Por: André | 16 Fevereiro 2016
As pesquisas indicam um empate entre o Não e o Sim no referendo de 21 de fevereiro, mas González está convencido de que uma maioria de bolivianos votará a favor de um novo mandato de Evo Morales.
A reportagem é de Mercedes López San Miguel e publicada por Página/12, 14-02-2016. A tradução é de André Langer.
Ele se define como “evista”. José Alberto “Gringo” González, presidente do Senado, disse que quando Evo Morales deixar o Palácio Quemado ele se retirará aos quartéis de inverno. Poderia voltar a trabalhar como colunista político na televisão. O ex-secretário pessoal do presidente da Bolívia faz campanha pelo Sim, para que Morales vença o referendo de 21 de fevereiro e se ampliem de uma para duas as reeleições contínuas. Com esta finalidade, em setembro passado a Assembleia Legislativa Plurinacional votou o projeto de lei de reforma parcial da Constituição.
As pesquisas indicam um empate entre o Não e o Sim no referendo de 21 de fevereiro, mas González está convencido de que uma maioria de bolivianos se inclinará pela continuidade deste processo. “Está em jogo o modelo de país”, defende o senador do Movimento ao Socialismo (MAS), que esteve em Buenos Aires para reuniões com deputados da Frente para a Vitória e realizando atividades com a comunidade boliviana nesse país, que pode votar se estiver habilitada.
Evo Morales completou 10 anos de governo em janeiro, com altos índices de popularidade. Seu ex-secretário privado acredita que Evo é o único que vai garantir a manutenção das políticas que permitiram que a Bolívia crescesse com redistribuição. “Esta proposta de reforma da Constituição surgiu das organizações sociais aglutinadas em torno da Central Obrera Boliviana e do Conselho Nacional para a Mudança; não é o capricho de duas pessoas que querem se eternizar no poder (Evo Morales e seu vice, Álvaro García Linera). Esse é o clichê da oposição. As organizações sociais foram abandonadas ao longo da história boliviana e que a partir da chegada de Evo assumiram um papel protagônico”.
Um processo que, na sua opinião, depende da figura de Morales, mas que justamente os detratores criticam por ser personalista. “Acreditamos que foi o homem que teve a coragem de tomar medidas que nenhum outro tomou. Por exemplo, a nacionalização dos hidrocarbonetos. Evo distribuiu a riqueza, rechaçou as recomendações ou receitas do FMI e do Banco Mundial e propôs um modelo econômico próprio, dos bolivianos, que aponta para a recuperação do papel central do Estado na Economia. Há 10 anos, quando Evo assumiu, eram outros os indicadores sociais, e hoje estamos em outro país: a renda per capita passou de 900 dólares, em 2005, para 3.000 dólares, em 2015”.
Em um contexto de mudanças na região González afirma que o que está acontecendo na Argentina é uma lição para o seu país. “No caso de um Não, pode-se ir por um caminho de incertezas, como acontece hoje na Argentina. Para nós é uma lição o que está acontecendo [na Argentina]. Gostaria de pensar que se trata de um desvio temporário e que seguramente a partir de medidas que serão implementadas na Argentina fique claro que o modelo dos Kirchner dá melhores respostas que as do neoliberalismo, que a ausência do Estado no controle da economia. Meu desejo é que seja um desvio temporário na região; não são boas notícias para os movimentos populares. Veremos o que dizem os povos”.
González nota a interessada presença de Washington na campanha da oposição. “O instrutivo dos Estados Unidos era que a campanha do Não fosse dos cidadãos, sem mostrar lideranças. Recorreram inclusive a um cachorro que se chamava Petardo e o levaram a uma marcha em Potosí. Mas por trás da suposta movimentação cidadã há protagonistas centrais, como os prófugos (nos Estados Unidos) Sánchez de Lozada e Sánchez Berzaín. Se este processo for truncado, eles acreditam que poderão retornar à Bolívia. Eles deixaram um saldo de 70 mortos em outubro de 2003, um país na bancarrota, em um estado de pré-guerra civil. Também fazem campanha dirigentes da oposição, como Tuto Quiroga, Doria Medina, Rubén Costas e Reyes Villa; são os que fizeram soar os tambores do separatismo”.
O MAS, no governo, aposta no convencimento dos indecisos, já que são uma porcentagem ainda grande e que podem inclinar a balança pelo Sim ou pelo Não. A consultoria Equipos Mori projetou um empate em cerca de 40% e 18% de indecisos.
O presidente do Senado da Bolívia relativiza as pesquisas. “As pesquisas refletem sobretudo a opinião das cidades e não o que acontece na área rural, onde está o voto duro de Evo. Poderia haver um certo grau de distorção. Quando davam 40% para o presidente, depois, na eleição, conseguia 60%. As pesquisas nunca favoreceram o presidente”.
Sem dúvida, a grande pesquisa para o governo será no próximo domingo.
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Referendo na Bolívia. “Está em jogo o modelo de país” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU