07 Julho 2017
A obra de Christophe Bonneuil e Jean-Baptiste Fressoz, The Shock of the Anthropocene (O Choque do Antropoceno, sem versão em português) é um ótimo livro, o qual eu gostaria que nunca tivesse sido necessário escrever.
O comentário é de Donna Schaper, pastora da Judson Memorial Church, Nova York, publicado por National Catholic Reporter, 06-07-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Eu me sinto assim sobre muitos livros que têm a palavra "choque" no título. Eu não gosto de choques. Gosto de acordar de manhã, planejar meu dia e realizar alguns dos meus planos até o final da noite. Sei que às vezes vêm surpresas e até mesmo choques. Mas, na maioria das vezes, prefiro o previsível ao imprevisto. Isso é antropocênico de mim.
Pode me chamar de metódica, muito ligada aos meus hábitos, ou até mesmo ritualizada, disciplinada, coerente. Meu gene de planejamento tem uma flexibilidade já bem usada. Consigo mudar de direção, principalmente se e conforme eu planejar mudar de direção. Novamente, é antropocênico. Se eu sei que um certo paroquiano tende a se atrasar ou não aparecer, já penso em ideias para cobrir o tempo. Eu até planejo meus cancelamentos. Tudo isso é pra dizer que o livro dos franceses The Shock of the Anthropocene me assusta.
Meu amigo Michael Ferber, professor de inglês na Universidade de New Hampshire, explica assim:
A palavra "antropoceno" ganhou muita força ultimamente, mesmo nos departamentos de literatura, onde eu convivo, por boas e más razões. É uma grande ideia, provavelmente válida em si mesma, e muito assustadora; exige atenção absoluta. Mas também é um novo brinquedo nos estudos culturais entre os que se sentem "au courrant", e foi pressionado a se encaixar em algumas "grandes narrativas", que servem para fins ideológicos ou nos enganam em algum grau. Ou nos distraem do que devemos fazer.
A Associação de Imprensa Católica (The Catholic Press Association) premiou o relatório do NCR sobre abuso infantil e recuperação como o Melhor Texto de Notícia Investigativa. Baixe este recurso de quatro partes aqui.
O termo, explica Ferber, foi introduzido em meados de 2000 em conferências e "refere-se não apenas a outro período histórico, mas a uma ruptura geológica ou estratigráfica..."
Estou realmente vivendo dias normais em uma época tão anormal? Que tipo de liberdade é essa? E não há algo de errado - no verdadeiro sentido de errado - em viver normalmente em meio a uma anormalidade dessas? Não estou, de certa forma, violando a característica principal do ser humano, essa coisa chamada consciência?
A época do antropoceno tem a ver com os enormes impactos que os seres humanos tiveram no resto da Terra - e como eles podem não ser mais reversíveis. Os seres humanos agora definem a época e podem até não ser capazes, por nossa conta em risco, de refinar a Terra. A correção já pode estar acontecendo, enquanto eu percorro meus e-mails no computador, feliz pelo cancelamento de outro humano.
Um dos principais argumentos dos autores é que não foram os humanos que causaram o dano, mas sim alguns humanos em algumas partes do mundo. Eles (nós) ganharam o poder de viver no topo da cadeia alimentar e da cadeia de energia, e aproveitaram isso. Atenção a outra grande palavra, "Oligantropoceno". E outra, "Capitaloceno". Algumas pessoas em um determinado sistema econômico causaram a maior parte do dano ao deter a maior parte do poder para si.
Os autores de The Shock of the Anthropocene são bastante críticos a respeito de pessoas que dizem que simplesmente não sabíamos o que estava acontecendo até agora. Eles argumentam de forma contundente que os cientistas já estão avisando há 200 ou 300 anos. Por exemplo, a referência dos autores William Stanley Jevons, o grande economista do século XIX que entendeu a insustentabilidade do uso do carvão e disse que nós (os britânicos) deveríamos escolher entre "uma breve grandeza e uma mediocridade prolongada". Ele recomendou a breve grandeza.
Os autores criam novas grandes palavras e criticam as antigas grandes palavras. Eles não acreditam no desenvolvimento sustentável porque não acham que seja possível sairmos dessa bagunça. Eles também pensam que a palavra "crise" é usada de forma equivocada, porque implica que ela acabará. Usar a palavra "crise" traz um "otimismo enganoso".
Pergunto-me se a consciência e a flexibilidade humanas podem enfrentar as extensas razões para ser pessimista nesses momentos. Se pudermos, e fizermos, pergunto-me se os poderosos encontrarão um caminho, ainda, para se salvar ou salvar a nós mesmos? Caso contrário, teremos que depender dos impotentes.Isso não seria interessante?
Podemos estar presos com o Antropoceno. E também evoluir e nos tornarmos um tipo diferente de humano, que sabe como pensar sobre a Terra em primeiro lugar e em seus múltiplos habitantes em segundo. E se aprendêssemos a pensar em todos nós em vez de pensar em alguns de nós? Será que teríamos uma época antropocênica diferente? Nada menos do que isso parece estar certo. Todo o resto parece estar errado.
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Sem muito otimismo para a nossa época antropocêntrica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU