Por: Cesar Sanson | 10 Fevereiro 2016
Partido Democrata dá sinais de uma guinada à esquerda com surpreendente vitória de senador.
A reportagem é de Amanda Mars e publicada por El País, 10-02-2016.
Bernie Sanders ganhou de Hillary Clinton, nesta terça-feira, as primárias de New Hampshire. E quando subiu ao palco em um colégio de Concord, a pequena capital do Estado, para comemorar a vitória, o público presente começou a bater os pés no chão como se quisesse provocar um terremoto. O sanderismo ainda não atingiu a categoria de um sismo, pois a ex-secretária de Estado, apesar do tropeço, continua favorita na corrida pela Casa Branca, mas já está claro que não será exatamente um passeio.
O motivo disso é um veterano esquerdista de 74 anos que capitalizou o descontentamento social e tem crescido entre os jovens, com quem Hillary Clinton empatou em Iowa e de quem perdeu agora. Não há nenhum terremoto, mas as placas tectônicas se movimentam.
Depois da desistência do terceiro concorrente que ainda havia na semana passada, no caucus de Iowa (o ex-governador Martin O’Malley), a corrida democrata agora se limita a dois adversários, e o senador pelo Vermont ganhou a batalha com 60% dos votos e vinte pontos de diferença. Ainda com 73% dos votos apurados, Bernie Sanders já havia obtido 13 delegados ante os 7 de Clinton.
A vitória representa uma injeção de adrenalina na revolução sanderista, para a esquerda pura, a trajetória política do movimento Occupy Wall Street, que em 2011 eclodiu nos EUA. Alimenta ideias que até agora vinham sendo ventiladas apenas nas margens da política norte-americana. Mas na noite de terça-feira, em New Hampshire, um Estado com 1,3 milhão de habitantes e elevado nível de eleitores independentes, elas se transformaram em sua corrente central.
Sanders se ergueu ocupando um espaço político que ninguém vinha ocupando no Partido Democrata e tem consciência de que angariou votos de eleitores que em outras primárias, em outras eleições presidenciais, ficavam em casa, renegando a política. Por isso, com os resultados em mãos, o senador transmitiu uma mensagem muito clara: “Quando a participação é grande, os democratas ganham; quando é baixa, ganham os republicanos”.
Trata-se de um comentário que vai na mesma direção de um que foi feito por Niklas Moran, um jovem de trinta anos de Nova York que se diz convencido de que a chave da questão está em Bernie Sanders manter o seu poder de atração entre aqueles que não votavam. “Nós, os norte-americanos, não somos tão conservadores como aparece na política. O que acontece é que muita gente não comparece às urnas”, diz ele.
Derrota de Clinton
Clinton não tardou a admitir a derrota para seu adversário: “Sei que tenho muito trabalho pela frente, especialmente com os jovens”, disse ela, destacando uma mensagem bastante progressista: “Nenhum banco é grande o bastante para nunca cair”. “Ninguém é poderoso o bastante para evitar a prisão”. “Aumento de salários”. E concluiu com um refrão: “Eu sei como fazer isso”. Dessa forma, procurou valorizar a sua experiência em relação à de Sanders, sua trajetória em que ela mesma destaca seu compromisso com os direitos das mulheres, das crianças e dos homossexuais.
Sanders lota os comícios, ataca Wall Street e os ricos, promete saúde e ensino público gratuitos para todos e vê a revolução contra a elite, não como um ideal, mas como uma necessidade urgente. Nascido no distrito do Brooklin, em Nova York, em 1941, possui um perfil comparável ao de Jeremy Corbyn no Partido Trabalhista britânico. Ele cresceu apoiando-se na exaustão da população, na crise da classe trabalhadora dos Estados Unidos e de um voto jovem, para o qual falar em socialismo já não significa alta traição. Clama por uma revolução e promete ser o açoite de um establishment que muitos progressistas identificam com Clinton.
Na corrida de fundo para se tornar o candidato democrata para as eleições presidenciais de novembro, a ex-secretária de Estado continua favorita. Mas o nervosismo tem aumentado: em 40 anos, ninguém, com exceção de Bill Clinton, conquistou a indicação do partido sem ganhar em pelo menos uma das duas primeiras disputas das primárias, as de Iowa (em que Clinton e Bernie Sanders empataram) e as de New Hampshire.
Foto: Rick Wilking/Reuters
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Bernie Sanders, o candidato de esquerda que injeta adrenalina nas eleições dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU