17 Setembro 2011
A reportagem é de Benedetto Vecchi, publicada no jornal Il Manifesto, 14-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As escolhas individuais e coletivas deduzidas de fórmulas matemáticas ou de séries estatísticas. É um sonho que sempre atravessou a modernidade e que moldou a atividade de muitos matemáticos, cujo valor como pesquisadores era reconhecido pela Academia Científica do seu tempo. Todo esforço se transformava em um insucesso, porque o imponderável sempre irrompia, renegando o que a ciência exata, por excelência a matemática, havia postulado depois de cálculos muito longos e sofisticados.
Mas essa obsessão de construir modelos científicos sobre o comportamento humano foi levada a objetivos mais humildes. Da certeza, passamos para o cálculo das probabilidades em que uma escolha poderia se concretizar em um comportamento "certo", em vez de outro também provável, por serem ambos racionais. Mas todas as vezes, também nesse caso, as probabilidades eram desmentidas pela realidade.
A explicação desses insucessos era imputada aos dados suficientes à disposição deste ou daquele pesquisador. E quando os computadores permitiram memorizar ingentes quantidades de dados a serem elaborados, o anúncio da futura abertura das portas da definição de modelos "certos" sobre o comportamento humano foi dado com absoluta convicção.
Que fique bem claro: não nos encontramos diante da trama de um discutível romance de ficção científica ou nas envolventes e visionárias prefigurações do vindouro próximo futuro feitas por Philip Dick, mas sim na enraizada convicção de que a ciência pode oferecer explicações e soluções para comportamentos apressadamente descartados como irracionais através de uma obra preventiva de escolhas e de decisões irracionais. Uma convicção à qual Albert-László Barabási não era imune, sendo ele um matemático de origem húngara, mas norte-americano por adoção, conhecido por ter escrito um dos melhores livros sobre teorias e arquitetura matemáticas da Rede (Link, Ed. Einaudi).
Nesse livro, Barabási explicava por que um site da Internet se torna mais importante do que outros, por que a Internet era uma estrutura tão rígida a ponto de permitir o caótico andamento da informação e a polifonia de pontos de vista que caracteriza o ciberespaço. E que foi projetada justamente para fazer com que os dados fluam facilmente, mesmo que partes e pontos da rede se despedacem.
Depois desse livro, o matemático húngaro decidiu dar forma ao sonho sobre a previsibilidade do comportamento humano. Tendo se tornado diretor do Center for Network Science da Northeastern University, reuniu ao seu redor psicólogos, matemáticos, físicos, programadores de computador e desenvolveu um projeto para elaborar um modelo matemático sobre os comportamentos humanos. O resultado é um delicioso livro envolvente, tal como pode ser um bom romance histórico, mas também frio como são os manuais de ciência da computação.
Barabási quis intitulá-lo Lampi [Relâmpagos] (Ed. Einaudi, 424 páginas), porque ele está convencido de que os comportamentos humanos são previsíveis na sua absoluta imprevisibilidade. Isto é, podemos ter centelhas do que acontece nas vidas individuais e nas sociedades, mas no fim o porquê um homem ou uma mulher ou um grupo social escolhe fazer uma coisa em vez de outra permanece envolto no mistério.
Hilário é o capítulo dedicado a um artista que coloca online as fotos de todos os lugares que visita, com a data e hora em que foram tiradas. Uma decisão tomada depois que foi parado no controle de passaportes de uma cidade dos EUA, por suspeita, sendo norte-americano de origem paquistanesa, de ser terrorista. O agente federal que o interrogou quis saber por que ele visitou países considerados de risco pelos serviços de inteligência. A vítima reconstruiu lugares, datas, pessoas encontradas para organizar mostras e retrospectivas das suas obras de arte. Mas o Federal Bureau of Investigation não se convenceu com as suas explicações. Detido por uma noite no aeroporto, no entanto, ele foi liberado porque não havia nada que podia incriminá-lo, mesmo que a sua experiência possa ser inserida no clima de paranoia e de suspeita depois do 11 de setembro de 2001.
A partir desse momento, o artista decidiu fornecer um mapa detalhado das suas viagens, das pessoas que encontra, colocando em praça pública aspectos íntimos de sua vida. Renunciou à sua privacidade, mas o fez porque acredita que os seus pensamentos estão intactos. No fundo, quanto mais a sua vida se torna transparente, mais você se torna incompreensível.
O seu comportamento é, portanto, previsível, mas só aquele já experimentado. Sobre o presente e o futuro, não é possível formular nenhuma previsão. Barabási começa, então, a elaborar os dados de um questionário sobre a análise dos telefonemas feitos por um grande grupo de norte-americanos. A descoberta não tem nada revolucionário: concentram-se em algumas horas do dia, nas horas centrais da manhã e, em menor medida, nas horas centrais da tarde. O mesmo vale para consulta e a troca de e-mails. Mas tudo isso não explica nenhum comportamento. No máximo, assinala costumes sociais, mas não diz nada de científico sobre o comportamento humano.
Nesse ponto, Barabási se concentra em um site norte-americano que reconstrói os deslocamentos das notas de dinheiro marcadas pelo gestor do site. Ele elabora um mapa e descobre que o dinheiro permanece na cidade onde inicialmente foi distribuído. Aquelas notas que, ao contrário, são localizadas a centenas ou milhares de quilômetros de distância podem ser contadas nos dedos de uma mão. O que tudo isso demonstra? Que a mobilidade se limita a um raio circunscrito entre a casa e o local de trabalho. Todo desvio do habitual – os relâmpagos do título – ocorre em períodos particulares – as férias. Nesse caso, também não se adquire nada de novo do que podemos deduzir da nossa vida.
O matemático húngaro se volta para a história, especialmente aos eventos de um mercenário dos Cárpatos que se torna chefe, pela sua capacidade de estrategista militar, tanto temerário quanto de sucesso, de uma cruzada contra o Islã, mas que depois volta as suas armas contra o nobres. A questão do porquê o líder fez isso, apesar do acúmulo de informações, continua envolto no mistério. Ou, mais banalmente, pode ser buscado no fato de que os habitantes dos Cárpatos eram os párias da Hungria e viam os nobres como os responsáveis pela sua condição miserável.
Apesar de os exemplos serem muitos, as conclusões são sempre as mesmas: os comportamentos humanos são previsíveis na sua imprevisibilidade. Certamente, podem ser reconstruídos mapas e sequências estatísticas para os costumes sociais, mas nada mais. Daí a tese de que a Internet nada mais faz do que refletir estilos de vida, relações sociais já existentes. Lança luz sobre certos aspectos que a ordem do discurso dominante considera como não relevantes, mas é uma inversão de perspectiva que dura o tempo, exatamente, de um relâmpago seguido de um raio ou de uma explosão.
Com todo o respeito à visão liberal da natureza humana, a aquisição de informações não leva necessariamente a escolhas racionais formalizáveis segundo fórmulas matemáticas, como defendia o Prêmio Nobel de Economia Herbert Simon. Nem que o livre mercado é o sal da terra, como afirmam arrogantemente alguns dos seus discípulos.
Barabási considera que o capitalismo é a melhor forma de organização social, mas convida a abandonar o sonho em uma matemática capaz de explicar com fórmulas uma realidade social e escolhas individuais que certamente podem ser interpretadas e transformadas, sem nunca conseguir prever o que vai acontecer no futuro. Com todo o respeito àqueles que, doentes de positivismo e cientificismo, veem na ciência o "deus ex machina" para resolver os problemas existentes na sociedade.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Comportamentos humanos: previsíveis em sua absoluta imprevisibilidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU