17 Março 2011
Um economista britânico em Cingapura diz que a sucessão de crises no Japão terá um efeito global como nenhum outro evento desde o 11 de Setembro.
A reportagem é de Mike Littwin, colunista do “The Denver Post”, publicada pelo The New York Times, e reproduzida pelo Portal Uol, 18-03-2011.
Um cientista nuclear americano coloca a crise em algum ponto além de Three Mile Island, mas bem abaixo de Tchernobyl. Ao ser perguntado sobre qual seria o pior cenário, ele se recusa a responder. Enquanto isso, um apresentador anuncia que a estrutura de contenção primária do reator Nº 3 da usina de Fukushima Daiichi está danificada.
O chefe de energia da União Europeia, Guenther Oettinger, diz que a situação está fora de controle. “Nós estamos em algum ponto entre um desastre e um grande desastre”, ele diz ao Parlamento Europeu. Ele acrescenta: “Fala-se em um apocalipse e eu acho que a palavra é particularmente bem escolhida”.
Um executivo de petróleo de Tóquio fala sobre como a vida mudou desde o terremoto e tsunami. Como as notícias lançaram uma nuvem sobre todo o Japão, como a agitação das luzes de Tóquio perdeu o brilho, de como a imagem que não consegue tirar de sua cabeça é do pequeno bar de sushi que certa vez visitou em uma viagem de negócios ao norte, a surpresa do lugar e a quase certeza de que agora está perdido para sempre para a ferocidade do tsunami.
Em meio às histórias de perda, há a história de 50 trabalhadores –50 heróis– que ficaram na usina nuclear para combater a crise, espalhando água sobre as barras aquecidas, arriscando sua saúde, talvez suas vidas, no processo.
O imperador, pela primeira vez, vai à TV para dizer às pessoas que está “muito preocupado” com os riscos apresentados pela usina nuclear.
Nos Estados Unidos, nós não conseguimos ficar longe da TV. Nós assistimos e enviamos nossos cheques para a Cruz Vermelha, nos emocionamos com a história do idoso que foi resgatado e conversamos sobre fusão nuclear, sem saber o que fusão significa de fato ou o que poderia significar.
TVs por toda parte estão sintonizadas na “CNN” para o mais recente vídeo da onda gigante arrastando carros, arremessando embarcações de lado, tomando terras e vidas com uma força que não parece real, enquanto pessoas buscavam desesperadamente um terreno elevado em uma parte do Japão onde não há nenhum terreno elevado.
Nós assistimos um homem contar a história de como entrou em seu carro e literalmente correu mais do que a onda. Ele disse que foi como algo saído de um filme, mas que filme ousaria nos dar um terremoto, tsunami e uma fusão de núcleo de reator nuclear?
É ordenada a evacuação dos moradores em um raio de 19 quilômetros da usina de Fukushima. As notícias do governo parecem mudar de hora em hora. E Gregory Jaczko, presidente da Comissão Reguladora Nuclear dos Estados Unidos, diz ao Congresso que os japoneses subestimaram o risco e diz aos americanos que o perímetro de exclusão deve ser de 80 quilômetros.
Na Rádio Pública Nacional, dois ambientalistas discutem o futuro da energia nuclear nos Estados Unidos. Um diz que o carvão causa muito mais mortes e que a energia nuclear é a melhor ponte possível para o uso de energia renovável. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a poluição do ar causa 2 milhões de mortes prematuras por ano. Mas a crise japonesa nos trás de volta à pergunta: quão ruim é o pior cenário?
Enquanto isso, os republicanos da Comissão de Energia e Comércio da Câmara votam contra uma emenda ao projeto de lei que limita a ação da Agência de Proteção Ambiental contra as emissões de gases do efeito estufa –uma emenda dizendo que “o aquecimento do clima é inequívoco”.
Enquanto assistimos o Japão, nós debatemos nos Estados Unidos quanto risco podemos tolerar. Nós vemos o Japão, tão preparado quanto qualquer país, em crise. Mas fazemos políticas baseadas em uma tempestade que ocorre a cada 100 anos, em um cataclisma que ocorre a cada 100 anos? Nós já vimos o pior cenário?
Eu estava em San Francisco no terremoto de 1989. Ele foi grande – registrando 6,9 – mas não o grandão, nem mesmo tão grande quanto o terremoto no Japão – o quarto maior em um século. Não é do tremor que me lembro. É da viagem de volta ao hotel, em uma cidade às escuras, com policiais nas ruas com lanternas, incêndios queimando ao longe. Eles nos abrigaram em um salão de baile no andar de baixo –os quartos estavam cheios de vidro– e o gerador de apoio nos permitia assistir TV e a “CNN” mostrando, repetidas vezes, um carro caindo de um trecho que ruiu da Bay Bridge. Eu tinha cruzado aquela ponte naquela manhã.
Simon Winchester – que escreveu um livro fascinante sobre Krakatoa, o vulcão perto de Java que causou um tsunami catastrófico no século XIX – tem um artigo na “Newsweek” sobre terremotos no Pacífico. Ele escreve sobre como o chamado anel de fogo do Pacífico passou por terremotos imensos em três cantos –Chile, Nova Zelândia e Japão– e que a Califórnia pode ser a próxima.
Não é uma previsão. Não é exatamente um alerta, mas um lembrete de Winchester da lição que aprendemos, reaprendemos e aprendemos de novo –“que a humanidade habita esta terra sujeita a um consentimento geológico –que pode ser retirado a qualquer momento”.
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Quanto risco podemos tolerar em desastres naturais? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU