Antiga cidade indígena do México era "igualitária"

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

28 Mai 2011

Se um grupo de arqueólogos do México e dos EUA estiver certo, a metrópole indígena de Tlaxcallan tinha uma organização política mais típica da Grécia Antiga ou da Itália medieval do que das Américas antes de Colombo.

A reportagem é de Reinaldo José Lopes e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 29-05-2011.

Em meio a um mar de impérios com pirâmides, templos faraônicos e governantes de status quase divino, quase 50 mil habitantes de Tlaxcallan (hoje Tlaxcala, a pouco mais de 100 km da Cidade do México) podem ter vivido numa "república". As pistas para traçar esse cenário vêm das tradições dos indígenas do local, registradas nos primeiros anos após a conquista espanhola. E, principalmente, de escavações feitas pela equipe.

A análise da estrutura urbana de Tlaxcallan mostra uma planta urbana vasta e, ao mesmo tempo, aparentemente igualitária, sem sinal de estruturas palacianas ou pirâmides.

Isso não quer dizer que Tlaxcallan não tivesse dinheiro para gastar com luxo, afirma Lane Fargher, autor de um estudo na revista científica "Antiquity" sobre a cidade.

"Tlaxcallan era extremamente rica em recursos agrícolas. Os tlaxcaltecas também produziam grandes quantidades de corante vermelho, valorizado na América Central", diz Fargher, que é ligado ao Departamento de Ecologia Humana do Centro de Pesquisas e Estudos Avançados do México e à Universidade Purdue (EUA).

Mesmo assim, a análise detalhada dos restos da cidade-Estado, que floresceu entre os anos de 1250 e 1519, indica uma sucessão de terraços residenciais relativamente simples (necessários por causa do relevo montanhoso, com altitude de cerca de 2.500 m).

"PLAZAS"

Vários grupos de terraços eram servidos por "plazas", áreas mais ou menos como as praças atuais, mas com um caráter mais solene: deviam ser centros cerimoniais.

A única grande estrutura fica a cerca de 1 km da cidade. Apesar de apresentar um complexo de salas, Tizatlan não tem nada de palaciano: sua principal característica é uma grande "plaza" com espaço para uma multidão.

Os cientistas interpretam esse quebra-cabeças a partir de dados registrados por historiadores e pelo próprio Hernán Cortés, líder dos invasores espanhóis no século XVI.

Sabe-se que os tlaxcaltecas falavam náuatle, mesma língua dos astecas, mas lutaram durante séculos ""com sucesso"" para não serem absorvidos pelo Império Asteca.

Além disso, dados sobre monarcas tlaxcaltecas parecem ser espúrios ou duvidosos, e as crônicas mais antigas falam em negociações envolvendo grupos de dezenas de magistrados da cidade.

Por isso, diz Fargher, "propomos que os tlaxcaltecas idealizaram sua república como resposta específica às ameaças imperiais".

A estratégia republicana talvez tenha dado um tino político diferenciado. Os tlaxcaltecas se aliaram aos espanhóis contra os astecas e ganharam status mais autônomo. Uma situação melhor do que a maioria dos indígenas mexicanos na era colonial.