Projeto de lei quer afrouxar licenciamento ambiental no Brasil

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

08 Mai 2017

Com as atenções da oposição e do governo concentradas nas reformas do trabalho e da Previdência, a bancada ruralista na Câmara passou por cima das negociações com o Ministério do Meio Ambiente e apresentou um projeto de lei que altera radicalmente as regras do licenciamento ambiental no Brasil.

A reportagem é de Giuliana Miranda, publicada por Folha de S. Paulo, 06-05-2017.

Entre as várias mudanças apresentadas, o texto acaba com a obrigatoriedade de licenciamento ambiental para diversos tipos de empreendimentos, incluindo o asfaltamento de rodovias, dragagem de portos, obras de saneamento e atividades de agropecuária extensiva.

A exigência de licenciamento para projetos com potencial de impacto ambiental começou na década de 1980 no Brasil, mas não é regida por uma lei única. Ao longo do tempo, criou-se uma série de resoluções, pareceres e instruções normativas que passaram a regular a questão.

A criação de uma Lei Geral de Licenciamento é uma demanda antiga de setores econômicos, como o do agronegócio e o industrial, que apontam o emaranhado de regras e prazos como entrave ao desenvolvimento econômico.

Em sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente, iniciada em maio de 2016, o ministro Sarney Filho (PV-MA) se comprometeu a abraçar a ideia de otimizar a legislação para apoiar o desenvolvimento econômico, mas disse que não abriria mão de salvaguardas ambientais.

Começou então um longo processo de discussão com ambientalistas, sociedade civil e a bancada do agronegócio. O projeto original do governo chegou a ser elogiado pelos ambientalistas.

Ao longo do tempo, porém, a pressão ruralista, com apoio da Casa Civil, acabou fazendo com que o MMA começasse a ceder quanto à obrigatoriedade de licenciamento para algumas atividades, como a agropecuária extensiva.

Uma versão final foi fechada em 4 de abril. No dia 10, porém, a bancada ruralista surpreendeu com a apresentação de um projeto substitutivo que acaba com o licenciamento para vários setores.

Desde então, houve novas versões cada vez mais distantes do que foi acordado inicialmente. A última é do dia 27.

O projeto

O projeto de lei 3.729 é de 2004 e tramita com mais 18 projetos apensados, que garantem as mudanças profundas na legislação ambiental.

Relator do projeto, o deputado Mauro Pereira (PMDB-RS) defende a iniciativa e nega que tenha surpreendido o ministro Sarney Filho com sua apresentação. "São mais de 12 anos de tramitação, não dá pra dizer que foi uma surpresa", diz ele, que minimiza os atrito com o ministro.

"O Sarney Filho é meu amigo, gosto muito dele, mas não tem como termos consenso em tudo. É para isso que vamos ter debate e votação."

Segundo Pereira, que faz parte da bancada ruralista, o projeto quer ajudar a dinamizar a economia e dar mais celeridade aos processos.

O parlamentar afirma ainda que, pelo projeto de lei atual, há mais espaço para a atuação para os órgãos ambientais dos Estados.

O texto deve entrar na pauta da CFT (Comissão de Finanças e Tributação da Câmara) já na semana que vem. Se for aprovado, segue para o voto no plenário da casa.

Ibama

O Ministério do Meio Ambiente disse que não se pronunciaria a respeito e que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), ligado à pasta, seria responsável por comentar o assunto.

A presidente do órgão ambiental não poupou críticas ao projeto. "Defendo a necessidade de uma Lei Geral de Licenciamento, mas não da maneira como apresentada neste substitutivo", disse Suely Araújo à Folha.

Para a presidente do Ibama, o projeto apresentado tem uma quantidade excessiva de empreendimentos com dispensa de licenciamento.

"Há fortes retrocessos ambientais no texto, que tenderão a gerar judicialização de processos de licenciamento e da própria lei aprovada com esse conteúdo", comenta.

Para ambientalistas, o projeto de lei deslocaria muito do poder decisório para órgãos estaduais, o que, a longo prazo, poderia poderia provocar um efeito parecido com o da guerra fiscal entre os Estados. Mas, em vez de disputarem quem dá mais descontos nos impostos, a barganha seria por quem tem menos exigências ambientais a cumprir.

"Esse projeto é uma aberração e um retrocesso. Fica perceptível a existência de um lobby de vários setores por trás", avalia Mauricio Guetta, advogado do ISA (Instituto Socioambiental).

Tanto o ISA quanto o Ibama têm uma longa lista de críticas ao projeto por conta de seu potencial impacto no ambiente. Existe, porém, ainda um risco potencial quanto ao patrimônio cultural e histórico.

Embora se chame licenciamento ambiental, ele também engloba o patrimônio histórico do Brasil. Incluindo aí pesquisas arqueológicas.

O projeto de lei apresentado pelos ruralistas acaba com o praticamente acaba com o licenciamento arqueológico.

As atividades de pesquisa em arqueologia ligadas ao licenciamento ambiental são hoje a principal frente de trabalhos da disciplina no país.

Segundo a SAB (Sociedade de Arqueologia Brasileira), o projeto de lei proposto "acaba com o licenciamento arqueológico preventivo", e é uma "iminente destruição do patrimônio arqueológico brasileiro".

Leia mais