porta da nossa casa, não poderá haver justiça nem paz social". Além disso, a iniciativa também constitui uma 'forma de nova evangelização com que renovar a face da Igreja em sua perene ação de conversão pastoral para ser testemunha da misericórdia".
J como Jornada Mundial dos Pobres. E J também como Jubileu. No sentido de que o evento é uma maneira de "prolongar" o Ano Santo da misericórdia. Como, de resto, enfatiza o arcebispo Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, que é o organizador evento, em nome de Francisco. "Era justamente esta a intenção do Papa - disse ele -: a inclusão dos pobres no caminho da evangelização.
A entrevista foi editada por Mimmo Muolo, publicada por Avvenire, 17-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por isso, é correto dizer que a Jornada afunda suas raízes no Jubileu?
Claro. O Papa instituiu essa Jornada por uma intuição que teve durante a sua homilia no Jubileu dos pobres, no domingo anterior ao encerramento da porta Santa em São Pedro. Na Basílica lotada de pobres, levantando os olhos do texto escrito da homilia, ele acrescentou de improviso: "Como eu gostaria que essa fosse a Jornada Mundial dos pobres". Então, depois da missa, ele me disse: "Você viu? De improviso, tive essa ideia, agora você implementa ela". E, de fato no documento Misericordia et misera, o Papa inseriu a passagem em que instituía A Jornada Mundial dos pobres, para enfatizar que os pobres nos evangelizam.
Em que sentido os pobres evangelizam?
Eles nos lembram que a evangelização não é uma via de mão única da Igreja, que vai de nós, pastores, voluntários, operadores em direção aos pobres. Mas é verdade que existe uma reciprocidade. Os pobres estão ali para evangelizar a Igreja, os pastores, os fiéis, porque nos fazem descobrir conteúdos do Evangelho que conhecemos, talvez, teoricamente, mas que eles vivem. Na Mensagem para esta II Jornada Mundial Francisco lembra que muitas pessoas pobres se identificam com a figura do cego Bartimeu. Não é por acaso que o lema dessa Jornada é "Clamou este pobre e o Senhor o ouviu". Mas também há aqueles que querem silenciar esse grito, como acontece com Bartimeu. A voz do pobre incomoda porque chama a atenção para quem mais precisa e estende a mão.
São Lourenço costumava dizer que os pobres são o verdadeiro tesouro da Igreja.
E ele estava certo. Afinal, basta conferir o centro de saúde que montamos na Praça de São Pedro (que recebeu no domingo a visita do Papa, ndr) para perceber isso. Visitando-o várias vezes, tive experiências maravilhosas. Por exemplo, havia um jovem asiático que queria ser ajudado a ler os resultados dos exames clínicos que acabara de fazer. E quando os voluntários o ajudaram, outros também se aproximaram com mesma intenção. Gestos simples, mas que demonstram que, além dos procedimentos médicos, já em si importantes, precisamos de uma proximidade humana que consiste em falar, reconfortar e acolher. Este é também o sentido da evangelização.
Como é celebrada a Jornada nas diferentes igrejas do mundo?
Há um florescimento de iniciativas dos bispos e das comunidades. Assim, na quinta-feira, eu recebi a notícia de que a Catedral de Berlim, fechada para reforma, foi reaberta no domingo especificamente para fornecer almoço para os pobres. A jornada foi aceita e se firma cada vez mais.
E um dos carros-chefes é o centro de saúde na Praça de São Pedro, que este ano foi muito melhorado.
Na verdade, no ano passado preparamos tudo em apenas 15 dias. Este ano nós nos organizamos a tempo e construímos uma estrutura modular. O sinal é eloquente: um presente do Papa aos pobres presentes na cidade dentro do ''abraço de Bernini” torna-se seu abraço e da Igreja. Todos são bem-vindos. Sem distinção de proveniência, idade, cor da pele, linguagem: são os nossos pobres que precisam de nós. Certamente é uma gota de água no oceano da pobreza, mas é uma gota de água importante, como é confirmado pelo fato de que até mesmo doenças graves são diagnosticadas.
Sei de alguns casos de hepatite C, ou a história de um idoso em risco de ataque cardíaco que depois da visita ao cardiologista foi imediatamente hospitalizado.
Centro, vigília de oração, missa e almoço são os quatro momentos simbólicos da Jornada. Podem tornar-se uma catequese para a pastoral ordinária dos outros dias?
Definitivamente. O que é celebrado nessa Jornada é um sinal que deve então ser refletido na vida da Igreja. Nós certamente não começamos do zero. Aliás, todos os dias temos um exército de voluntários que coloca à disposição tempo, dedicação e esforço para combater todas as formas de pobreza. Nossas paróquias, grupos, associações e movimentos estão realmente na linha de frente. E dessa forma a Jornada faz uma síntese do que é alcançado no silêncio da vida cotidiana.
Pode-se dizer que por um dia os pobres são os protagonistas?
Isso mesmo. O almoço de domingo, por exemplo, foi de alta classe. Este ano, o chef do Hilton serviu os pobres. E com sua arte ele quer dizer: hoje vocês são os mais importantes. Nesse sentido, a Jornada é catequese, para apoiar o que virá no resto do ano, de acordo com o ensinamento do Papa.
A mensagem é direcionada também para determinados projetos políticos que dizem que querem eliminar a pobreza?
Quando a Igreja se torna a voz dos pobres, também é dirigida àqueles que desempenham funções políticas: os governos, as instituições econômicas e financeiras. Porque se existem os pobres, também existem aqueles que os criam. A pobreza não vem de nada, mas das políticas equivocadas que a geram. O chamado do Papa Francisco também é para eles.
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'E o Papa me disse: tive, de improviso, a ideia'. Uma iniciativa que é o "legado" do Jubileu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU