03 Março 2017
"Absorver uma concentração de tarefas não é a única pressão que os brasileiros sofrem com tantas demissões no mercado. Com a desocupação acima de 12%, segundo o IBGE, o medo de ser dispensado é outra preocupação constante. É o que mostra o Índice de Medo do Desemprego da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O medo do desemprego ficou em 64,8 pontos em dezembro – o indicador vai de zero a cem pontos e, quanto mais alto, maior é o temor dos empregados. O resultado do mês passado foi o maior desde 1996", escreve Adrimauro Gemaque, Analista do IBGE e Articulista, em artigo publicado por EcoDebate, 02-03-2017.
Eis o artigo.
É evidente o declínio do mercado de trabalho no Brasil e é tido como sendo o mais profundo, apontado por todos os indicadores que foram divulgados. Segundo estudo comparativo do banco Credit Suisse, um banco global sediado em Zurique, divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo (23 jan 2017), o Brasil está entre os recordistas globais do chamado desemprego ampliado. A taxa é de é 21,2%, quase o dobro da taxa oficial conforme aponta o estudo. O levantamento indicou que o Brasil tem a sexta maior taxa de desemprego ampliado entre os 31 países desenvolvidos e emergentes avaliados.
O estudo do banco Credit Suisse fez uma comparação internacional e chegou a conclusão que a nosso desemprego ampliado está bem acima da média dos países analisados, que é de 16,1%. Estamos acima de países com renda comparável a do Brasil, como México (18,3%) e Turquia (15,9%). O Brasil está atrás apenas de países profundamente afetados pela crise internacional: Grécia (o recordista, com 31,2% de desemprego ampliado), Espanha (29,75%), Itália (24,6%), Croácia (24,6%) e Chipre (23,8%).
Esta é a primeira análise do gênero e somente foi possível a inclusão do Brasil neste levantamento em função da metodologia utilizada pelo IBGE na realização da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNADC. Foi com base nestas novas medidas que o banco organizou o levantamento. “Os novos indicadores oficiais permitem uma visão mais abrangente sobre a realidade do mercado de trabalho brasileiro e uma comparação internacional”, diz Leonardo Fonseca, economista do Credit Suisse que coordenou o estudo.
Conforme previsto em seu planejamento, e de acordo com a recomendação da Organização Internacional do Trabalho – OIT, o IBGE começou a divulgar trimestralmente um novo conjunto de indicadores, entre eles a subutilização da força de trabalho, equivalente ao desemprego ampliado utilizado pelo estudo do banco Credit Suisse.
O conceito de subutilização da força de trabalho foi construído para complementar o monitoramento do mercado de trabalho. No início da pesquisa PNADC, apenas a taxa de desocupação, um dos componentes desta medida, vinha sendo divulgada. Portanto, este conceito tem como objetivo fornecer a melhor estimativa possível da demanda por trabalho em ocupação e é formado por pessoas de 14 anos ou mais de idade que estão subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, os desocupados e aqueles que compõem a força de trabalho potencial.
Para entender melhor este indicador, é preciso esclarecer cada componente. O primeiro componente refere-se à pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas: são aquelas que trabalhavam habitualmente menos de 40 horas no seu único trabalho ou no conjunto de todos os seus trabalhos, gostariam de trabalhar mais horas e estavam disponíveis para trabalhar mais horas. O segundo componente refere-se à pessoas desocupadas: são aquelas sem trabalho e que tomaram alguma providência efetiva para consegui-lo ou que não tomaram providência efetiva para conseguir trabalho porque já haviam conseguido trabalho com início previsto para até 3 meses. O terceiro componente diz respeito à força de trabalho potencial: definida como o conjunto de pessoas de 14 anos ou mais de idade que não estavam ocupadas nem desocupadas na semana de referência, mas que possuíam um potencial de se transformarem em força de trabalho ou por ter realizado busca efetiva por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar na semana de referência ou por não ter realizado busca efetiva por trabalho, mas gostariam de ter um trabalho e estavam disponíveis para trabalhar.
Este esquema a seguir ilustra como está classificada a população de 14 anos ou mais de idade levando em consideração a condição de atividade
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (IBGE) – 3º trimestre 2016
A partir deste ano, o IBGE, através da divulgação da PNADC, passou a disponibilizar as primeiras informações regionais referentes às medidas de subutilização da força de trabalho que vão além da taxa de desocupação. Estas medidas passam a ser incorporadas e divulgadas trimestralmente.
O gráfico a seguir mostra a série completa das quatro taxas de subutilização da força de trabalho no Brasil. Para as quatro medidas observadas no País, verifica-se que no terceiro trimestre de 2016 foi atingida a maior estimativa da série, iniciada no primeiro trimestre de 2012.
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNADC (IBGE)
De acordo com os dados mais recentes da PNAD Contínua, que se refere ao terceiro trimestre de 2016, a taxa de subutilização da força de trabalho do Brasil bateu em 21,2% – quase o dobro do desemprego oficial, que nesse período alcançou 11,8%. Por esse critério, perto de 23 milhões de brasileiros estariam inseridos neste indicador.
Com base nos dados da PNAD Contínua (IBGE), também se torna possível conhecer os dados por estados. Neste contexto, podemos conhecer a taxa de subutilização da força de trabalho no Amapá (que agrega a taxa de desocupação, taxa de subocupação por insuficiência de horas e da força de trabalho potencial), no 3º trimestre de 2016 , que ficou em 25,7% (97 mil pessoas), acima da média nacional que ficou 21,2%. Veja o gráfico com informações dos estados:
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNADC (IBGE)
A bem da verdade, o drama das 12 milhões de pessoas que hoje estão sem trabalho no Brasil é bem conhecido. Agora temos também a oportunidade de conhecer também o tamanho da taxa de subutilização da força de trabalho, o chamado desemprego ampliado pelo banco Credit Suisse em sua análise global sobre o mercado de trabalho. Com 3 milhões de demitidos nos últimos três meses de 2016, segundo o IBGE, quem continua contratado pode virar um “funcionário-polvo”, acumulando funções de ex-colegas, além de precisar lidar com o medo do desemprego. Apesar de não ser medido em números, esse fenômeno é velho conhecido dos especialistas em mercado de trabalho, e o aumento de pressão sobre os empregados é uma tendência natural em momentos de crise.
Absorver uma concentração de tarefas não é a única pressão que os brasileiros sofrem com tantas demissões no mercado. Com a desocupação acima de 12%, segundo o IBGE, o medo de ser dispensado é outra preocupação constante. É o que mostra o Índice de Medo do Desemprego da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O medo do desemprego ficou em 64,8 pontos em dezembro – o indicador vai de zero a cem pontos e, quanto mais alto, maior é o temor dos empregados. O resultado do mês passado foi o maior desde 1996.
Portanto, em síntese, para os especialistas, conhecer a medição do desemprego ampliado no Brasil trata-se de um avanço considerado no refinamento das estatísticas e no aperfeiçoamento da análise do mercado de trabalho no Brasil e, consequentemente, adotar medidas por parte das instituições competentes para amenizar este grave problema social.
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O desemprego e os ‘funcionários-polvo’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU