12 Julho 2011
O telefonema de Vito, da Indymedia, chegou pouco antes da meia-noite de domingo. "Corra, porque aqui na escola Diaz estão fazendo um massacre". Ninguém queria acreditar nele. Estávamos jantando em Castelletto, a colina de Gênova onde, segundo uma esplêndida poesia de Caproni, se toma o elevador para o Paraíso. Um ressarcimento depois de quatro dias de inferno, violência, raiva e impotência. O ar doce e fresco da colina, o vinho branco frio para consolar a garganta queimada pelo gás lacrimogêneo. Mas fomos mesmo assim, tomamos o elevador de Castelletto ao inferno da escola Diaz, onde a história é ainda pior do que as palavras de Vito.
A análise é do escritor e jornalista italiano Curzio Maltese, publicada no jornal La Repubblica, 12-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A cena que se apresenta é a materialização dos piores pesadelos da nossa adolescência. Helicópteros que voam baixo, ensurdecedores, com os faróis contra os olhos, sem outro motivo que simular uma guerra. Cordões de policiais que empurram, pressionam, provocam, procuram todas as boas oportunidades para o confronto.
Tentamos entrar na Diaz agitando o crachá de jornalistas, mas diante dos nossos olhos chove um cassetete sobre o deputado Cento, do Partido Verde, que mostrava até o crachá de parlamentar. Eles tinham ordens de não deixar ninguém passar, a nenhum custo, e é uma ordem que lhes agrada muito. Ficamos fora, assistindo incrédulos à cena dos jovens levados em uma maca, cobertos de sangue, ofegantes, para as ambulâncias. Até tarde da noite, quando eles permitem a entrada para ver os restos do massacre naquelas salas de aula para crianças.
Quando se pensa novamente em Gênova 2001, as primeiras coisas que vêm à mente são a incredulidade, a vergonha, a indignação de ver depois de tantos anos um verdadeiro fascismo em ação, sob a marca do Estado democrático. Lembro-me da manhã da sexta-feira passada no terraço do hotel President, o mais alto de Gênova, observando a absurda estratégia da polícia. Os Black Bloc atacam do outro lado da ponte ferroviária, mas as forças da ordem os ignoram e preferem se jogar com ataques e gás lacrimogêneo contra a marcha autorizada da rua Tolemaide. Na investigação, dirão que haviam se equivocado, porque não conheciam a cidade: um álibi de impunes. À tarde, o assassinato de Carlo Giuliani e o delírio da praça Alimonda, a tentativa de atribuir a morte aos seus companheiros: "Foram vocês que o mataram, bastardos, com as suas pedras". Por um momento, até eu acreditei nisso.
À noite, os jovens presos com golpes de cassetete ou carregados nas caminhonetes só porque tinham um ar "de esquerda". Enfim, a vergonha do sábado, com a grande marcha pacífica esmagada pelas repartições da polícia, e eu me encontro novamente nas rochas abaixo de Boccadasse, na companhia do diretor Mario Martone, a me perguntar o que diabos aconteceu, enquanto os botes militares estão prontos para despejar os fuzileiros navais.
Dez anos depois, ainda nos lembramos dessa vergonha de dias que também foram gloriosos, importantes, ricos em ideias. Falar com as milhares de associações que chegaram em Gênova sobre água e globalização, mercados financeiros e agricultura, havia significado a redescoberta de uma política verdadeira, alta, clarividente.
A década após o 2001 se encarregou de dar razão ao movimento nascido entre Seattle e Gênova em todas as frentes. Os últimos G8 adotaram nos documentos finais as ideias pelas quais aqueles jovens da Diaz e das ruas de Gênova eram presos a golpes de cassetetes e levados para o quartel de Bolzaneto. Com um programa centrado na economia verde invocada pelo povo de Seattle no meio do gás lacrimogêneo, Obama obterá o maior mandato da história dos presidentes norte-americanos. Até os últimos referendos vencidos com um plebiscito sobre a água pública e a energia nuclear são filhos daquele movimento e daqueles dias, e é um paradoxo que quem os promoveu foi justamente Antonio Di Pietro, que, na época, assumiu em bloco a defesa da ação criminosa das forças da ordem, sem "se" e sem "mas", e impediu a criação de uma comissão parlamentar sobre os fatos do G8, votando com Berlusconi e a Liga. Nesse meio tempo, os bispos e Giulio Tremonti também se tornaram antiglobalização.
Raramente, na política, assistimos a um confronto em que o engano e a razão são claramente separados em dois campos. Gênova 2001 foi isso, mas se resolveu em uma longa vitória da má política sobre a boa. A criminalização dos manifestantes, na mídia controlada, pavimentou o caminho para a pior década da nossa vida, para o triunfo da política desonesta e de má-fé e do conflito de interesses, para o reinado do berlusconismo sem limites. Só agora, depois dos golpes da crise internacional, a um passo da falência do país, a boa política começa a levantar novamente a cabeça.
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A lição dos manifestantes antiglobalização - Instituto Humanitas Unisinos - IHU