20 Dezembro 2011
 No fim do seu discurso que dirigiu aos detentos da prisão de Rebibbia, em Roma, o papa respondeu a seis perguntas dos presos. Perguntas de todos os tipos. Das angustiantes às afetuosas, passando pelas fundamentais.
No fim do seu discurso que dirigiu aos detentos da prisão de Rebibbia, em Roma, o papa respondeu a seis perguntas dos presos. Perguntas de todos os tipos. Das angustiantes às afetuosas, passando pelas fundamentais.
A reportagem é do sítio Religión Digital, 19-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Por que Deus não escuta os pobres? Talvez ouve só os ricos e poderosos que, por outro lado, não têm fé?", perguntou um preso. Outro só quis se sentir querido pelo papa: "Mais do que uma pergunta, eu prefiro lhe pedir que nos permita nos agarrar ao senhor com todo o nosso sofrimento e os dos nossos familiares, como um cabo elétrico que se conecta com nosso Senhor. Eu te amo".
Eis as perguntas e respostas.
Rocco – (…) Pergunto à Sua Santidade se este seu gesto deve ser compreendido na sua simplicidade, também pelos nossos políticos e governantes, para que sejam restituídas a todos os últimos, incluindo nós, detentos, a dignidade e a esperança que devem ser reconhecidas a todos os seres. (…)
Bento XVI – (…) Eu vim especialmente para lhes mostrar esta minha proximidade pessoal e íntima, na comunhão com Cristo que lhes ama. Mas, certamente, esta visita, que quer ser pessoal para vocês, também é um gesto público que lembra aos nossos concidadãos, ao nosso governo, o fato de que há grandes problemas e dificuldades nas prisões italianas. E, certamente, o sentido destas prisões é justamente o de ajudar a justiça, e a justiça envolve, por primeiro, a dignidade humana. (…) No que eu puder, gostaria sempre de dar sinais de como é importante que essas prisões respondam ao seu sentido de renovar a dignidade humana e não de atacar essa dignidade, e de melhorar a sua condição. Esperamos que o governo tenha a capacidade e todas as possibilidades para responder a essa vocação.
Omar – (…) Mais do que uma pergunta, eu prefiro lhe pedir que nos permita nos agarrar ao senhor com todo o nosso sofrimento e os dos nossos familiares, como um cabo elétrico que se conecta com nosso Senhor. Te quero bem.
Bento XVI – Eu também te quero bem. (…) A identificação do Senhor com os encarcerados nos obriga profundamente, e eu mesmo devo me perguntar: agi segundo esse imperativo do Senhor? (…) Eu vim aqui porque eu sei que, em vocês, o Senhor espera, que vocês precisam desse reconhecimento humano e que precisam dessa presença do Senhor, que, no Juízo Final,  nos interrogará justamente sobre esse ponto e, por isso, espero que, cada vez mais, possa ser realizado o verdadeiro objetivo de destas casas penitenciárias: o de ajudar a reencontrar a si mesmos, de ajudar a seguir em frente consigo mesmos, na reconciliação consigo mesmos, com os outros, com Deus, para reintegrar novamente à sociedade e ajudar no progresso da humanidade. (…)
nos interrogará justamente sobre esse ponto e, por isso, espero que, cada vez mais, possa ser realizado o verdadeiro objetivo de destas casas penitenciárias: o de ajudar a reencontrar a si mesmos, de ajudar a seguir em frente consigo mesmos, na reconciliação consigo mesmos, com os outros, com Deus, para reintegrar novamente à sociedade e ajudar no progresso da humanidade. (…)
Alberto – Parece-lhe justo que (…), agora que eu sou um homem novo (...) e pai de uma esplêndida menina chamada Gaia não me concedam a possibilidade de voltar para casa, apesar de ter pago amplamente a minha dívida para com a sociedade?
Bento XVI – Acima de tudo, parabéns! Fico feliz que você seja pai, que você se considere um homem novo (…). Você sabe que, para a doutrina da Igreja, a família é algo fundamental, e é importante que o pai possa ter sua filha em seus braços. E, assim, eu rezo e espero que, o quanto antes, você possa realmente ter em seus braços a sua filha, estar com a sua esposa e sua filha para construir uma bela família e, assim, também, colaborar com o futuro da Itália.
Federico – (…) O que os presos doentes e soropositivos podem pedir ao papa? (…) Fala-se muito pouco de nós, muitas vezes de uma forma tão feroz como se quisessem nos eliminar da sociedade. Isso nos faz nos sentir sub-humanos. (…)
Bento XVI – (…) Devemos suportar que alguns falem de modo "feroz". Falam de modo "feroz" até contra o papa e, mesmo assim, seguimos em frente. Parece-me importante encorajar todos que pensem bem, que tenham sentido dos seus sofrimentos, que tenham o sentido de se ajudar no processo de reerguimento e, digamos, eu farei a minha parte para convidar todos a pensar desse modo justo, não de modo depreciativo, mas de modo humano, pensando que todos podem cair, mas Deus quer que todos cheguem a Ele, e nós devemos cooperar em espírito de fraternidade e de reconhecendo também com a nossa fragilidade, para que possam realmente se levantar e seguir em frente com dignidade e ter sempre respeitada a sua própria dignidade. (…)
Gianni – Santidade, foi-me ensinado que o Senhor vê e lê dentro de nós. Pergunto-me por que a absolvição foi delegada aos padres? Se eu a pedisse de joelhos, sozinho, dentro de uma sala, dirigindo-se ao Senhor, ele me absolveria? (…)
Bento XVI – (…) Direi duas coisas A primeira: naturalmente, se você se coloca de joelhos e com verdadeiro amor de Deus pede para que Deus perdoe, Ele perdoa. (…) Mas há um segundo elemento: o pecado não é somente uma coisa "pessoal", individual, entre mim e Deus. O pecado sempre tem também uma dimensão horizontal. (…) Portanto, essa segunda dimensão do pecado, que não é só contra Deus, mas concerne também à comunidade, exige o Sacramento, e o Sacramento é o grande dom no qual eu posso, na confissão, me libertar dessa coisa e posso realmente receber o perdão também no sentido de uma plena readmissão na comunidade da Igreja viva, do Corpo de Cristo. (…) A absolvição do padre, a absolvição sacramental é necessária para me absolver realmente desse laço do mal e me reintegrar na vontade de Deus,  na ótica de Deus, completamente, na sua Igreja, e me dar a certeza, até quase corporal, sacramental: Deus me perdoa, me recebe na comunidade dos seus filhos. (…)
Nwaihim Ndubuisi – Santo Padre, no mês passado, o senhor esteve em visita pastoral à África, no pequeno país do Benin, uma das nações mais pobres do mundo. (…) Eles põem a esperança e a fé em Deus e morrem entre pobreza e violências. Por que Deus não os escuta? Talvez Deus só ouve os ricos e os poderosos que, ao contrário, não têm fé?
Bento XVI – As medidas de Deus, os critérios de Deus, são diferentes dos nossos. Deus também dá a esses pobres a alegria, o reconhecimento da sua presença, faz sentir que está perto deles também no sofrimento, nas dificuldades e, naturalmente, nos chama a todos para que façamos de tudo para poder sair dessa escuridão das doenças, da pobreza. (…) Devemos rezar a Deus para que nos mostre, nos ajude, para que haja justiça, para que todos possam viver na alegria de ser seus filhos.
* * *
Terminadas as perguntas, um detento leu uma oração que havia composto, intitulada Oração atrás das grades, na qual pedia a Deus para "encurtar as minhas noites insones" e lhe lembrasse que "só o amor dá vida, enquanto o ódio destrói e o rancor transforma em inferno as longas e intermináveis jornadas".
Depois, o papa rezou o Pai Nosso junto com os presos. Ao sair a igreja, abençoou um cipreste plantado no pátio em recordação à sua visita.
 
                         
                         
                         
		 
                        