11 Mai 2018
“O contrário de ‘eu’ não é ‘você’, mas ‘nós’”. O desafio “histórico é construir uma cultura do encontro e uma civilização da aliança”. Foi o que o Papa Francisco afirmou em Loppiano, ao se reunir com o Movimento dos Focolares, fundado por Chiara Lubich (1920-2008). O Pontífice disse aos Focolares: a atitude que aproxima de Deus é “o humor”.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por Vatican Insider, 10-05-2018. A tradução é do Cepat.
A visita pastoral do Pontífice, hoje, 10 de maio de 2018, começou em Nomadélfia, prossegue e termina em Loppiano, na província de Florença e na Diocese de Fiesole, onde visitou a Cidade Internacional dos Focolares.
O helicóptero aterrissou no campo esportivo. Era aguardado por dom Mario Meini, bispo de Fiesole, Maria Voce, presidenta do Movimento dos Focolares, e Jesús Morán, copresidente do Movimento.
O Papa Bergoglio se dirigiu ao Santuário de Maria Theotokos, onde rezou diante da imagem da Virgem de Theotokos. Em seguida, reuniu-se com a família focolarina.
Após a saudação de Maria Voce, três representantes fizeram algumas perguntas ao Papa. E Francisco começou a lhes responder com muito bom humor, apontando o discurso que havia preparado: “Quatorze páginas, ficariam entediados!”.
Francisco agradeceu a Maria Voce “por sua introdução, clara, tudo claríssimo. Nota-se que possui as ideias claras”. Em seguida, disse que estava muito contente de estar, “aqui, entre vocês, em Loppiano, nesta pequena cidade conhecida no mundo porque nasceu do Evangelho e quer se alimentar do Evangelho”.
O Pontífice também quis visitá-la porque, “conforme destacava aquela que foi sua inspiradora, Chiara Lubich, quer ser uma ilustração da missão da Igreja hoje, tal e como a traçou o Concílio Ecumênico II”.
Bergoglio também agradeceu “aos ‘pioneiros’ de Loppiano”, que há mais de 50 anos, “e depois sucessivamente, nas décadas seguintes, lançaram-se nesta aventura, deixando suas terras, suas casas e seus postos de trabalho para vir, aqui, gastar a vida e realizar este sonho”.
Recordou a todos os habitantes de Loppiano “as palavras que a Carta aos Hebreus dirige a uma comunidade cristã que vivia uma etapa de seu caminho semelhante à de vocês. Diz a Carta aos Hebreus: ‘Recordem os primeiros tempos: haviam acabado de ser iluminados e já tiveram que suportar um áspero e doloroso combate, algumas vezes expostos publicamente a injúrias e atropelos e em outras se solidarizando com os que eram tratados dessa maneira. Vocês compartilharam, então, os sofrimentos dos que estavam na prisão e aceitaram com alegria que fossem despojados de seus bens, sabendo que possuíam uma riqueza melhor e permanente. Não percam então a confiança (parrésia), para a qual está reservada uma grande recompensa. Vocês precisam de constância (hypomoné) para cumprir a vontade de Deus e entrar em posse da promessa’”. Nesta passagem, explicou Francisco, as palavras-chave são parrésia e hypomoné. Parrésia, no Novo Testamento, “indica o estilo de vida dos discípulos de Jesus: a coragem e a sinceridade ao oferecer testemunho da verdade e da confiança em Deus e em sua misericórdia”.
E hypomoné, “que podemos traduzir como o ‘estar abaixo’, o permanecer e aprender a habitar as situações difíceis que a vida nos apresenta. Eis, aqui, duas palavras-chave da comunidade cristã: parrésia e hypomoné, confiança e coragem, franqueza e tolerar, perseverar, levar o peso de cada dia sobre os ombros”.
Para São Paulo, o fundamento “da perseverança é o amor de Deus derramado em nossos corações com o dom do Espírito, um amor que nos precede e que nos torna capazes de viver com tenacidade, com serenidade, com positividade, com fantasia... e também com um pouco de humor, inclusive nos momentos mais difíceis”. O humor, acrescentou o Papa, “é a atitude humana que mais se aproxima da graça de Deus”. E contou a anedota de um sacerdote: “Eu conheci um santo padre comprometido até aqui de trabalho, ia para todos os lados, mas nunca deixava de sorrir, e também quando tinha este senso de humor, e os que o conheciam diziam: ‘É capaz de rir dos outros, de si mesmo e até da própria sombra”. Assim é o humor. Não o deixem”.
O que Chiara Lubich imaginou e desejava é uma “cidade que tem o seu coração na Eucaristia” e que se apresenta “aos olhos de quem a visita também em seu aspecto laico e festivo, includente e aberto: com o trabalho da terra, as atividades da empresa e da indústria, as escolas de formação, as casas para a hospitalidade e os anciãos, as oficinas artísticas, os complexos musicais, os modernos meios de comunicação...”. E a dos Focolares é uma “família na qual todos se reconhecem filhos e filhas do único Pai, comprometidos em viver entre si e com todos o mandamento do amor”. “Não para ficarem tranquilos e fora do mundo, mas para sair, para encontrar, para cuidar, para colocar as mãos cheias de fermento do Evangelho na massa da sociedade, sobretudo onde mais se necessita”.
O Papa aconselhou a fazer uma “prova” que um sacerdote lhe submeteu: “Vocês podem fazê-la e também com os outros, brincando... Um padre que está aqui, está meio escondido, fez comigo esta prova. Disse-me: ‘Diga-me, padre, o que é o contrário de ‘eu’, o oposto de ‘eu’? E eu caí na armadilha e lhe disse imediatamente: ‘Você’. Disse-me: “O contrário de cada individualismo é “nós”, o oposto é “nós”. É esta espiritualidade do nós que vocês devem levar adiante. É ela que nos salva de qualquer interesse egoísta. Não é somente um fato espiritual, mas uma realidade concreta com consequências formidáveis”. É a “espiritualidade do nós”.
Em Loppiano, continuou Francisco, vive-se a experiência de caminhar juntos, com estilo sinodal, como Povo de Deus”.
Por isso, é possível impulsionar novamente os caminhos de “formação que floresceram em Loppiano”, graças “ao carisma da unidade: a formação espiritual com as diferentes vocações; a formação para o trabalho, ação econômica e política; a formação para o diálogo, em suas diferentes expressões ecumênicas e inter-religiosas e com pessoas de diferentes convicções; a formação eclesial e cultural”. Loppiano é “cidade aberta. Loppiano é cidade em saída”. Em Loppiano, “não há periferias”, ressaltou Francisco.
A eficácia e o alcance em grande escala deste “auspicioso compromisso” fica demonstrado com duas “realidades que surgiram em Loppiano: o Polo empresarial Lionello Bonfanti, centro de formação e difusão da economia e da comunhão; e a experiência acadêmica de fronteira do Instituto Universitário Sophia, erigido pela Santa Sé, e do qual uma sede local (e me alegro vivamente por isso) será ativada em breve na América Latina”.
O Papa observou que “a história de Loppiano só está começando, vocês estão no início, é uma pequena semente lançada nos sulcos da história. Isto requer humildade, abertura, sinergia e capacidade de se arriscar. Devemos usar tudo isto: humildade e capacidade de risco, tudo junto, abertura e sinergia, as urgências muitas vezes dramáticas que nos interpelam por todas as partes não podem nos deixar tranquilos. Na mudança de época que estamos vivendo (não é uma mudança de época, não, é uma época de mudança)” é preciso “se comprometer não só pelo encontro entre as pessoas, entre as culturas e os povos e por uma aliança entre as civilizações, mas para vencer todos juntos o desafio histórico de construir uma cultura compartilhada do encontro e uma civilização global da aliança”.
E Francisco aconselhou a ler os Atos dos Apóstolos, porque “é o exemplo maior”, para ver como foram capazes de permanecer fiéis ao ensinamento de Jesus e fazer tantas loucuras, porque sabiam conjugar esta fidelidade criativa. Leiam este texto da Escritura porque aí encontrarão o caminho desta fidelidade criativa”.
“E não se esqueçam – concluiu antes de rezar uma Ave Maria com os presentes – que Maria era leiga, era uma leiga! A primeira discípula de Jesus, sua Mãe, era leiga; aí, há uma grande inspiração e um bom exercício que podemos fazer. Desafio vocês para o realizaram: tomar os mais conflitivos passos da vida de Jesus e ver como Maria reage”, perguntar-se “como Maria teria reagido”.
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“O humor aproxima de Deus”, afirma Francisco no encontro com a família focolarina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU