Por: MpvM | 13 Novembro 2020
"Assim é que Deus age na vida de seus filhos. Ele concede a cada um os dons segundo suas capacidade, conforme a parábola diz. Assim, não cabem comparações: os talentos que recebo sempre são grandes dádivas para mim, frente ao que posso fazer com as capacidades que tenho, resta saber se serei impulsionado pela gratidão que os faz frutificar ou se serei paralisado pelo medo de perder o que tenho, na ilusão de que o senhor me castigaria.".
A reflexão é de Mariana Aparecida Venâncio, leiga. Ela possui graduação em teologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora - ES/JF (2016), especialização em sagrada escritura pelo Centro Universitário Claretiano (2018), mestrado em Letras (literatura Brasileira) pelo CES/JF. Atua como docente da Graduação em Teologia no CES/JF.
1ª Leitura - Pr 31,10-13.19-20.30-31
Salmo - Sl 127,1-2.3.4-5 (R. 1a)
2ª Leitura - 1Ts 5,1-6
Evangelho - Mt 25,14-30
Partilho hoje com cada irmã, cada irmão, a reflexão a respeito da liturgia deste 33º domingo do tempo comum, dia 15 de Novembro de 2020. Quero recuperar alguns pontos importantes do trecho do Evangelho de Mateus que escutamos.
Chegando já ao fim do ano litúrgico, a Liturgia dedica-se a pensar também o fim do nosso caminho por este mundo e, então, nesses últimos domingos, temos nos aproximado das falas mais apocalípticas de Jesus e do NT, como é o caso da leitura da Primeira Carta aos Tessalonicenses. Algumas delas até mesmo nos estranham, mas apontam diretamente para a realidade do Reino de Deus, que encontraremos ao fim desta nossa vida – que será também o início da eternidade.
A parábola dos talentos (Mt 25,14-30) nos é bem conhecida. Alguns trabalhadores recebem partes dos bens de seu senhor, mas nem todos eles têm as mesmas escolhas e atitudes. Os que recebem mais – 5 ou 2 talentos – logo tratam de fazer crescer o que está sob seu cuidado, enquanto aquele que recebe apenas 1 o enterra bem escondido a fim de não perder o pouco que tem. Antes de julgar sua atitude, quero propor que possamos pensar nas razões que levaram a isso.
Os empregados que recebem um grande número de talentos recebem consigo também um certo incentivo, sentem-se agraciados por tamanha confiança de seu senhor. Talvez essa alegria tenha os impulsionado a atitudes criativas, de fazer crescer aquele tesouro, tornando-o ainda mais admirável. Os 5 ou 2 talentos trouxeram motivação, gratidão e também certo senso de responsabilidade por terem ganho a graça de seu senhor.
Mas e o empregado que recebeu menos? Será que ele de fato recebe menos, ou subestima o tesouro recebido? Ele o considera pequeno, então tem medo de perdê-lo e ficar sem nada. Logo é tomado pelo medo. Ele não se permite admirar o tesouro recebido e não produz a gratidão que gera a responsabilidade e a motivação por fazê-lo crescer. Assim, o servo paralisado pelo medo não tem criatividade para fazer frutificar os dons ganhos do senhor.
Assim é que Deus age na vida de seus filhos. Ele concede a cada um os dons segundo suas capacidade, conforme a parábola diz. Assim, não cabem comparações: os talentos que recebo sempre são grandes dádivas para mim, frente ao que posso fazer com as capacidades que tenho, resta saber se serei impulsionado pela gratidão que os faz frutificar ou se serei paralisado pelo medo de perder o que tenho, na ilusão de que o senhor me castigaria.
O castigo do Senhor vem com uma vida sem criatividade, em que não fazemos nosso maior tesouro – a própria vida – frutificar, expandir-se, alcançar os demais à nossa volta. Aliás, não é um castigo por ele imposto, mas um castigo que nós mesmos construímos, passando pela vida sem propósito.
A partir desse Evangelho, é importante que cada um de nós possa pensar em quais talentos temos escondido sob os nossos medos? Quais temos feito crescer na ousadia de nossas criatividades? Decerto, o que de mais peculiar temos, é o dom mais singular que recebemos do Senhor e que deve brilhar para o mundo à nossa volta. Será que nosso propósito de vida tem sido fazer os talentos que ganhamos produzirem frutos e se multiplicarem à nossa volta?
Nesse domingo também acontecem as eleições municipais nas cidades brasileiras. É oportuno que nossas comunidades tomem consciência de seu papel primordial em favor do bem de todas as pessoas, e esse papel é exercido nesse domingo por meio do voto. Assim como pequenos talentos recebidos, nossos votos fazem a diferença, porque também representam nosso propósito de vida. Assim, nosso voto nesse domingo é nossa voz, que proclama aquilo que desejamos para nossas cidades e para nossa nação. Que possamos votar e eleger pessoas que estejam comprometidas, de fato, com ações mais inclusivas, que respeitem a todos como indivíduos e ofereçam oportunidades e acessos a todos, sem distinção.
Em um mundo tão egoísta, não silenciemos nossas vozes sob o medo, mas dediquemos nossas vidas a fazer frutificar esse dom tão precioso que Deus nos deu: o dom da sensibilidade por aqueles que são diferentes, pelos pobres e marginalizados. É uma alegria para mim, neste domingo, unir minha voz à de tantas mulheres que integram esse projeto e tantas outras, que espalhada pelo nosso mundo, anunciam de forma autêntica o Evangelho. Que seja a nossa voz esse temor do Senhor, não paralisante, mas criativo, que o livro dos Provérbios e também o Salmo de hoje exaltam.
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33º domingo do tempo comum - Ano A - A parábola dos talentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU