Índios têm ala para cura médica e espiritual

Mais Lidos

  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

12 Mai 2011

Em São Miguel das Missões, RS, a união da medicina ocidental com as tradições indígenas se converterá em benefício a pacientes de uma comunidade especial. Por decisão do Ministério Público Federal (MPF), os 110 integrantes da aldeia Alvorecer ganharam o direito de receber atendimento médico e tratamento do líder espiritual nas dependências de um hospital.

A reportagem é de Wagner Machado e publicada pelo jornal Zero Hora, 13-05-2011.

Em fevereiro, o procurador da República em Santo Ângelo, Felipe Müller, recebeu a reivindicação para que os índios possam ser atendidos por médicos e também pelo pajé da tribo mbyá-guarani. Dois meses depois, foi celebrado acordo entre a Associação Hospitalar São Miguel Arcanjo e o cacique Ariel Ortega. Agora, uma estrutura física está à disposição da comunidade “Tekoa Koenjú” para que o profissional da saúde e o representante da comunidade trabalhem em harmonia.

O MPF entendeu que, segundo a crença indígena, a medicina do homem branco é insuficiente para livrar os espíritos. Mas no hospital, um ambiente onde o fumo é proibido (os guarani utilizam cachimbos nesses tratamentos) e onde deve predominar o silêncio, o tratamento pelas tradições indígenas ficava prejudicado. Agora, os índios têm uma sala privativa, com espaço para até três leitos e banheiro.

No local, após os médicos examinarem os índios e fazerem o tratamento necessário, se o pajé desejar, poderão ser feitos rituais de cura com cachimbo, orações e ervas. A ideia é que, com a união da medicina e da fé, o reestabelecimento do paciente ocorra de forma plena.

– Já atendíamos os índios. Agora, terão um local separado para cultuar as tradições. No local, serão livres para exercer o ritual de cura que aprenderam com os antepassados – diz o diretor da associação, Inácio Müller.

A conquista foi recebida com alegria pelo cacique Ariel Ortega, já que os cerimoniais de cura próprios da cultura guarani não poderiam ser exercidos, não fosse a intermediação do MPF e acordo com o hospital.

– Quando temos febre, gripe e outras doenças vamos ao hospital, mas o homem branco cuida do corpo, nós da alma – diz Ortega. Segundo o chefe da Secretaria da Saúde Indígena (Sesai) Jair Pereira Martins, não há precedentes de acordo semelhante.

Para o presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremers), Fernando Weber Matos, o apoio espiritual e emocional do povo indígena pode ser um complemento à medicina tradicional.