14 Junho 2016
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) terminou no fim da tarde ocupação que promoveu desde a madrugada de hoje (13) na fábrica da Suzano Papel e Celulose, localizada no município de Mucuri, extremo sul da Bahia. O ato envolveu 1.400 pessoas e chegou à tarde com 1.500 pessoas. “Como parte da nossa pauta foi cumprida, decidimos levantar acampamento e esperar que a empresa cumpra com a outra parte, e se não cumprir na próxima semana, a gente volta com mais determinação e mais gente”, afirmou Sebastião Lopes, assessor do MST que acompanhou a ocupação.
A reportagem é de Helder Lima, publicada por Rede Brasil Atual – RBA, 13-06-2016.
A pauta da mobilização de hoje foi denunciar o modelo de desenvolvimento do agronegócio “que visa a nada mais do que o desenvolvimento econômico, retirando a riqueza, causando toda a desigualdade e segregação social na região”, afirma Lopes. Com a monocultura do eucalipto, a empresa provoca um prejuízo ambiental considerado de grandes proporções na região, destruindo a Mata Atlântica, provocando a seca de muitas nascentes, afluentes e rios. “E um dos pontos de maior impacto é o rio Mucuri, do qual a empresa utiliza um volume maior do que o permitido da água do rio. Além disso, devolve restos químicos na água do rio, matando a fauna e a flora”, diz.
Do ponto de vista social, a atuação da empresa provocou êxodo que agravou problemas sociais em algumas cidades da região. “Há quatro anos o movimento fez uma jornada nacional de lutas contra essa lógica, e realizamos diversas ocupações na região, montamos acampamentos até que a empresa sentiu a necessidade de dialogar”, explica Lopes. Ele diz que foi feito um acordo na época, como forma de recompensar as famílias que sofreram com esse modelo de exploração. O acordo previa o assentamento de 750 famílias, “só que ficou na conversa e a empresa até o momento não cumpriu”.
Além do grupo de 1.500 pessoas na fábrica, 200 famílias fizeram ocupação hoje em uma fazenda de monocultura de eucalipto, no município de Caravelas, que também pertence à Suzano. Atualmente, o MST mantém sete acampamentos na região. O movimento denuncia que a forma como a empresa comprou essas terras é ilegal. Muitas das terras são devolutas e pertencem ao Estado. “A empresa se apropriou de muitas terras e expulsou camponeses. Por isso, a empresa não tem a documentação de muitas das áreas que ela ocupa na região e também não paga impostos”, diz o representante do MST.
Para sexta-feira (17), foi marcada reunião com a empresa em Salvador. “Essa reunião é com o presidente nacional do Incra, e é por meio do governo que a empresa tem de resolver essa pendência. Não fazemos acordo, não pactuamos com essas empresas, e os representantes do movimento vão cobrar do Incra”, diz Lopes. Segundo ele, a empresa tem de devolver as terras que não são dela, e também arcar com tributos. “Nós não podemos permitir um modelo de desenvolvimento que retire as riquezas da nossa região e não desenvolva a cultura, o meio ambiente; É isso o que a gente reivindica”.
A Suzano faz parte de um grupo de transnacionais, que quando chegaram na região implementaram a monocultura do eucalipto, suprimindo a diversidade de produção existente no território. Hoje, os produtos básicos estão vindo de fora e os preços subiram vertiginosamente.
As poucas áreas cultivadas pelas famílias camponesas têm suas produções afetadas por causa da utilização indiscriminada de agrotóxicos, que estão contaminando os solos, as águas e o ar. Além disso, a monocultura do eucalipto está provocando o êxodo rural de milhares de famílias camponesas e povos originários. De acordo com a direção nacional do MST, a atual proposta de ampliação da fábrica busca triplicar sua produção e utilizar eucalipto transgênico, que aumentará de maneira significativa os problemas socioambientais, que já vem causando há décadas na região.
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Sem-terra ocupam fábrica da Suzano e exigem assentamento de 750 famílias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU