31 Agosto 2017
Paz e reconciliação. Sim, mas algo a mais. Na Colômbia, o Papa não falará somente de perdão e unidade, também levantará a voz pelo futuro da “casa comum”. Fará isto em Villavicencio, no coração do país. Clamará pelo destino da Amazônia, não em chave ambientalista, mas como uma genuína preocupação pelo futuro da humanidade. Nesses mesmos dias, um grupo de especialistas do mundo debaterá, em Bogotá, como aplicar o pensamento do Pontífice sobre o cuidado com o meio ambiente.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 30-08-2017. A tradução é do Cepat.
Jorge Mario Bergoglio percorrerá a capital colombiana e as cidades de Medellín, Villavicencio e Cartagena, de 6 a 11 de setembro. Uma visita esperadíssima, que sacudirá o país. Aproveitando a ocasião, a Universidade Javeriana acolherá o congresso intitulado Do direito humano à água ao direito à paz. Uma iniciativa convocada pela Cátedra de Diálogo e Cultura do Encontro, de seu velho amigo Luis Liberman, e apoiada pela Fundação Gaia Amazonas, de Martín von Hildebrand, um dos maiores especialistas no mundo sobre essa região.
“Quando falei com o Papa sobre o projeto, perguntou-me, brincando: Não chegou a pensar em um país mais tranquilo para ir? E lhe retruquei: Não chegou a pensar em um país mais tranquilo para promover a paz?”, contou Liberman, rindo, em entrevista ao Vatican Insider. “Ele agradece por tudo o que estamos fazendo na Colômbia, valoriza, pediu-nos que tenhamos cuidado, que ficaria encantado em nos encontrar como grupo, mas não sabe se poderá, mas que o apoia completamente”.
Este seminário, previsto para os dias 7 e 8 de setembro, nasceu no Vaticano, em fevereiro passado. Em um intervalo de outro encontro intitulado Direito humano à água, que reuniu mais de 90 especialistas do mundo e terminou com um discurso do Papa na sala central da Pontifícia Academia das Ciências, Liberman e von Hildebrand (neto de um destacado filósofo católico alemão) concordaram com a necessidade de dar continuidade às palavras de Francisco.
Em sua mensagem, Francisco havia advertido que a próxima grande guerra mundial se daria pela água. “O Papa se interessa pela água porque é o começo da vida, é a condição para qualquer existência. É algo muito óbvio, não se deve buscar respostas rebuscadas. Por isso, ele está convencido que a próxima grande guerra pode ser pela água”, explicou Liberman.
Que relação guarda a água e o fim do conflito colombiano? Para ele, também antropólogo, o vínculo é mais importante do que parece. Um problema geopolítico, como o processo de paz, exige uma mudança social de fundo, “outro tipo de cidadania”. É necessário “repensar o desenvolvimento” para acabar com a cultura da violência e transitar para uma cultura do encontro.
“Do território colombiano, 30% não são dirigidos pelo Estado colombiano. A retirada das FARC provocará vazios de poder. Isto surge do que nos contam os próprios colombianos que tem uma alta percepção do potencial exímio de seu país e que é real. Assume-se com naturalidade essa situação de um território com normas e outro sem normas, enquanto o que se requer construir é um espaço com direitos para todos”, explicou.
“Na Amazônia convivem guerrilheiros, desmobilizados, camponeses, povos originários. Há uma quantidade de coisas que foram normalizadas, mas devemos converter novamente em questões estranhas para propiciar uma cultura do encontro. Não é possível que no cotidiano consideremos como normal a morte violenta do outro, não é normal. Os conflitos não são espontâneos, surgem por interesses que correspondem a determinados grupos sociais”, disse.
Nesta mudança de perspectiva, a água é fundamental. É um bem, um recurso, pode dar vida, mas também pode matar. Dela dependem vítimas e vitimários igualmente. Daí a inspiração para o encontro sobre a água, que contará com presenças destacadas como a do cardeal Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero do Vaticano. Ele participará na qualidade de presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).
Também estarão presentes o coordenador do Território e Meio Ambiente da Organização de Povos Indígenas da Amazônia Colombiana (OPIAC), Mateo Estrada, o ministro do Meio Ambiente da Colômbia, Luis Gilberto Murillo Urrutia, o ex-chanceler argentino Rafael Bielsa, e o chefe da Alta Assistência para o Pós-conflito, Direitos Humanos e Segurança da Colômbia, Rafael Pardo Rueda.
A reunião conta também com os avais da Pontifícia Academia das Ciências e de Alisos (Alianças para a Sustentabilidade). Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da academia, dissertará sobre Uma ecologia integral para a cultura do encontro.
“Não organizamos o encontro para que o Papa esteja presente, porque não corresponde. Ele vai a Colômbia para levar bálsamo humano, mas quando terminar sua visita os conflitos do país continuarão ali. Por isso, perguntamo-nos: e se ajudarmos para que sua mensagem permaneça?”, apontou Liberman.
E destacou: “Há um interesse especial do Papa a respeito do papel da Igreja na Amazônia. Ele fará uma forte declaração sobre essa região, em Villavicencio. Em sua encíclica Laudato Si’, ele apresenta uma nova geopolítica, na qual o direito à existência tem um componente fundamental na água. Neste contexto, é chave a Bacia do Amazonas, que ocupa sete países, mas que atinge todo um continente e é um pulmão para o mundo. A Amazônia é o futuro, é o confim das periferias, mas o início das oportunidades para um futuro na Terra”.
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Da Colômbia, o clamor do Papa pela Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU