06 Dezembro 2016
Na controvérsia acerca da encíclica Amoris Laetitia, o Papa Francisco parece ter conquistado um histórico crítico seu, o cardeal Wilfrid Fox Napier. Isso é o que se deduz de uma conversa que o purpurado manteve, na semana passada, com outros dois usuários da rede social Twitter, na qual comparou o Papa com Jesus Cristo.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 04-12-2016. A tradução é do Cepat.
O nome de Napier - arcebispo de Durban, África do Sul, desde 1992 e cardeal desde 2001 - foi um dos que estavam em anexo na carta dos 13 cardeais discordantes da metodologia do Sínodo sobre a Família, em 2015. Ainda que posteriormente Napier tenha se desvinculado desta iniciativa – alegando que o texto final desta carta crítica ao Papa Francisco não correspondia ao que havia subscrito –, sim, a partir daquele momento, manteve-se como firme defensor do que ele considera a doutrina perene da Igreja no que concerne ao matrimônio.
Esta oposição ao Papa Francisco parece ter se ajustado em algo, não obstante, assim como ficou evidenciado, na semana passada, em uma troca de mensagens do cardeal com outros twitteiros. Este diálogo começou no dia 29 de novembro, quando o purpurado sul-africano postou em sua conta uma citação do parágrafo 245 de A alegria do amor: “Que não sejam os filhos que carreguem o peso de (uma) separação, que não sejam usados como reféns contra o outro cônjuge”. Outro usuário lhe tuitou, nesse mesmo dia, uma mensagem que dizia: “Cardeal Napier, há filhos (da Igreja) que estão carregando o peso, nesse preciso momento, de não ter um mestre claro da Fé na pessoa do Santo Padre”. Tuíte ao qual, por sua vez, o arcebispo respondeu: “Estou surpreso. Você deve ser da única geração de católicos que analisa de forma negativa tudo o que o Papa supostamente disse!”.
Esse mesmo interlocutor não se contentou com isso e continuou lhe interrogando: “Eminência, por que não o Papa Francisco não responde as dubia? Está dando a impressão de que suas respostas seriam qualificadas como heresias”. Consulta que ficou sem resposta até o dia 30, quando Napier lhe respondeu com estas eloquentes palavras: “Esqueceu-se que, às vezes, Jesus também optou por não responder certas perguntas com palavras, mas com sua vida?”.
“Eminência, com todo o respeito, como cardeal, não lhe causa preocupação a renúncia do Papa em dizer sim ou não?”. O interlocutor do cardeal também não ficou satisfeito com a recordação do prelado sobre a vida de Jesus e continuou com sua ofensiva. Napier se defendeu dos ataques a sua pessoa e ao Papa com outra mensagem no dia 1º de dezembro: “Talvez mais preocupado com as pessoas que se apoiam no que os meios de comunicação dizem que o Papa disse, sem comprovar o que realmente disse!”.
Neste ponto da conversa, outro usuário da rede social se juntou ao debate, e remeteu Napier e seu interlocutor às orientações dos bispos de Buenos Aires acerca da correta implementação da exortação apostólica. Interpretação a qual, cabe recordar, o Papa deu sinal verde. “De fato, na realidade, isso é o que disse (o Papa)”, afirmou este usuário que acabava de entrar na conversa, “e a razão pela qual não pode responder as dubia”.
Ainda que o cardeal Napier tenha optado por abandonar o assunto naquele ponto, sua atividade no Twitter não deixa dúvidas que o empenho de Francisco em realizar as reformas que a Igreja necessita já está produzindo seus frutos. Ao mesmo tempo, evidencia certa mudança de atitude em um cardeal que era, em um determinado momento, um dos detratores mais influentes do Pontífice.
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“Jesus também optou por não responder certas perguntas com palavras, mas com sua vida”, afirma cardeal de Durban - Instituto Humanitas Unisinos - IHU